domingo, novembro 30, 2003

Sintonia:

E hoje o dia acordou dizendo-me: - Bom dia Maria.
E mil vozes se ouviram no eco desta saudação.
Os meus mais queridos amigos estavam lá, todos, em sintonia.
Para eles um grande obrigada.

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  • Falta o quase: Estou quase de volta. Me aguardem!

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  • Saltitando: Nos braços dos sorrisos de amigos, saltito como libelinha de nenúfar em nenúfar.

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  • Big Brother (remoinhos): As reacções ao post anterior foram tantas que resolvi publicar dois comentários que se interligam perfeitamente. Ambos contrariam a tese de que o Big Brother - não o da Venda do Pinheiro, apresentado pela Teresa Guilherme, mas o arsenal de câmaras de vídeo em cada recanto - é um fenómeno carregado de consequências negativas. O meu desabafo apenas se depreendeu com a impessoalidade gerada pelo controlo excessivo daquelas máquinas. Mas se há cada vez mais controlos apertados, isso deve-se à onda de violência e de insegurança que varre o mundo. O GoldRiver, companheiro de há muitos anos e um dos meus melhores amigos, destapou a ponta do véu, a Valentina fez o resto. Aqui vai:

    Echelon. Carnivore. Global Hawk. EP-3E ARIES. RIP Act. HumanID. Já ouviram falar? Continuam a surgir novas leis e tecnologias de segurança para intercepção de comunicações e de dados pessoais. O Grande Irmão vela pela nossa segurança, muitas vezes sem o nosso conhecimento e nem sempre com cobertura legal. O 11 de Setembro serve de pretexto para o abandono da defesa dos direitos individuais conquistados pelos povos. A isto acresce, como lembrou a Valentina *, todos os cartões e dispositivos electrónicos que já entraram no nosso dia a dia e usamos de forma natural e inconsciente... Nem nos ocorre que é possível descobrir a nossa localização através dos sinais do telemóvel. Embora seja proibido pela Constituição já existe um projecto de Número Único em Portugal, o que aparentemente é cómodo e prático - pois permitiria reduzir o volume de cartões que nos enche a carteira, mas ao mesmo tempo permite aceder instantaneamente a todas as informações sobre o cidadão: civil, criminal, fiscal, segurança social, saúde, etc. Funcionários de bancos, finanças, segurança social, médicos, advogados, padres, polícias, etc. sempre detiveram um parcela das nossas vidas, aparentemente segura graças ao dever de sigilo profissional, mas será mesmo assim? Este é um fenómeno mundial: as faces de todos os espectadores da final de futebol americano (Super Bowl) foram comparadas com uma base de dados de criminosos através de computador; Em Inglaterra o Governo anunciou que em breve terá 2 milhões de câmaras no país. Na linha de Sintra, sucedem-se os relatos de grupos que roubam, agridem e provocam. Aqui a videovigilância pode ser uma solução... Quem não deve não teme. Certo? GoldRiver

    * E não são só as câmaras. Existem outras formas de seguirem os nossos passos... lembrei-me agora dos novos bilhetes electrónicos do metro, ou da via verde que regista a passagem nas portagens, ou o próprio uso de um cartão multibanco. Valentina

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  • sábado, novembro 29, 2003

    Big Brother: Não vou falar da Teresa Guilherme nem da lendária casa na Venda do Pinheiro, o pico de interesse de algumas famílias portuguesas, mas do mito operado pela criação de George Orwell, autor do sempre actual livro «1984». Na década de 40 do século passado, este escritor teve uma espécie de visão - embora inconsciente - daquilo que seria o futuro: uma sociedade cravejada de câmaras e inspeccionada por uma entidade acima de todas as outras. Na prática, é o que acontece hoje. Nunca como agora as câmaras de vídeo têm uma função tão controladora dos nossos movimentos. Seja no centro comercial, na repartição do banco, no café (sim, eu já vi câmaras em cafés) ou até na farmácia. Ou seja, estamos a ser constantemente vigiados por alguém que não conhecemos, que nos avalia e que tira sucessivos juízos de valor de todos os nossos comportamentos. Somos personagens de consumo interno, o que não deixa de ser preocupante. A privacidade dilui-se e transforma-se num conceito gasto, ao alcance de um simples olhar. O mito do Big Brother é mais do que uma mera produção fictícia. É real.

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  • quinta-feira, novembro 27, 2003

    O império dos sentidos: Uma amiga minha (eu sei que ela costuma ler este blog, não é assim cara doutora?) uma vez contou-me uma história deliciosa: num piquenique de família, o filho dela não escolheu o prato que iria comer pela cor ou pela forma. Escolheu-o pelo cheiro. Para qualquer um de nós, isto pode parecer a mais pura das anormalidades, mas para mim é apenas mais um sinal de como o olfacto é um dos sentidos mais poderosos do ser humano. Até se pode traçar o perfil das pessoas pelo cheiro que deixam no ar seja em que sítio for. Costumo fazer um exercício curioso e tenho rótulos para quase todos. Por exemplo, os excessivamente perfumados - aqueles que até infestam o elevador mesmo depois de dobrarem a esquina - gostam de dar uma imagem daquilo que não são; esses mesmos excessivamente perfumados e amantes dos cheiros fortes andam sempre em conflito com eles mesmos e têm montes de problemas; os que cheiram mal não gostam deles próprios, dão uma imagem de indiferença, mas às vezes são muito inteligentes; os que não têm cheiro, aqueles que passam na rua e nada deixam no ar, são os mais interessantes de todos. São eles próprios. São extremamente misteriosos.

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  • quarta-feira, novembro 26, 2003

    Uma luta a cadeado: Nos últimos tempos, as lutas estudantis têm sido feitas com a preciosa ajuda do cadeado, esse objecto que significa a opressão e o corte umbilical com a liberdade. Fecham-se as escolas, barra-se a entrada, fecha-se o portão a cadeado (repito, fecha-se o portão a cadeado) e faz-se barulho junto das autoridades. Há aqui um grande contra-senso: uma luta é uma espécie de grito pela liberdade, resume a revolta em sentido puro pela necessidade de mudança; de ruptura; de corte com o passado. O cadeado é a antítese perfeita de todos estes valores. Está numa posição completamente oposta. É o grande sinal de fraqueza por parte dos nossos estudantes. Fazer uma greve com o portão da escola fechado a cadeado é sinónimo de medo, medo de que a revolta não seja tão massiva como se pensa. E uma luta não pode ser feita sob o medo de nada.

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  • terça-feira, novembro 25, 2003

    A cobardia dos homens: Eu bicho homem (não é, Maria?) escrevo em nome da espécie: regra geral, os homens são mais cobardes do que as mulheres; regra geral, os homens têm mais medo do que as mulheres. Não estou a escrever por escrever, não estou a afogar palavras por afogar nem sequer a partilhar experiências. Também não estou a denegrir a imagem do homem. Estou a ser realista. Estou a dizer aquilo que penso, porque tenho liberdade para isso. A estatística ajuda-me: no ano passado, o Relatório de Segurança Interna registou 12.221 casos de mulheres que foram vítimas de violência doméstica. Como homem, sinto vergonha de pertencer à classe.

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  • O mundo é pequeno: Os violentos ataques terroristas na Turquia levaram-me a entrar em contacto com o meu amigo turco Murat Agca, mas ontem tive mais uma demonstração de como o mundo, esse gigante a olho nu, pode ser tão pequeno como uma formiga. Mais do que isso, senti que o post «Onde estão todos?» (vide 22 de Novembro) fez ainda mais sentido e mostrou-me o lado mais romântico do fenómeno encontros-e-desencontros. Andava a navegar no ciberespaço, neste lato caminho em direcção ao desconhecido, quando descobri este blog, cujo nome do autor depressa me esboçou um par de sorrisos. Para além de reencontrar um velho amigo brasileiro, descobri porque temos andado tanto tempo em silêncio. Não é Gustavo?

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  • CARTA AO NETO:

    «Meu neto,

    Pelo que você já me disse com o seu sotaque de anjo, percebo que você me considera uma criança grandona e desajeitada, e me acha, mesmo assim, seu melhor companheiro de brinquedos.
    Pena que tenhamos tão pouco tempo para brincar, tão pouco porque só sei brincar de passado, e você só sabe brincar de futuro.
    E ainda estarei brincando de recordação quando você começar a brincar de esperança.
    Mas antes que termine o nosso recreio juntos, antes que eu me torne apenas um retrato na parede, uma referência do meu genro, ou quem sabe até uma lágrima de minha filha, quero lhe dizer meu neto, que vale a pena.
    Vale a pena crescer e estudar.
    Vale a pena conhecer pessoas, ter namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções, e a despeito de tudo isso, foi por causa de tudo isso, ir renovando todos os dias a sua fé e a bondade essencial da criatura humana, e o seu deslumbramento diante da vida.
    Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga sua recompensa; que não há livro que não traga ensinamentos; que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar; que se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto com a vida do ignorante.
    Vale a pena casar e ter filhos.
    Filhos, que nos escravizaram com o seu amor.
    Vale a pena viver nesses assombrosos tempos modernos, em que milagres acontecem ao virar de um botão; em que se pode telefonar da Terra para a Lua; lançar sondas espaciais, máquinas pensantes à fronteira de outros mundos, e descobrir na humildade que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar um segundo sequer a chegada da primavera.
    Vale a pena meu neto, mesmo quando você descobrir que tudo isso que estou tentando ensinar é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática, e cada um tem que aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre amarga, que o espinho fere, e que o pessimismo não resolve rigorosamente nada.
    Vale a pena, até mesmo, envelhecer como eu e ter um neto como você, que me devolveu a infância.
    Vale a pena, ainda que eu parta cedo e a sua lembrança de mim se torne vaga.
    Mas, quando os outros disserem coisas boas de seus avós, quero que você diga de mim simplesmente isso:
    "Meu avô foi aquele que me disse que valia a pena.
    E não é que ele tinha razão!"»

    (Flávio Cavalcante)

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  • segunda-feira, novembro 24, 2003

    Inspiração:

    «Qualquer pessoa pode aprender a ser um bom orador,
    mas quantos vivem de uma maneira que outros possam aprender?
    Hoje em dia as pessoas estão cansadas de ouvir
    discursos, elas querem ver a aplicação prática do
    sentido das palavras. Se não agimos de acordo com
    o que falamos, o objetivo não é alcançado.
    A mensagem perde o poder quando não espelha o
    comportamento do orador. É a coerência entre as
    palavras e as ações que torna alguém uma fonte de inspiração.»

    (Brahma Kumaris)

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  • O choro e as palmas das mães: A onda de atentados na Turquia faz levantar muitas questões no barril de pólvora que é o Médio Oriente, mas os perigos reais vindos daquele lado do globo resumem-se aos comportamentos das mães para com os seus próprios filhos. Enquanto para nós, risonhos ocidentais, a vida é o bem mais precioso que temos ao alcance dos nossos dedos, para os árabes é apenas uma etapa de uma existência que vai muito para além do que se passa no plano terreno. O exemplo das mães, quanto a mim, diz tudo. Ou resume tudo. Enquanto no Ocidente uma mãe chora a morte de um filho, ou faz tudo por tudo para adiar o seu próprio fim, no Médio Oriente aqueles que morrem em defesa de uma causa são considerados mártires e consequentemente heróis. As mães batem palmas ao estoicismo dos filhos. Esta diferença de encarar o fim de uma vida é uma das maiores ameaças para o mundo ocidental.

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  • Perigos reais, 2: O cancro no pulmão é o primeiro efeito associado ao elevado consumo de tabaco, mas há outros factores de risco que implicam consequências nefastas para qualquer ser humano, independentemente do sexo e da idade. Por exemplo, o excesso de nicotina também provoca má circulação sanguínea no corpo humano e pode levar à amputação dos membros inferiores (e também superiores, embora seja em menor escala) devido à formação de gangrenas. Mais do que todas as palavras e explicações científicas, esta poderosa imagem fala por si. Foi colocada a circular no Brasil em muitos maços de tabaco e serve de prevenção antes que se corram mais riscos...

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  • domingo, novembro 23, 2003

    Contrastes: Às vezes, precisava de andar mais tempo com a cabeça na lua e menos tempo com os pés no chão. Talvez por isso, atravesso uma fase de menor inspiração...

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  • Quem disse… quem escreveu?:

    «Se você quer muito alguma coisa, deixe-a livre.
    Se ela voltar será sua para sempre, se não, é porque nunca foi sua de verdade.
    A liberdade é o espaço que a felicidade precisa.»

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  • O peso dos «mundos»: Olhamos em redor e nem nos damos conta do peso dos «mundos» vizinhos ao nosso.
    Se observarmos com atenção os olhos das pessoas com quem falamos, não é nada difícil ler as entrelinhas da voz de cada olhar.
    Apercebi-me, ainda há pouco, exactamente disso.
    Já na última vez que tinha falado com a Angelina, as suas breves palavras deixaram a pairar no ar uma doce-amarga sensação de desamparo que o meu inconsciente registou.
    Há pouco, quando a fui saudar, o mesmo olhar perdido ela me estendeu e num repente a minha mente adivinhou a situação dessa doce criatura. Sem nada lhe perguntar, disse: - Já falta pouco, Angelina. O dia 17 vai chegar num instante. Não quero ver esse entristecimento no seu olhar.
    Foi quanto bastou, esta minha frase, para que a Angelina me desfiasse o rosário do seu mundo. Mundo pesado o dela, senti. Com palavras de forte convicção e alento, atenuei, por segundos, a carga que aquela mulher - vazia de afectos recebidos mas não desconhecendo o valor deles - carrega nos seus ombros.
    Um ditado popular, diz: “Dá Deus o frio conforme a roupa”. Concluo: Ando sempre vestida com roupa de verão.

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  • sábado, novembro 22, 2003

    Turquia, o medo global: Quando Istambul se transformou em mais um alvo terrorista da Al-Qaeda, lembrei-me do meu amigo Murat Agca. É turco, vive e trabalha no coração daquela cidade e tem um generoso sentido de humor. Na quinta-feira, aquele nome invadiu-me o pensamento quase todas as horas: Murat, Murat, Murat... Era impossível fazer ligações telefónicas para a Turquia, as linhas estavam saturadas, as ligações caíam a qualquer instante. Ontem, ouvi a sua voz. Senti como aquele país vive em pânico, amedrontado e atónito perante a mais cruel de todas as ameaças. Morreram 27 pessoas, 450 ficaram feridas. É difícil definir o medo. «Já não temos medo do que aconteceu ontem. Temos medo, isso sim, do que possa acontecer amanhã», explicou-me ele. «Mas a vida continua. Temos de sair de casa, todos os dias, para ir trabalhar. Temos de seguir em frente.» Murat, provavelmente não compreendes isto, mas também nós temos medo. Nós que vivemos neste cantinho. O teu medo é o medo de toda a gente. Hoje, o medo já é global...

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  • Pensamentos:

    "A solidão me deixa adulto, o amor me faz criança."

    "Hoje não te quero triste, na verdade, só te quero."

    "Acordei feliz, sua imagem tomou forma em meu sonho."

    "Quando quiser saber do meu amor, olhe nos meus olhos."

    "Mulher, enquanto fui semente, você já era amor."


    (By Caio Lucas)

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  • Onde estão todos?: Às vezes, aquilo que queremos que aconteça, não acontece. É quase de propósito, uma espécie de desafio, de braço-de-ferro invisível entre nós e o destino. Dou por mim a pensar: há rostos que me dizem muito, pessoas que marcaram a minha vida ao longo dos anos, mas fui perdendo esses rostos, algumas dessas vozes. Não sei onde estão, o que fazem, onde vivem. São amigos que desapareceram, colegas de curso que evaporaram, companheiros do liceu que se espalharam pelos recantos desta cidade, ou de uma outra cidade qualquer. Mesmo nos sítios mais infestados de gente, onde meio mundo gosta de ir às compras, olho atentamente para ver se encontro alguém que me diga algo, alguém que conheci em tempos. Mas nada. Às vezes, penso: onde está o fulano, o que é feito de sicrano. Sei os nomes, jamais esquecerei aqueles rostos, lembro-me de todos os episódios, mas perdi todos os contactos. Olho em volta. Mas nada. Há alturas que quem não quero ver, que quem não quero ouvir, se cerca do meu caminho. Há pessoas que deviam desaparecer do mapa, mas esses aparecem sempre. Estão em todo o lado, preenchem o nosso dia-a-dia. É por ti que estou a chamar, onde andas Patrícia?

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  • sexta-feira, novembro 21, 2003

    A ti, Sónia:

    «Apareceu uma camioneta carregada de gaiolas a espantar cabritos na poeirada do horizonte, e o alvoroço dos pássaros foi um jorro de água fresca na modorra dominical de San Miguel del Desierto. Ao volante vinha um corpulento lavrador holandês de pele sulcada pelas intempéries e uns bigodes cor de esquilo que teria herdado de algum bisavô. O seu filho Ulises, que viajava no outro banco, era um adolescente dourado, de olhos marítimos e solitários, e com a identidade de um anjo furtivo. A atenção do holandês foi atraída por uma tenda de campanha diante da qual esperavam vez todos os soldados da guarnição local. Estavam sentados no chão, bebendo de uma mesma garrafa que passavam de boca em boca, e tinham ramos de amendoeira na cabeça como se estivessem emboscados para um combate. O holandês perguntou na sua língua:
    - Que raio é que venderão aqui?
    - Uma mulher – respondeu-lhe o filho com toda a naturalidade. – Chama-se Eréndira.
    - Como o sabes?
    - Toda a gente sabe isso no deserto – respondeu Ulises. (…)»

    [Gabriel García Márquez, in A Incrível e Triste História da Cândida Eréndira e da sua Avó Desalmada. Quetzal Editores, p. 96]

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  • quinta-feira, novembro 20, 2003

    Milagres: Há uma santa que chora e o povo depressa passou a venerar o fenómeno como sendo um milagre divino. Houve até quem fizesse associações: «Ela começou a chorar no dia em que a minha neta saiu do hospital. Só pode ser milagre». A partir daí, aquela imagem transformou-se num alvo de culto sagrado. «Tenho 53 anos e nunca vi nada assim...», respondeu um homem. Ninguém se acredita na explicação técnica: o busto da santa é em cera e o calor natural provocado por qualquer ambiente leva a que a cera se derreta na zona dos olhos. O povo não acredita. Tudo isto vem a propósito de alguma coisa. O senso-comum leva-nos a interiorizar só uma parte da verdade. Nunca nos podemos guiar só por aquilo que os nossos olhos lêem. Isto acontece no dia-a-dia, em que nos deixamos contagiar pelas aparências dos outros. Quantas vezes nos disseram que determinada pessoa tem mau carácter e não nos acreditamos?

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  • Escrita, 3:

    A escrita é o testemunho inconfessado.

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  • Escrita, 2:

    A escrita é a vanglória do nosso julgamento.

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  • Escrita,1:

    A escrita é o raciocínio da existência e do saber.

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  • quarta-feira, novembro 19, 2003

    Medo: «A vida tem-me corrido tão bem que até tenho medo», disse alguém na televisão de forma preocupada. Há várias formas de ter medo e esta é das mais terríveis para quem é realmente feliz. Porque um dos mistérios desta vida é o que vem a seguir a este momento, os dias que se aproximam, os meses, os anos, em suma, o desconhecido que mora em cada recanto da nossa existência. É este enigma, esta espécie de corda bamba, que faz da vida algo de muito interessante. Mesmo que se tenha medo...

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  • Vigília, 2:

    "(…)
    Por mim, era uma hipótese que não me apetecia pôr de parte. Por que não, dizia eu, lembras-te?, pensa bem: A Praça Vermelha à noite vista daquele hotel enorme que a Aeroflot coloca à disposição dos turistas que têm de pernoitar em Moscovo, é Outono, em Moscovo já está frio, a place rouge estará deserta como a canção de Gilbert Bécaud, eu trato-te por Natalie, descemos de um táxi que na União Soviética parecem autênticas limusinas de chefe de Estado, li eu não sei onde, no restaurante do hotel oferecem-nos caviar de esturjão do Volga, talvez os candeeiros estejam um pouco envoltos em neblina, como nos romances de Puchkin, e verás que é bonito, tenho a certeza, podemos ir também ao Bolschoi, que é visita obrigatória quando se vai a Moscovo, e se calhar até vemos o Lago dos Cisnes.
    (…)"

    [Antonio Tabucchi, in Está a fazer-se cada vez mais tarde, p. 136]

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  • Vigília,1:

    "(...)
    A algazarra inesperada não perturbou Beremiz. Inteiramente alheio aos acontecimentos da rua, continuou, como se achava, a traçar, com um pedaço de carvão, figuras geométricas numa grande prancha de madeira. Extraordinário, aquele homem! As agitações mais graves, o perigo, as ameaças dos poderosos não conseguiam desviá-lo dos seus estudos matemáticos. Se Asrail, o Anjo da Morte, surgisse ali, de repente, trazendo na lâmina do candjar a sentença do irremediável, ele continuaria impassível a traçar curvas, ângulos, e a estudar as propriedades das figuras, das relações e dos números.
    (…)"


    [Malba Tahan, in O Homem que Sabia contar, p. 127]

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  • terça-feira, novembro 18, 2003

    Quem me explica?: Por que será que quando uma mulher está tristonha e decide ir comprar uns "trapinhos", volta sempre com um astral mais elevado?
    Confesso que não sei.

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  • Perigos reais, 1: Um fumador pode ter os pulmões como esta imagem ilustra: negros e com um aspecto pouco saudável. Por isso, o risco de um viciado contrair cancro no pulmão é bastante elevado por causa do alcatrão e da nicotina presente no tabaco. É possível quantificar a probabilidade de cancro broncopulmonar: basta multiplicar a quantidade de maços fumados por dia por metade do número de anos que se fumou. Os que fumam um maço por dia durante 40 anos, ou dois durante 20 anos, fazem parte de um grupo de alto risco. As probabilidades de cancro no pulmão é 20 vezes superior àqueles que não fumam. Mas até os pequenos fumadores correm perigos. Os que fumam dez cigarros por dia podem contrair cancro pulmonar multiplicado por cinco. Os números dizem tudo: o tabaco é responsável por 90 por cento dos casos de cancro do pulmão, a primeira causa de morte por cancro nos homens e a segunda na mulher, depois do cancro da mama.

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  • Como se faz e não como se pensa: Quase todos nós dizemos que as aulas no ensino superior têm uma grande componente teórica e o mínimo dos mínimos no que diz respeito à prática. Por isso quando um jovem chega ao mercado de trabalho, sente dificuldades extremas para se integrar num meio em que a maneira como se faz (e não a maneira como se pensa) está na base de toda a diferença. Não é só quem traça os programas curriculares que tem culpas no cartório. Muitas vezes, o problema começa e acaba nos nossos professores, sem a noção do que é a prática daquilo que ensinam. Há casos e casos de jovens docentes que leccionam no ensino superior e nunca na vida exerceram a profissão para a qual estudaram durante anos a fio. Obviamente porque o mercado de trabalho está saturado e as dificuldades em conseguir colocação são gritantes, mas, às vezes, os motivos são outros. Vêem no ensino o caminho mais curto para o sucesso. Mas que tipo de experiência estes professores podem transmitir aos alunos?

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  • segunda-feira, novembro 17, 2003

    História verídica: Naquele sábado à tarde esmagou nos dedos um maço de tabaco. Não se importou com mais nada. Limitou-se a canalizar todas as energias na mão direita e encolheu 20 cigarros da forma mais selvagem e agressiva. Estava farto. Já não suportava aquela dor no peito, já não tinha paciência para aguentar aquele sufoco que lhe cortava a respiração todas as horas. À tarde, foi ao hospital e ficou internado. O mundo caiu-lhe em cima dos ombros. Ele que sempre teve saúde, que sempre foi um exemplo de perfeição. Sentiu-se desolado e perdido no mundo. Mas estava disposto a vencer aquela batalha.

    Por indicação médica, passou o Natal junto da família, mas foi obrigado a ficar no hospital durante o Ano Novo. Os médicos nunca lhe disseram a verdade: 40 anos de consumo compulsivo de tabaco foram suficientes para a propagação de cancro no pulmão. Aos poucos foi melhorando, a falta de ar foi passando, depressa recuperou o apetite e seis meses depois cumpriu a mais dolorosa de todas as batalhas. Fez sessões de quimioterapia, perdeu o cabelo, emagreceu mas estava disposto a viver. Nunca mais fumou desde aquele dia em que se viu fechado numa enfermaria e desconfiou que algo de mal estava a acontecer.

    Depois, viveu como nunca. Quase rejuvenesceu. Tinha apetite, a pele ganhou uma cor rosada, não se sentia doente e o corpo respondia a todas as provocações da alma. Era Verão. Saía de casa ao domingo de manhã e só regressava à noite. Sentia-se capaz de tudo e mais alguma coisa. Chegou o mês de Setembro. Veio o Outono e o corpo começou a enfraquecer como um castelo de areia que vai acusando a erosão do tempo. Perdeu as forças, sentiu uma terrível dor de cabeça que não passava à custa de nada. Tomava analgésicos, chegou a colocar rodelas de batata na testa, mas nada lhe valia para atenuar aquelas dores angustiantes.

    Os dias passavam e a sua debilitação era assustadora. A falta de ar regressou, as forças fugiam-lhe das pernas e dos braços e só terminou na cama por entre lençóis que se iam tornando pesados à medida que o tempo esvoaçava. Já não suportava mais nada. Deixou de falar, refugiou-se no silêncio, enquanto a respiração era cada vez mais ofegante. Vi-o no dia em que morreu: olhos abertos, boca escancarada. Nem uma palavra. Um homem a combater a morte, embrulhado no sofrimento, cercado de angústias, corroído pela dor constante num corpo retalhado e ferido. Um homem vergado à doença, humilhado pelo cancro e com os pulmões desfeitos pelo vício do tabaco. À noite, morreu.

    Para mim, foi um privilégio enorme ver todo aquele sofrimento antes do seu último suspiro. Ainda me despedi dele em vida. Esta história é real, aconteceu há 13 anos e pode funcionar como alerta para aqueles que fumam. Porque hoje é o dia do não fumador.

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  • Mesmo que já gastos:
    Devolve-me o sorriso quente que bailava nos meus lábios em dias de sol morno como o de hoje.
    Devolve-me a força que estampava no meu olhar sempre que te sabia por perto.
    Devolve-me as gargalhadas sonantes que te ofereci graciosamente e sem cobranças.
    Com tudo isso reinventarei uma nova dádiva.

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  • Outono, 5: Hoje já não sei mais nada. Quando foste embora sem dizer uma única palavra. O calendário diz que ainda estamos no Outono, mas desconfio. De ti e de todas as vozes que me chegam. Cada dia que passa, cada hora que avança como se fosse a primeira hora de todas as horas, belisca-me um frio húmido vindo das entranhas do mar. O sol apaga-se por entre a linha do horizonte e só me apetece continuar aqui, sozinho, de livro na mão, a mergulhar naquelas tardes de Verão em que partilhávamos segredos dentro daquele quarto. Está frio. Todos os dias, invade-me a mesma dúvida: O que hei-de vestir? Vou levar guarda-chuva? A gabardina fica dentro do armário? Continuo aqui, a ler. Não há palavras para mais nada...

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  • domingo, novembro 16, 2003

    Caleidoscópio: Olhando ao meu redor desperto para os objectos e cores que habitam o pequeno espaço que rodeia a secretária do meu computador.
    E, vendo bem, todos eles são muito fortes e muito interferentes.
    Numa parede uma gravura em tons pastel emoldura as estreitas e sinuosas escadinhas de pedra em calçada à portuguesa, do bairro lisboeta onde nasci, típicas dos mais tradicionais bairros desta cidade das sete colinas.
    O cheiro a café torrado envolve esta gravura como um arquivo indestrutível da minha infância.
    Mesmo em frente dos meus olhos uma fotografia recente - pincelada de verão em tons de amarelo vivo representado nas almofadas das cadeiras de uma esplanada - onde um sorvete comido vagarosamente é o centro da acção.
    Algumas velas de cheiro espalhadas pelos cantinhos mais livres acentuam o ambiente de um templo que se pretende que seja este refúgio.
    Um pequeno barómetro centenário, feito em bronze, permite avaliar as variações da pressão atmosférica reais e imaginárias.
    O melhor de tudo vem agora.
    Os inúmeros livros ao alcance de um braço estendido colocados quer em prateleiras de uma estante, quer em pequenas mesas de apoio ao redor da secretária, e alguns, mesmo, intencionalmente deixados no chão, aprisionam em círculo este espaço, sem começo nem fim, com toda a animação e o alvoroço que lhe imprimo e onde diariamente me permito meditar, dialogar e questionar, expandindo a minha existência ao rodopiar, incessantemente, este caleidoscópio recheado de uma mão-cheia de vida.

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  • Quem ignora vive feliz: Confrontando-me com o mundo da blogosfera sinto que é muito fácil perder-me nele e não encontrar a minha própria saída.

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  • Uma cor?: A RTP está a transmitir em directo a cerimónia de inauguração da zona circundante ao novíssimo Estádio do Dragão. O jornalista pergunta às pessoas qual é a sua cor preferida. Resposta pronta: azul e branco. Há aqui qualquer coisa que não está bem. Não vos parece?

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  • A pior lição de guerra: Carlos Raleiras, jornalista da TSF, já foi libertado pelos raptores iraquianos. Terminou o susto, a dor e a angústia de quem passou momentos marcantes, mas fica para a posteridade a pior lição de guerra que os órgãos de comunicação social deram. Não só por alguns jornalistas terem ligado para o telemóvel do refém, mas sobretudo porque os nossos repórteres vão para o campo de batalha sem a mínima preparação do que é estar numa zona de conflito. Em Portugal, a designação «repórter de guerra» não existe. É um conceito teórico. Está no papel. Os nossos jornalistas são pau para toda a obra: tão depressa estão no conforto da cadeira como avançam (por vontade própria) para as areias do deserto em busca de retratos reais. Na mochila levam meia dúzia de conceitos fornecidos por alguns filmes americanos e pouco mais. Ou seja, avançam para a guerra sem qualquer preparação específica sustentada em conhecimentos militares. Por isso, correm-se riscos e alguns deles sangrentos: Maria João Ruela, da SIC, por exemplo, foi ferida numa perna. Que tenha servido de emenda.

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  • sábado, novembro 15, 2003

    A vertigem da notícia: A vertigem da notícia leva a que muitos jornalistas se esqueçam de determinados princípios básicos no que diz respeito à ética e ao bom-senso. Carlos Raleiras, jornalista da TSF raptado no Iraque, tem recebido inúmeras chamadas telefónicas de colegas de profissão, que apenas querem recolher duas ou três palavras de circunstância para assim comporem uma peça o mais emocional possível. Porque as emoções vendem (e de que maneira) neste país. Mas há algo de muito importante que está a ser esquecido pela comunicação social portuguesa: o facto de ligarem, constantemente, para o telemóvel de Carlos Raleiras é uma forma de colocar em perigo a vida do repórter, mas também faz aumentar o nível de ansiedade de quem está a atravessar um mau bocado. Por um segundo, esqueçam a vertigem da notícia.

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  • Atentado terrorista?: De acordo com algumas notícias, a Al-Qaeda, organização terrorista liderada pelo conhecido Osama Bin Laden, prepara mais um atentado que irá chocar o mundo. A catástrofe pode acontecer dentro de dez dias e irá fazer 100 mil vítimas, segundo explicou Abu Salma Hijazi, dirigente da Al-Qaeda, em entrevista concedida ao jornal árabe «Al Hayat». Sinceramente, cheira-me a bluff.

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  • sexta-feira, novembro 14, 2003

    Viagem no tempo (novamente...): Muitas vezes, nem me apercebo que o tempo passa e é uma espécie de furacão que leva tudo à frente, às vezes faz estragos; outras nem por isso. É interessante como tudo passa a correr, as horas, os dias, as semanas e os meses. Quando era criança, tudo parecia mais estático, mais parado e a vida demorava uma eternidade a avançar como se fosse um barco à vela num dia de pouco vento. Esta semana, quando peguei nos tais jornais de 1978, cheguei à conclusão que tudo avançou muito depressa. Não dei pelo tempo, quase não detectei os caminhos que palmilhei ao longo da minha vida. Agora, estou aqui. Mas não sei como cheguei...

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  • Viagem no tempo: Obrigações profissionais levaram-me a consultar jornais antigos nos últimos dias. Ano: 1978. A primeira constatação óbvia de uma tarde bem passada: há 25 anos escrevia-se muito melhor do que hoje. Era uma escrita adulta, forte, com substância em que as palavras se encadeavam umas nas outras de forma fluída e muito poética. Já não há nacos de prosa assim. Tão sedutores que obrigavam o leitor a invadir o papel de uma ponta à outra e com a curiosidade típica de uma criança. Os tempos mudaram muito. Hoje escreve-se mal, as palavras são utilizadas sem gosto, quase sem cerimónia, como se fossem pessoas a entrar para o autocarro em hora de ponta. Os tempos mudaram muito, é verdade. Hoje já não há tempo para abrir um jornal do tamanho da mesa e mergulhar de cabeça em todos aqueles caracteres. Hoje pouca gente lê, infelizmente...

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  • Agora, sim: Tenho algum tempo livre pela frente. Vamos aproveitá-lo da melhor maneira possível. Mas não prometo como será para a semana...

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  • Às dezasseis horas e trinta minutos:

    Segredo

    A poesia é incomunicável.
    Fique torto no seu canto.
    Não ame.

    Ouço dizer que há tiroteio
    ao alcance do nosso corpo.
    É a revolução? o amor?
    Não diga nada.

    Tudo é possível, só eu impossível.
    O mar transborda de peixes.
    Há homens que andam no mar
    como se andassem na rua.
    Não conte.

    Suponha que um anjo de fogo
    varresse a face da terra
    e os homens sacrificados
    pedissem perdão.
    Não peça.


    (Carlos Drummond de Andrade)

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  • quinta-feira, novembro 13, 2003

    «Venham mais 5»: Hoje acordei com a felicidade instalada no olhar. Venham daí! Venham mais 5, 10, 15 ou 20. Venham todos os que quiserem.

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  • Quimera: Sabes, meu amigo… que por ti vivi momentos de exaltação. Pintei de cores vivas as nuvens mais carregadas. Ri em júbilo com o canto das cotovias. Declamei poemas de amor aos sete ventos. Dancei ao compasso das minhas incertezas e anseios. Ergui uma fortaleza com anjos feitos guardiães, e mais, e mais, e mais… e tudo não passou de uma quimera primaveril.

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  • Saudades adiadas: Em surdina disseste-me: saudades! Com ternura respondi: amanhã!
    O dia seguinte chegou sem ti.

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  • Em falta: Sim, tenho estado em falta. Os dias passam e a minha ausência neste sótão tem sido visível. Não desapareci do mapa, continuo presente mas também ausente. Afazeres múltiplos acumulam-se na secretária, assuntos pessoais crescem todas as horas e não tenho tempo para tudo. Nem para estar aqui, à frente do computador, a descarregar palavras, porque não posso fazê-lo de forma leviana. Tem de ser com emoção. Tem de partir de dentro. E, quando assim é, torna-se necessário ter tempo até para mim próprio. Não o tenho tido. Por isso, esta pausa por motivos de força maior. Dentro em breve, vou regressar. Preparem-se...

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  • quarta-feira, novembro 12, 2003

    Provérbio chinês:

    Aquele que não sabe
    e sabe que não sabe
    é humilde.
    Ajuda-o!


    Aquele que não sabe
    e pensa que sabe
    é ignorante.
    Evita-o!

    Aquele que sabe
    E pensa que não sabe
    Está dormindo.
    Desperta-o!

    Aquele que sabe
    e sabe que sabe
    é sábio!
    Siga-o.

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  • Do que se trata?:

    vá pisar outro
    está quase lá
    pise-me se for capaz
    UPS!!!
    cuidado (escada)
    é já ali
    siga-me (degrau)
    olá (esquina)
    surpresa
    UPS!!!
    está quase lá
    falta pouco
    vai no bom caminho
    mais um passo
    estava a ver
    que não
    chegava
    AQUI !

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  • Andanças: Fui às compras. Volto amanhã.

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  • Ai que crise…: Crise existencial? Não!
    “Crisite agudite” de trabalho, a que atravessa o meu parceiro deste Remoinhos neste momento.
    Actividades lúdicas e trabalho à séria quase nunca casam bem. Ciúmes, invejas, desconfianças, traições (estão a ver o filme, não estão?!), enfim… tudo aquilo que sabemos não trazer paz a um casal, é o que está a acontecer com o meu comparsa destas andanças.
    Como não sou madrugadora, escrita matinal não prometo.
    Lá pela noite dentro veremos. Torçam por mim.
    E… não fiquem “estracos” (esta palavrinha não é para ser plagiada. Só figura no meu dicionário pessoal e significa: embasbacado ou perplexo), com o que possa acontecer.

    Em meia dúzia de linhas, três palavras da minha invenção. Aceitem e não reclamem. Não me deixem "estraca", por favor.

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  • terça-feira, novembro 11, 2003

    A… prender:

    « APRENDER

    I

    Passo a minha mão pela tua cabeça,
    recurvadamente, atentamente, e só com dedos brandos,
    olhando-a como passa e vendo onde passou.

    Quero tanto saber o que tu pensas.

    II

    O que tu pensas, mas apenas como,
    e quando e o porquê, e não
    que estejas pensando ou não que a minha mão,
    atenta e recurvada, passa brandamente.

    Quero saber aquilo que nem sabes.

    III

    Aquilo que nem sabes – como saberias
    o que o pensar é antes de pensar-se?

    A mão que pousa e vai passar atenta.
    O olhar que espera ver passar o gesto.
    A tácita lembrança de volver os olhos.
    A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
    ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
    mas não na expectativa do arrepio prévio.

    IV

    Por que esperaste, ciente, a pele da minha mão? »

    (Jorge de Sena, 12/2/1954)

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  • Ai… ai… ai…: Crise de inspiração ou dose excessiva de leitura de outros blogs?
    (Não me dói nada a não ser os olhos).

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  • Felicidade's:


    «Le plaisir est le bonheur des fous. Le bonheur est le plaisir des sages.»
    (Barbey d’Aurevilly)

    «Le bonheur humain est composé de tant de pièces qu’il en manque toujours.»
    (Bossuet)

    «Le bonheur est une chose bizarre. Les gens qui ne l’ont jamais connu ne sont peut-être pas réellement malheureux.»
    (Louis Bromfield, Mrs. Parkington)

    «Nous ne sommes pas heureux, et le bonheur n’existe pas ; nous ne pouvons que le désirer.»
    (A. P. Tchekhov, Les trois Sœurs)


    (Karl Petit, Le Dictionnaire des Citations du Monde Entier)

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  • segunda-feira, novembro 10, 2003

    Felicidade: Todos nós passamos por momentos de tristeza, de menor euforia, de melancolia e de dor. É típico de qualquer ser humano ter alturas de grande frustração. No entanto, acho que todos nós temos uma tendência quase espontânea para só sentir as coisas más da vida. Acho que a felicidade não se sente. Raramente temos a percepção dela, raramente dizemos «hoje sinto-me feliz», raramente achamos que estamos alegres. O ser humano só sente falta das coisas que não tem. Só sente falta da felicidade quando não é feliz. Só sente falta do calor quando tem frio. Às vezes, somos imensamente felizes e não sabemos que o somos. Nem pensamos nisso.

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  • Telegrama:

    O TEMPORAL DE DOMINGO INUNDOU-ME OS PENSAMENTOS STOP PERDI O COMBOIO STOP AGUARDO QUE AS ÁGUAS SERENEM STOP VOLTO EM BREVE STOP NÃO ABANDONAREI ESTE BARCO STOP BEIJOS STOP

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  • Ainda os espíritos: Em Remoinhos me confesso, de forma aberta, sincera e muito prática: acredito em espíritos. Não somos só corpo, somos corpo e alma, um composto de dois elementos em combinação perfeita com a natureza. Quando «morremos» (esta palavra deve estar sempre entre aspas), há uma parte de nós que se mantém em suspenso no mundo, que se agarra à vida, que fica, que se prende ao que ficou para trás e que gosta de estar onde sempre esteve. Aqui. Neste espaço material. Neste mundo. Porque nada pode terminar em definitivo. Os meus olhos nunca visualizaram nada de anormal, também nunca senti coisas estranhas, mas acredito que há pessoas que têm capacidade para ver aquilo que ninguém vê, para sentir aquilo que ninguém sente. Acredito em espíritos. Sejam bons ou maus como há pessoas boas e más; sejam felizes ou infelizes como há gente alegre e triste. Tenho dito.

    PS, 1: Pela polémica que este tema produz, sei que este post pode ferir determinadas susceptibilidades. Quem concordar ou discordar com o aqui foi escrito tem sempre uma alternativa: extravasar aquilo que sente. Pode fazê-lo na caixa dos comentários ou então escrever no seu próprio blog. Seja em que situação for, terá sempre resposta.

    PS, 2: Este blog não está assombrado. Por isso, não se assuste.

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  • domingo, novembro 09, 2003

    Voltando ao grande poeta e cantor:

    «LE DERNIER REPAS»

    «A mon dernier repas
    Je veux voir mes frères
    Et mes chiens et mes chats
    Et le bord de la mer
    A mon dernier repas
    Je veux voir mes voisins
    Et puis quelques chinois
    En guise de cousins
    Et je veux qu'on y boive
    En plus du vin de messe
    De ce vin si joli
    Qu'on buvait en Arbois
    Je veux qu'on y dévore
    Après quelques soutanes
    Une poule faisanne
    Venue du Périgord
    Puis je veux qu'on m'emmène
    En haut de ma colline
    Voir les arbres dormir
    En refermant leurs bras
    Et puis je veux encore
    Lancer des pierres au ciel
    En criant Dieu est mort
    Une dernière fois
    A mon dernier repas
    Je veux voir mon âne
    Mes poules et mes oies
    Mes vaches et mes femmes
    A mon dernier repas
    Je veux voir ces drôlesses
    Dont je fus maître et roi
    Ou qui furent mes maîtresses
    Quand j'aurais dans la panse
    De quoi noyer la terre
    Je briserai mon verre
    Pour faire le silence
    Et chant'rai à tue-tête
    A la mort qui s'avance
    Les paillardes romances
    Qui font peur aux nonnettes
    Puis je veux qu'on m'emmène
    En haut de ma colline
    Voir le soir qui chemine
    Lentement vers la plaine
    Et là debout encore
    J'insult'rai les bourgeois
    Sans crainte et sans remords
    Une dernière fois.
    Après mon dernier r'pas
    Je veux que l'on s'en aille
    Qu'on finisse ripaille
    Ailleurs que sous mon toit
    Après mon dernier r'pas
    Je veux que l'on m'installe
    Assis seul comme un roi
    Accueillant ses vestales
    Dans ma pip'je brûlerai
    Mes souvenirs d'enfance
    Mes rêves inachevés
    Mes restes d'espérance
    Et je ne garderai
    Pour habiller mon âme
    Que l'idée d'un rosier
    Et qu'un prénom de femme
    Puis je regarderai
    Le haut de ma colline
    Qui dans' qui se devine
    Qui finit par sombrer
    Et dans l'odeur des fleurs
    Qui bientôt s'éteindra
    Je sais que j'aurai peur
    Une dernière fois.»

    (Jacques Brel)

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  • sábado, novembro 08, 2003

    Momento do Poeta:

    MAS QUE SEI EU

    Mas que sei eu das folhas no outono
    ao vento verozmente arremessadas
    quando eu passo pelas madrugadas
    tal como passaria qualquer dono?

    Eu sei que é vão o vento e lento o sono
    e acabam coisas mal principiadas
    no ínvio precipício das geadas
    que pressinto no meu fundo abandonado

    Nenhum súbito súbdito lamenta
    a dor de assim passar que me atormenta
    e me ergue no ar como outra folha

    qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
    As coisas vêm vão e são tão vãs
    como este olhar que ignoro que me olha

    (Ruy Belo)

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  • Neste instante: O rádio toca baixinho e abafa o silêncio desta noite tão igual a tantas outras. Cansam-me os actos repetidos de um quotidiano inexpressivo.

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  • sexta-feira, novembro 07, 2003

    Espíritos e afins: Um amigo de um amigo, uma pessoa bem informada do que se passa em várias casas deste país, contou-me esta história. Passou-se hoje. À tarde. O indivíduo em causa merece-me credibilidade. Na TVI, enquanto montavam mais uma peça sobre a assombração de espíritos durante a rodagem de uma telenovela daquela estação televisiva, a luz foi abaixo. Literalmente abaixo. Ficaram todos às escuras. No preciso momento em que montavam a peça. Naquele instante. Houve quem fizesse associações macabras e estabelecesse um elo de ligação entre o material e o espiritual. Isto vem a propósito de uma frase que pronunciamos muitas vezes e nunca percebi o seu verdadeiro significado: «Não acredito em bruxas, mas que as há, há...» Alguém me explica?

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  • Porque hoje é 7 de Novembro: Algumas curiosidades interessantes sobre o dia de hoje chegaram-me às mãos. Vou relatá-las: Este dia é dedicado a Beato Vicente Grossi (1846-1917) e a São Vilibrado (638-739). Algumas personalidades que marcaram o mundo nasceram nesta data. Por exemplo, Marie Curie, cientista francesa, de origem polaca, nasceu em 1867 e ganhou o prémio Nobel da física em 1903; Leon Trotsky também nasceu a 7 de Novembro, mas de 1879; o escritor francês Albert Camus veio igualmente ao mundo neste dia, em 1913, e venceu o prémio Nobel da literatura. Para além de terem nascido vários ilustres, há também outros acontecimentos a assinalar. Foi a 7 de Novembro de 1917 que Lenine derrubou o Governo de Kerensky no âmbito da revolução de Outubro; em 1980, o actor Steve McQueen, intérprete do excelente filme Papillon, morria no México; em 1984, Ronald Reagan era reeleito presidente norte-americano; em 1990, morria o romancista britânico Lawrence Durrel; em 1995, José Saramago era galardoado com o Prémio Camões.

    PS. Hoje, para mim, é um dia igual a tantos outros...

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  • quinta-feira, novembro 06, 2003

    Quem quiser um cão...: É favor bater na porta do lado. Dá para uma praia, mas o Canil de Setúbal é logo ali à beira...

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  • Quem cala consente: Desde o alegado fim da guerra no Iraque, em Maio, já morreram 139 soldados americanos. As televisões não podem filmar a chegada dos cadáveres ao seu país de origem e o presidente Bush opta pelo silêncio para tornear a questão e assim não perder mais popularidade. No fundo, é a velha táctica de quem sente as paredes a apertarem-se e teme o abismo no próximo passo. O facto de as imagens dos caixões a chegar a casa não serem difundidas, prova como a censura impera num dos países mais liberais do mundo ocidental. Ainda hoje, mais de uma década depois, não há muitas fotografias sobre as zonas de conflitos durante a primeira guerra no Iraque, nem sequer dados exactos sobre o número de baixas americanas.

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  • O pato do meu vizinho: Ando eu aqui a publicar pensamentos e mesmo ao lado há um pato que também percebe do assunto.

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  • Outono, 4: O vendedor de castanhas, ao fundo da avenida, é sempre o mesmo: tem a cara suja de cinzas, usa um chapéu preto e tem uma mão funda como se tivesse vivido no campo a semear de sol a sol, a desbravar a terra com aquelas mãos já calejadas e sofridas. O fumo perde-se por entre a cidade e o abanador de palha é como o mundo. Anda de um lado para o outro, nunca pára, está em constante rodopio naquela rua carregada de bustos e de olhares. Sente-se no ar um cheiro a castanha assada, um odor quente ao final de tarde, como se fosse um som de uma música suave a bailar nos nossos ouvidos. O trânsito evaporou-se, o ruído de fundo desapareceu. Não há vozes. Só um cheiro a chuva, a frio e a saudade.

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  • Pensamento, 2: «Devemos escolher entre a criação e a destruição, entre o amor e o vazio, entre a paz e a guerra, entre a vida e a morte e nunca teve o ser humano maior conhecimento do perigo. Por isso, nosso dever nunca foi mais peremptório: é o mandato de nosso tempo».

    (Pablo Neruda)

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  • Pensamento, 1: «As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros. Levo-as no coração».

    (Dom Hélder Câmara)

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  • quarta-feira, novembro 05, 2003

    Ver no escuro: Gostava de partilhar algo que me tem acontecido ultimamente, enquanto perco parte do meu tempo à procura de casa nova. Tenho lidado com várias pessoas desconhecidas e não sei se quem está à minha frente é sério, honesto, se me diz a verdade e se merece a minha confiança. O exercício de adivinhação repete-se sempre que conheço alguém: procurar despir as palavras que me chegam ao ouvido, procurar estudar os tiques, os pequenos gestos e os comportamentos. É como ver no escuro. Ando a aprender a ver no escuro, a ler um livro sem letras, a lavar as mãos sem água, em suma, sinto que todas as desconfianças são legítimas, mesmo que esteja à nossa frente o mais fiel de todos os seres humanos. Mas causa-me impressão precisamente isto: será que aquilo que me dizem é verdade? Estarei a ser enganado? Devo confiar? É como estar no meio de uma encruzilhada, ter de optar por um caminho e todos dão indicações por este e por aquele lado. É desgastante.

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  • Erros crassos: Poucas são as pessoas que sabem escrever e quando digo «escrever» refiro-me à arte de juntar as palavras de forma a encadear uma ideia. Mas poucas são aquelas que debitam palavras sem erros ortográficos crassos. Isso leva-me a pensar que a literatura é a última das ocupações de um mundo cada vez mais virado para a televisão, a Internet e o telemóvel. Hoje, mais do que nunca, dão-se muitos deslizes de português, alguns deles de palmatória. Alguns exemplos reais (não foram inventados por mim) de como andam as nossas palavras. Coisas assim chegaram-me às mãos:

    sojeito (sujeito), lonje (longe), abituou (habituou), eroi (herói), pk (porque), à 37 anos (há 37 anos), axas (achas), kero (quero), pareçe (parece), ademirador (admirador), markou (marcou), talemtoso (talentoso), selecionada (seleccionada).

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  • Uma coisa má: Para mim, uma coisa má é sentir que os dias são uns iguais aos outros: uma sucessão de horas repetidas, de momentos iguais que se estendem e se arrastam, todos os dias, sempre iguais, sempre semelhantes, sempre parecidos.

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  • terça-feira, novembro 04, 2003

    «Um singular viajante»: «Voltava eu, certa vez, ao passo lento do meu camelo, pela Estrada de Bagdad, de uma excursão à famosa cidade de Samarra, nas margens do Tigre, quando avistei, sentado numa pedra, um viajante, modestamente vestido, que parecia repousar das fadigas de alguma viagem.
    Dispunha-me a dirigir ao desconhecido o salam – habitual saudação dos caminhantes – quando, com grande surpresa, o vi levantar-se e pronunciar vagarosamente:
    - Um milhão, quatrocentos e vinte e três mil, setecentos e quarenta e cinco!
    Sentou-se em seguida e quedou-se em silêncio, a cabeça apoiada nas mãos, como se estivesse absorto em profunda meditação.
    Parei a pequena distância e pus-me a observá-lo, como faria diante de um monumento histórico dos tempos lendários.
    Momentos depois, o homem levantou-se novamente e, com voz clara e pausada, enunciou outro número igualmente fabuloso:
    - Dois milhões, trezentos e vinte e um mil, oitocentos e sessenta e seis!
    E assim, várias vezes, o estranho viajante pôs-se de pé, disse em voz alta um número de vários milhões, sentando-se em seguida, na pedra tosca do caminho.
    Sem poder refrear a curiosidade que me espicaçava, aproximei-me do desconhecido e, depois de saudá-lo em nome de Alá (com Ele a oração e a glória), perguntei-lhe o significado daqueles números que só poderiam figurar em gigantescas proporções.
    - Forasteiro – respondeu o Homem que Sabia Contar – não censuro a curiosidade que te levou a perturbar a marcha dos meus cálculos e a serenidade dos meus pensamentos. E já que soubeste ser delicado no falar e no pedir, vou atender o teu desejo. Para tanto preciso, porém, contar-te a história da minha vida!
    E narrou o seguinte:…»

    (Malba Tahan, O Homem Que Sabia Contar)

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  • Jogos de computador: O principal defeito de qualquer guerra é pensar-se que o conflito é como um jogo de computador: somos feridos, levantamo-nos e se cumprirmos determinados objectivos temos mais duas vidas-extra. Os homens-fortes deste mundo continuam a pensar assim. A guerra no Iraque está a ser um poço sem fundo, é uma enorme fogueira que vai consumindo madeira atrás de madeira e parece não haver balde de água fria capaz de terminar com tamanho incêndio. No domingo houve um dos mais sangrentos acidentes: um helicóptero americano foi abatido, morreram 16 soldados e 20 estão gravemente feridos. Bush já disse que «a América não fugirá nunca». São frases como esta que matam o mundo.

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  • segunda-feira, novembro 03, 2003

    «Defeito Genético»:
    «Somos intrinsecamente descontentes. Imagino que sempre fomos assim. Acredito mesmo que até possa ter sido esse o grande motor da Civilização. Confesso que, às vezes, acho que deveríamos ser menos assim. No fundo, menos descontentes com o que somos. Mais realizados com o que temos. Mas a verdade é que parece que não conseguimos estar satisfeitos. Por mais perfeitos, por mais inteligentes, por mais realizados, acabamos sempre por pensar que poderíamos ser melhores…»

    (Nota da directora: Carla Ramos)
    (Publicação Saúde+Estilos de Vida – Número 38)

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  • Quem disse… quem escreveu…?:

    «Pedras no caminho?
    Guardo todas.
    Um dia vou construir um castelo.»

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  • Alice: Mulher grande. Mãe imensa. Ser inesquecível.
    Completarias hoje 93 anos. Venturoso o dia 3 de Novembro de 1910. Nesse dia o Mundo ficou mais rico.

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  • domingo, novembro 02, 2003

    Nostalgia de domingo à tarde: Há anos que não sinto os domingos a passarem por mim como acontecia nos tempos de escola. A minha profissão obriga-me a trabalhar ao fim-de-semana e os dias perderam parte do sabor que tinham. Mas hoje à tarde, enquanto me concentrava em frente do computador, dei por mim a pensar naquelas tardes. Depois do almoço farto, a nostalgia de domingo, em que as horas avançavam em ritmo avassalador e crescia dentro de mim a tristeza súbita de que o ócio estava a chegar ao fim. A música na rádio, o silêncio tão próximo, a necessidade de encontrar em cada livro um refúgio, um palmo de tempo, um adiamento profundo da amargura de segunda-feira. Que saudades...

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  • Outono, 3: Há um caminho que nos leva para o outro lado da montanha, onde tudo começa da mesma maneira: há uma fotografia, uma música, uma palavra, uma folha amarela e um vento cortante. Estamos sentados na nossa cadeira, acreditamos em tudo, até nas nossas vozes, recordamos abraços, penetramos o silêncio nas nossas mãos até vasculhar as gavetas do quarto. «És tu», dizemos as vezes que forem precisas. És tu, és tu. Serás sempre tu e mais ninguém.

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  • «Todos contentes e eu também»:

    Stravinsky e vinho branco

    Pássaro de fogo,
    pássaro de fogo, porque
    me queimaste
    com a ausência do teu voo?

    Queria esquecer em ti
    que só de morte
    vivemos, abandonar-me
    com terna ferocidade
    à cinza do teu amor.

    E diz-me agora se não são
    desastrados os intentos
    do coração, se outra coisa existe
    para além da amarga vocação
    da queda.

    Vai, pássaro triste
    ou modo de chama,
    voa sem mim sobre o vazio
    do mundo, mas não deixes nunca
    que o olhar se detenha
    nos dizimados campos da noite.


    «Todos contentes e eu também»
    Manuel de Freitas

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  • sábado, novembro 01, 2003

    Dia de todos os santos: Não resisto: o Comércio do Porto, um jornal local aqui da Invicta, publicou uma boa reportagem alusiva ao dia de todos os santos. O título é bastante sugestivo: «Morrer ficou mais caro com o aumento do custo de vida». As flores, os caixões, os mármores, as sepulturas, enfim tudo o que é alusivo à passagem desta vida para a outra tem acompanhado o ritmo da inflação. Pelos vistos, só o acto de morrer (apesar de o título da prosa) é que continua a ser de graça...

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  • Cópias e plágios: Vivemos numa sociedade onde impera a cópia e o plágio, porque gostámos de ter um carro igual ao do vizinho; adorámos o casaco do nosso colega; sentimos necessidade em ter uma casa bem acima das nossas possibilidades. Esta é uma tendência puramente portuguesa, talvez por isso grande parte das pessoas vivem endividadas até ao pescoço. Mas a inclinação pela cópia e pelo plágio está nos genes lusitanos e ganha uma dimensão ainda mais ampla do que se possa pensar. De ontem para hoje (de sexta-feira para sábado) houve a noite das bruxas, um ritual típico dos países anglo-saxónicos por motivos de ordem cultural. De acordo com os boletins de informação, decorreram vários encontros e festas organizadas por alguns grupos da sociedade portuguesa para celebrar tal acontecimento. Simplesmente, lamentável.

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