quarta-feira, março 31, 2004

Para descomprimir

Tenho dois barómetros em casa
ambos lindos de invejar
um antigo estilo barroco
outro moderno mas lustroso
o primeiro é sincero
o segundo mentiroso
mas sabem quem me diz certo
quando a chuva vai chegar?
o apito do comboio…
que me buzina aos ouvidos…
que me chaga o meu repouso…
que já não posso aturar!!!

.......

Primavera jeitosa esta, heim???
Lisboetas... buscar rapinho galochas e capote de protecção para chuva e ventanias. Não esquecer.
(Resto do país... não sei).
Agora deu-me para escrever em rima. Tadinha dela… ai ai

Maria Oliveira

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  • Exagero

    (Não, «exagero» não é para rimar com o título do post anterior, «desespero»). Mas os constantes especiais sobre a RTP que já mudou de instalações é um grande exagero. Fazer promoção do que é a RTP, daquilo que ofereceu aos telespectadores ao longo do tempo, não é serviço público. É o chamado «exagero» que leva ao «desespero».

    PS. Maria, achas que te vias livre de mim só por andar muito ocupado? Nem penses...

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  • Desespero

    Sou muito ignorante em técnicas de informática, podem crer. Não sei que asneira fiz... Sei que apaguei, sem o querer, o post de ontem, "Memórias", que reponho. O mais grave, é o desaparecimento dos ricos comentários que se perderam de vez. Me perdoem todos os que comentaram esse post. Um pedido de perdão especial ao magnotico.

    Memórias – Manela Amaral

    Desta poeta fui grande amiga.
    Noites quentes de Setembro, no Algarve, numa varanda com o mar por horizonte, conversas a quatro terminavam com o nascer do Sol.
    Ela já não está entre nós.
    Que saudade.
    “Vai um copito, Manel?”

    Mulher
    (em definição)


    Mulher-Poesia
    que deixa no meu corpo bocados de poema

    Mulher-Criança
    que desce à minha infância
    e me traz adulta

    Mulher-Inteira
    repartida no meu ser

    Mulher-Absoluta
    Fonte da minha origem


    [Manuela Amaral]

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  • Pé de página

    O meu partenaire deste blog, o César, encontra-se assoberbado de trabalho.
    Não sei quando ele poderá voltar a escrever aqui.
    Sinto-me abandonada.
    Assim, não vale.
    Tira uma folguita… ó amiguinho César…

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  • terça-feira, março 30, 2004

    Mil fios

    Em cada cabelo branco
    tenho um fio de saudade
    um fio de castidade
    um fio de algum tormento
    também um fio de alento
    mais um fio colorido
    fio dobrado não partido
    um fio de infinda ternura
    um fio de mulher madura
    um fio que me sorri
    mil fios de amor por ti.

    Maria Oliveira

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  • segunda-feira, março 29, 2004

    Soneto

    Ilha

    Deitada és uma ilha. E raramente
    surgem ilhas no mar tão alongadas
    com tão prometedoras enseadas
    um só bosque no meio florescente

    promontórios a pique e de repente
    na luz de duas gémeas madrugadas
    o fulgor das colinas acordadas
    o pasmo da planície adolescente

    Deitada és uma ilha. Quero percorro
    descobrindo-lhe as zonas mais sombrias
    Mas nem sabes se grito por socorro

    ou se te mostro só que me inebrias
    Amiga amor amante amada eu morro
    da vida que me dás todos os dias.


    [David Mourão-Ferreira]


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  • sábado, março 27, 2004

    Cindo semanas depois...

    Estou cansada
    de ti
    de mim
    dos sons
    da luz
    dos tons
    das cores
    das flores
    das dores
    dos horrores.
    Por tudo isto
    anseio os teus sorrisos
    as tuas palavras doces
    e calorosos amores.

    Maria Oliveira

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  • Pensamento

    A delicadeza é a arte da boa convivência.


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  • Citação


    «O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência.»

    [Machado de Assis]

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  • sexta-feira, março 26, 2004

    ...

    Por entre as frestas de pilares de cimento branco da varanda da minha cozinha, o céu começou a salpicar com pingas de chuva o arvoredo farto e a erva rasteira enquadrados numa moldura geométrica, ao som da concertina de Astor Piazzolla, embalada pela quietude do meu desabafo: “Não consigo deixar de pensar em ti… e tremo…”.

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  • Para reflectir...

    Esta resposta de José Saramago, em entrevista ao Correio da Manhã, leva-nos a reflectir sobre a morte dos valores pós-25 de Abril. Quando estamos perto de comemorar os 30 anos da revolução dos cravos. Vale a pena ler:

    – Comemoramos, este ano, os trinta anos do 25 de Abril. Vai celebrar?
    – Não, não Nada ficou do 25 de Abril. Seria capaz de festejar se reconhecesse em cada 25 de Abril alguma coisa do outro 25 de Abril. Podia não ser a construção do socialismo. Podia ser sempre a esperança, esta ideia de que estamos a fazer alguma coisa, acreditamos em alguma coisa, temos um projecto de futuro, mas não, temos nada, rigorosamente nada. O 25 de Abril já se tornou quase no 5 de Outubro da romagem ao cemitério. Dizem-me que ficou a democracia, que não há reforma agrária, que não há privatização da banca, que é isto a democracia, mas que democracia? Esta democracia é igual à de qualquer outro país democrático que não teve 25 de Abril. É desagradável ter de lhe dizer isto, não é simpático e, sim, doloroso. Muito doloroso!

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  • Monopólios

    A Portugal Telecom está entre as duas mil maiores empresas mundiais, segundo revela a revista norte-americana Forbes. Uma boa marca para um império que vai muito mais além do que o reinado dos telefones e chega ao ramo da comunicação social. Mas não é de jornais nem de rádios que reside a raiz do problema. A PT é aquilo que é hoje porque detém o monopólio do mercado e isso permite-lhe agir como bem entender em relação ao consumidor.

    Nos países democratas é natural haver mais do que uma empresa a fornecer um determinado serviço, mesmo que esse serviço seja público. Em Portugal é precisamente o contrário. E um problema grave é a questão das telecomunicações. Se quisermos instalar um telefone, temos de bater à porta da PT. Não há outra alternativa. Isso permite-lhes cobrar preços exorbitantes pelo aluguer do aparelho. Em minha casa, por exemplo, pagámos mais de aluguer do que propriamente de chamadas telefónicas. É grave.

    Não temos alternativas. Por isso, olho para a realidade e encolho os ombros. Não há mérito nenhum na proeza da Portugal Telecom, que está entre as duas mil maiores empresas mundiais. Nesta ditadura de mercado qualquer um seria capaz de chegar lá. Quando teremos a democracia dos telefones?

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  • quinta-feira, março 25, 2004

    Poesia... sempre

    Incêndio

    se conseguires entrar em casa
    e alguém estiver em fogo na tua cama
    e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
    e do tecto cair uma chuva brilhante
    contínua e miudinha – não te assustes

    são os teus antepassados que por um momento
    se levantaram da inércia dos séculos e vêm
    visitar-te

    diz-lhes que vives junto ao mar onde
    zarpam navios carregados com medos
    do fim do mundo – diz-lhes que se consumiu
    a morada de uma vida inteira e pede-lhes
    para murmurarem uma última canção para os olhos
    e adormece sem lágrimas – com eles no chão


    [Al Berto, (1947-1997)]

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  • quarta-feira, março 24, 2004

    Hoje...

    Hoje, os meus olhos brilham, o meu coração canta e a vida sorri.

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  • Citação

    «Como melhoram as pessoas depois de passarmos a gostar delas!...»

    [Grayon]

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  • A ignorância (ou a pureza) das massas

    Não sei se as imagens eram actuais ou de arquivo, mas a manifestação era chocante. Avelino Ferreira Torres, o coronel do Marco de Canavezes, estava a entrar no tribunal e tinha à porta uma autêntica maré viva de apoiantes. São estas manifestações populares em torno de figuras cinzentas, corruptas e duras que nos fazem pensar. Mas é um facto que em Portugal os pecadores são endeusados, colocados em pedestais, amados e vistos por determinada falange da população como cristos crucificados. Crucificados injustamente.

    Foi assim quando Vale e Azevedo acabou detido por vários crimes de corrupção. Ainda hoje há quem se coloque à porta do estabelecimento criminal, onde o ex-presidente do Benfica se encontra detido, para prestar a sua solidariedade por alguém que é visto como um inocente. A quem a justiça foi cruel e injusta. Isto choca. Há pessoas que se acreditam na mentira, vivem mergulhadas nela e são incapazes de encarar a realidade tal como ela é. Parece que não distinguem o bom do mau.

    Neste saco há ainda outros extremos. A pouco mais de um mês dos 30 anos do 25 Abril, há quem suspire por Salazar. Naquele tempo é que era. O homem faz falta. A vida prega-nos partidas assim. Não sei se é a tacanhez das mentes ou a pureza absurda do povo português que acredita na inocência dos corruptos e na bondade dos ditadores. É um enigma que me assola muitas vezes, especialmente quando a televisão nos oferece imagens do presidente da câmara do Marco de Canavezes a entrar no tribunal e as pessoas exibir cartazes de revolta. Porquê?

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  • terça-feira, março 23, 2004

    Má notícia

    O assassinato de Sheikh Ahmed Yassin, líder do Hamas, é uma má notícia numa altura em que o mundo árabe desencadeia sinais de terror no Ocidente. É uma má notícia porque pode agravar o conflito israelo-árabe e isso é capaz de motivar mais atentados terroristas na Europa e nos Estados Unidos. De resto, nada contra. Sheikh Ahmed Yassin foi o responsável por vários atentados em Israel perpetrados por homens-bomba e mandou matar várias pessoas por serem acusadas de ajudar os judeus. Podem-me criticar, se quiserem, mas a 22 de Março de 2004 fez-se justiça.

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  • segunda-feira, março 22, 2004

    Instante de poesia

    Quantas vezes caminhei pela praia
    à espera que viesses. Luas
    inteiras. Praias de cinzas invadidas
    pelo vento. Quantas estações quantas noites
    indormidas. Embranqueceram-me
    os cabelos. E só hoje
    quando exausto me deitei em mim
    reparei
    que sempre estiveste a meu lado. Na cal frágil
    dos meus ossos. Nas hastes do mar
    infiltradas no sangue. Na película
    dos meus olhos quase cegos.


    [Casimiro de Brito, n. 1938]

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  • sábado, março 20, 2004

    Hora certeira

    Há uma hora certeira
    de sorrisos abafados
    de cansaços saturados
    de sonhos ameaçados
    de sentidos incontidos
    de desejos reprimidos
    de arrepios aflitivos
    de cantos desencantados
    de gritos amordaçados
    de fingimentos sofridos
    de voos de cavalo alado
    de mãos esganadas do nada.
    ...É quando o dia se deita.

    Maria Oliveira

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  • Como é possível?

    Não sei se já vos aconteceu, mas quando me esqueço do telemóvel em casa não me sinto bem. É uma sensação esquisita. Falta-me algo. Sinto-me desconfortável. É como se ficasse, de repente, sozinho na rua. Tomo conhecimento dos números, penso nisto e sinto que é tudo uma grande loucura. Uma loucura minha, provavelmente uma loucura de muita gente. Em Portugal, há um milhão de pessoas que não têm água potável dentro de casa, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). É a população toda de Lisboa. Mais do que toda a população do Porto. Mas há mais números arrepiantes. No Mundo inteiro há 1,1 mil milhões de pessoas que não têm acesso a água potável e 80% das doenças resultam dessa enorme carência.

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  • sexta-feira, março 19, 2004

    Citação

    «A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.»

    [Carlos Drummond de Andrade]

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  • quinta-feira, março 18, 2004

    Vejam que lindo, este poema

    Quem se lembra deste poeta-cantor brasileiro, também deliciosamente irreverente?

    Por Quem Sonha Ana Maria.

    Na alameda da Poesia chora rimas o luar,
    Madrugada… e Ana Maria sonha sonhos cor do mar.
    Por quem sonha Ana Maria,
    Nesta noite de luar?

    Já se escuta a nostalgia de uma lira a soluçar.
    Dorme e sonha Ana Maria no seu leito de luar…
    Por quem sonha Ana Maria,
    Quem lhe está triste a cantar?

    No salão da noite fria vêem-se estrelas a cantar,
    Madrugada e Ana Maria sonha sonhos cor do mar.
    Por quem sonha Ana Maria,
    Quem lhe faz assim sonhar?

    Raia o sol e rompe o dia, desmaia ao longe o luar,
    Não abriu de Ana Maria inda a flor do seu olhar.
    Por quem sonha Ana Maria,
    Eu não sei… nem o luar.


    [Juca Chaves]

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  • Citação


    «Somos feitos do mesmo material de que são feitos os sonhos»

    [William Shakespeare]

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  • Ar

    Parar para pensar
    Parar de pensar
    Parar sem nunca pensar
    Pensar sem nunca parar
    Não parar de pensar
    Não passar sem pensar
    Não querer pensar
    Não
    Pensar
    Parar
    Parar
    Parar
    Ar
    Ar
    Ar

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  • quarta-feira, março 17, 2004

    Equívoco

    Não ando na vida para ser a melhor. Ando sim, na esperança de ser cada dia melhor.

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  • Mais um erro de bastidores

    Durão Barroso diz que a Cimeira das Lajes, onde recebeu Bush, Aznar e Blair nas palminhas, revelando-se um excelente anfitrião para servir cafés, «foi uma decisão acertada». O primeiro-ministro português surpreende tudo e todos. Mas porquê? Porque «Portugal não pode combater o terrorismo sozinho». Durão comete mais um erro de bastidores. O terrorismo não é uma guerra nossa. Nunca foi uma guerra nossa. Mas depois da Cimeira das Lajes pode ser que seja uma guerra nossa. De quem é a culpa?

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  • Pensamento

    «Seja lá o que você for, seja o melhor.»

    [Abraham Lincoln]

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  • Porque...

    Porque a poesia urge...
    Porque o amor urge...


    Bastava-nos amar. E não bastava
    o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
    O vento como um barco: a navegar.
    Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

    Bastava-nos ficar. E não bastava
    O mar a querer doer em cada ideia.
    Já não bastava olhar. Urgente: amar.
    E ficar. E fazermos uma teia.

    Respirar. Respirar. Até que o mar
    Pudesse ser amor em maré cheia.
    E bastava. Bastava respirar

    a tua pele molhada de sereia.
    Bastava, sim, encher o peito de ar.
    Fazer amor contigo sobre a areia.


    [Joaquim Pessoa]

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  • Uma noite de encantamento

    Integrada no Ciclo Grandes Orquestras Mundiais da Temporada Gulbenkian de Música e Dança 2003-2004, a Orquestra Nacional Russa – considerada uma das melhores do mundo - dirigida pelo Maestro Mikhail Pletnev – artista nascido em 1957, cuja técnica e génio como pianista, maestro e compositor continuam a despertar grande admiração – executou, ontem, no Coliseu dos Recreios, o programa do concerto;

    TCHAIKOVSKY
    A Bela Adormecida, op. 66 (excertos)

    SERGEI TANEYEV
    Cantata op.1, São João Damasceno
    (Coro Gulbenkian)

    TCHAIKOVSKI
    Sinfonia nº 4, em Fá menor, op. 36

    Se a perfeição existe, direi que ali se ofereceu na sua plenitude.
    Uma verdadeira noite de encantamento.

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  • terça-feira, março 16, 2004

    ARTango

    - O que eu daria para ver este espectáculo; já não devo arranjar bilhetes.
    A reacção não surgiu. O dia, ou por outra a noite, desenrolou-se sem qualquer encanto.
    A tensão nervosa era visível. Há já alguns dias que não andava bem. Falei, falei, falei, não sei se para mim, se para o espaço. Não voltei a tocar no assunto. Dormi mal naquela noite.
    Ao fim da tarde do dia seguinte telefonei-lhe a dizer como me sentia. A sua voz não me pareceu preocupada. Perguntei:
    - Onde estás?
    - Na Fnac.
    - Ah… pelo ruído de fundo…
    - Olha, quero informar-te que foste premiada com um bilhete para o ARTango.
    Um estremeção suspendeu-me a voz.
    - Santo Deus, ora me fazes descer aos infernos, ora me fazes subir aos céus.
    Desligámos o telefone.
    Respirei atrapalhada. Expulsei o estado de letargia em que me encontrava e comecei a dançar pela casa fora. Em pontas de pés, braços erguidos, olhos cerrados, sorriso firme no rosto, dancei em poses de bailarina até o cansaço me vencer.
    Ao som de pensamentos revoltos, rodopiei, rodopie, no palco dos meus devaneios, como bailarina de primeiro elenco na sua melhor performance em noite de estreia e sem nervosismos.
    O espectáculo valeu, mesmo.

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  • segunda-feira, março 15, 2004

    Um sério aviso

    Durão Barroso tem motivos para estar preocupado. O atentado terrorista em Madrid influenciou os eleitores espanhóis à boca das urnas. Rodriguez Zapatero, do PSOE, foi eleito contra muitas expectativas e um dos motivos que o leva ao poder foram as sucessivas críticas à ligação de Aznar aos americanos na Guerra do Iraque e o consequente combate ao terrorismo. O nosso primeiro-ministro também embarcou na aventura suicida de Bush, colocando Portugal na mira da Al-Qaeda. Foi mais um tiro no pé. A derrota não tardará.

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  • domingo, março 14, 2004

    Manda-me uma mensagem

    - Manda-me uma mensagem antes de ires dormir.
    - Vou pensar. Não posso habituar-te a isso todos os dias. Um dia não me apetece e tu vais estranhar.
    Aquele homem cinzento... qual juiz?!…, nosso vizinho de mesa ao jantar a quem tratavam por senhor doutor com deferência e que se dirigia aos empregados com severos estalar de dedos numa postura de carrasco, tinha-me perturbado. Que estupor.
    Sentada no chão da cozinha olhei a porta azul choque do armário em frente e despertei. Ao espelho vi como tenho ainda as narinas feridas de tantos dias de sofrimentos que vêem e vão sem avisar. Que exaustão. Um forte arrepio trespassou-me o corpo. Já passaram quase três semanas. Nem tenho a noção disso. Amanhã terei nova sentença de morte. Não… de vida!
    Já sei. Vou dizer-lhe: O amor embeleza a alma.

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  • sábado, março 13, 2004

    A ferida do século XXI

    Depois de duas guerras mundiais terem marcado significativamente os últimos 100 anos, o novo século está destinado a crimes bárbaros, cobardes, que denominamos de atentados terroristas. As primeiras pedras foram lançadas nas últimas três décadas, mas os mais recentes incidentes dão-nos claros sinais de alerta, de medo e de enorme ponto de interrogação em relação ao futuro.

    É interessante como o percurso natural da história é capaz de provocar mudanças repentinas em que os pólos dominadores variam em função de determinadas conjunturas. Agora, o objectivo não é dominar o mundo, como apregoava Hitler, mas espalhar o medo pelo mundo. Um mundo em que as vítimas são os cidadãos comuns e não militares vestidos a rigor e presidentes de gravatas vermelhas. O alvo somos nós.

    A Al-Qaeda, que reivindicou os atentados terroristas em Madrid, lançou alertas que nos deixam a pensar. Depois dos «Comboios da morte», as próximas operações denominam-se de «Fumo da Morte», em Itália; e de «Vento da Morte», nos Estados Unidos. A grande manifestação em Espanha contra os atentados significa zero para os árabes como para grande parte dos ocidentais o conflito do Médio Oriente é qualquer coisa que passa na televisão à hora do jantar. Apenas isso.

    De agora em diante, estamos num autêntico colete-de-forças. Ficou provado que não basta invadir um país, como os americanos fizeram no Afeganistão, para colocar um ponto final na mais cobarde de todas as guerras. Também não basta prender Bin Laden, como se fez com Saddam Hussein, porque há um Bin Laden pequenino na cabeça de muitos árabes. Ninguém os pode exterminar. É uma questão pertinente e um desafio a todos os políticos: como se pode terminar com esta guerra?

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  • sexta-feira, março 12, 2004

    Um post em branco por todos eles

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  • quinta-feira, março 11, 2004

    Para reflectir

    Amos Oz, escritor israelita, tem uma frase brilhante que se enquadra perfeitamente nos tempos modernos: «O terrorismo é como a heroína: as doses devem ser cada vez mais fortes, para que o efeito se mantenha». Ninguém tenha dúvidas disso.

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  • Não há coincidências

    Ainda sobre o atentado terrorista em Espanha. Que dia é hoje? 11 de Março. Quando caíram as Torres Gémeas? A 11 de Setembro. Infelizmente, não é uma coincidência...

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  • A pior notícia possível

    Infelizmente, confirmou-se a suspeição escrita no post anterior. O atentado em Espanha foi reivindicado pela Al-Qaeda, é um sério problema e um grande aviso a todos aqueles que apoiaram os Estados Unidos no combate ao Afeganistão e ao Iraque. Agora, temos razão para sentirmos na pele um certo receio e algum pânico, porque, ao contrário do que os nossos governantes pensaram, apoiar Bush não se resume a uma simples declaração de circunstância. A factura está à vista de todos: 1420 feridos e 190 mortos (os números não param de aumentar).

    Creio que este atentado em Espanha é o primeiro passo de um longo caminho que promete ser sangrento. A Europa passa a ser o alvo preferido dos muçulmanos, especialmente os países do eixo americano. É um aviso, um sério aviso. Esta é a pior guerra que um ser humano pode combater, a guerra contra um inimigo em movimento, que usa e abusa do factor surpresa e que se multiplica à medida que o tempo passa. Não tem um país certo. Pior do que isso, não tem medo de nada e defende uma causa como a sua própria vida.

    Os portugueses têm motivos para estarem preocupados. Em Junho realiza-se o Campeonato da Europa, que irá atrair milhares e milhares de pessoas ao nosso país, que estará no centro das atenções do mundo. O facto de a Al-Qaeda dizer que o próximo atentado será nos Estados Unidos pode ser uma simples manobra de diversão. Somos obrigados a viver com este medo. Nós e os outros. Obrigado, senhor primeiro-ministro.

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  • Atentado terrorista

    Não há palavras. Qualquer atentado terrorista, seja onde for, independentemente de quem o perpetrou, é um acto de profunda cobardia. Mas acho que os espanhóis se estão a precipitar em relação aos autores directos do crime. No país vizinho, foi o maior acto de terror desde a guerra civil e é visto como uma das maiores chacinas de sempre no velho continente. Arrisco a dizer que a ETA não está directamente relacionada com isto. Vamos por partes.

    1.º Os atentados da ETA costumam ter alvos muito específicos, normalmente pessoas ligadas ao Governo ou a altos cargos do Estado;

    2.º A ETA não tem meios financeiros para destruir várias carruagens de um comboio como aconteceu esta quinta-feira em Madrid. Normalmente, as acções reduzem-se a carros armadilhados;

    3.º Sempre que a ETA é a autora moral de um atentado, reivindica-o horas depois. Por enquanto, os altos-comandos bascos limitam-se a desmentir o acto;

    Tudo somado, temo que tenha sido a Al-Qaeda. Teria na ETA um bom escudo para iludir a opinião pública. A polícia ainda não chegou a nenhuma conclusão, mas os espanhóis dizem a pés juntos que foi a ETA. O sangue de muitos anos leva-os a acreditar nisso. Para bem de todos nós, era bom que tivesse sido a ETA. Caso contrário, estamos na presença de um grande problema.

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  • Pensamento


    «O homem é um alfabeto de sensações.»

    (Machado de Assis)

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  • Futebol

    Há imagens que me chocam. Não as compreendo. Por muito que tente, volto à estaca zero. As vezes que forem necessárias. A televisão ainda passa as imagens da festa. O F.C. Porto eliminou o Manchester United e seguiu em frente na Liga dos Campeões. A cidade vestiu-se de azul e branco, vibrou até às tantas, recebeu os heróis, saiu à rua e coloriu o grito de euforia como se fosse uma criança. Mas há coisas que não entendo. Uma mulher chora, diz que sofreu muito durante o jogo e vai a pé à Santa Rita para pagar a promessa. Vai acender uma vela. Chora. Um simples jogo, uma simples vitória, é capaz de agitar as mentes desta forma. É como se nascesse alguém, quando se vence; ou como se morresse alguém, quando se perde. Tudo se resume àquele instante. Aos resultados, aos golos, às defesas impossíveis. É esta cegueira absurda que não entendo. Mas acho que as pessoas vêem no futebol o escape da amargura de uma vida inteira. São várias pessoas neste estado de loucura. As carências são enormes. É triste. É muito triste...

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  • quarta-feira, março 10, 2004

    A última paixão de Cristo

    «A última paixão de Cristo», o filme que deixou os Estados Unidos em alvoroço, já está a agitar alguns sectores da sociedade portuguesa, apesar de o grande público ainda desconhecer as linhas mestras da narrativa. Os ângulos de abordagem são sempre discutíveis, ainda para mais quando esta temática suscita tantos sentimentos profundos em torno de uma personagem tão amada (ou odiada) por parte da opinião pública e que o próprio tempo se encarregou de traçar uma desmedida carga simbólica.

    Dizem os críticos e alguns quadrantes da Igreja católica que as últimas 12 horas narradas na película têm uma carga emocional despropositada, em que o estigma da violência física e mental atinge um patamar extremamente elevado. Torna-se chocante. Escreve-se ainda que esta visão é destorcida por cair no campo do exagero fácil e isso pode alimentar mais ódios exacerbados em relação à actual comunidade judaica. São factos.

    Mas creio que este mal já não é de agora. Sempre foi assim. Qualquer obra que aborde um acontecimento real está sempre sujeita a grandes críticas por haver pormenores que foram marginalizados ou hiperbolizados por quem os trabalhou a partir da própria realidade. «A última paixão de Cristo» não deve fugir a esta tendência, apenas está mais susceptível à crítica do que qualquer outra temática precisamente por mexer com questões sagradas relacionadas com a crença e com a fé de cada um.

    Isto leva-nos para outro campo. Será que Jesus existiu mesmo? Sou católico não praticante, acredito em Deus, mas dou muitas vezes comigo a pensar nesta questão metafísica. Não há dúvidas que tenha existido um homem - Jesus Cristo - que impressionou uma comunidade de outros homens ao ponto de ter marcado um território e um período de tempo. Depois, os gestos, os comportamentos e as práticas fizeram o resto. Mas será que Ele era filho de Deus? Ou melhor, será que Deus existe? Será que os outros homens colocaram esse Homem acima deles próprios por Ele ser, simplesmente, diferente?

    São dúvidas que me perseguem. Creio que perseguem todos nós, apesar de muitos dizerem que acreditam piamente em tudo o que existe para além desta vida terrena. Ao longo da história, o ser humano sempre teve necessidade de viver lado a lado com o Infinito, o Absoluto, porque tudo o que ultrapassasse os limites da própria razão tinha sempre uma explicação metafísica. Ainda hoje é assim. Será que tudo isto é uma invenção nossa? Depois de tantas questões, chego ao fim desta crónica e respondo que não. Jesus existiu mesmo. Algo me diz, dentro de mim, uma voz, um sopro, não sei, algo me diz que Ele existiu mesmo. Era tão especial como sempre nos contaram. Imortal.

    PS. A vida ensinou-me uma velha máxima. Quando acreditamos em Deus, acreditamos em nós próprios.

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  • terça-feira, março 09, 2004

    Podíamos fazer o mesmo?

    É um facto muito grave: Portugal é o país da União Europeia com maior número de consumidores problemáticos de droga. Isto é fruto de vários motivos, mas agora não adianta nada dissecá-los e desenvolver teorias baratas sobre o assunto. Este tema é dos mais complicados da nossa sociedade e abordá-lo implica colocar elos de comparação com outros exemplos bem mais profícuos. Na Holanda, o consumo de drogas foi liberalizado e os números não são tão chocantes como os nossos. Será que podíamos fazer o mesmo?

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  • segunda-feira, março 08, 2004

    364 dias

    Hoje, Dia Internacional da Mulher, abstenho-me de falar sobre a mulher. Falarei do bicho homem porque dele tenho fascínio. Falarei de ti, meu querido companheiro de sinuosa caminhada, que tanto me tens ensinado ao longo da minha vida. Falarei de todos os homens maravilhosos que conheci, ou não, e que gravo na minha memória. Falarei dos jovens homens de grande riqueza interior, como é o caso do meu partenaire deste blog. E a todos eles, a todos os homens sensíveis que sabem amar uma mulher, ofereço, hoje, uma delicada flor, acompanhada deste poema.

    Mulher Remota

    Esta mulher cabe em minhas mãos.
    É branca e ruiva, e em minhas mãos
    a levaria como uma cesta de magnólias.
    Esta mulher cabe em meus olhos.
    Envolvem-na os meus olhares
    que nada vêem quando a envolvem.
    Esta mulher cabe em meus desejos.
    Desnuda está sob a anelante
    labareda da minha vida
    e o meu desejo queima-a como uma brasa.
    Porém, mulher remota, minhas mãos,
    meus olhos e meus desejos,
    guardam inteira para ti a sua carícia,
    porque só tu, mulher remota,
    só tu cabes em meu coração.


    [Pablo Neruda]

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  • Dia da mulher

    Oito de Março. O Dia Internacional da Mulher, uma efeméride que se celebra desde 1911. Como não podia deixar de ser, vão decorrer várias actividades para assinalar a data, mas parece-me que muita coisa tem de ser feita, porque, no fundo, o papel da mulher na sociedade portuguesa continua votado ao ostracismo. A começar pelas decisões de poder. Na Assembleia da República há 19,1% de mulheres-deputadas, uma fatia muito magra em comparação com a Suécia (45,3%), Dinamarca (38%) e Finlândia (37,5%). A lição é dada pelo Ruanda, com o parlamento mais cor-de-rosa de todos os parlamentos imaginários: tem 48,8% de deputados do sexo feminino. Isto prova que nem sempre modernidade é sinónimo de igualdade.

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  • Lavagem às mentes

    A maioria dos portugueses, nada mais do que 58%, é contra a adopção de crianças por parte de casais homossexuais. Só 29% está de acordo com a medida, segundo publica esta segunda-feira o jornal Público. Esta sondagem prova que muita coisa tem de ser feita no nosso país, a começar pela lavagem às mentes apodrecidas por preconceitos arcaicos. O que é grave numa sociedade abalada por um escândalo de pedofilia. A propósito, não me lembro de ver na televisão o caso chocante de um homossexual-pedófilo. Vocês lembram-se?

    PS. Ainda para mais há um enorme contra-senso: 66% dos portugueses considera que os filhos de pais separados acabam por ter mais problemas psicológicos do que os outros.

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  • Não, não como no McDonalds

    Também vou falar de comida. A propósito, jantei um belo bife, grelhado na chapa pelas minhas próprias mãos. Estava uma delícia. Não gosto de fast-food, não sou dado a idas ao McDonalds e agora muito menos. Não por causa dos hamburgues, mas por causa da escolha pouco elegante desta cadeia norte-americana. Vai patrocinar os jogos do Euro-2004 e lançou uma campanha junto das autarquias para a escolha de 500 crianças que vão acompanhar os jogadores quando estes entrarem em campo durante o Campeonato da Europa. Condição fundamental: não podem ser crianças deficientes. É verdade. Essas estão excluídas por natureza. Já agora que sejam altas, de olhos azuis, de cabelos claros e que não usem rabos de cavalo. É por estas e por outras que detesto o McDonalds.

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  • domingo, março 07, 2004

    Breve instante

    E já quando o dia estava prestes a fugir, um raio de sol debruçou-se sobre o meu olhar e segredou-me mansamente… coragem, vais conseguir.

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  • sexta-feira, março 05, 2004

    Coisa pouca, o que é?

    Hoje ouvi algo que me chocou bastante. Alguém disse que ter um salário de mil euros é coisa pouca num país em que os preços estão tabelados por cima. Creio que a afirmação foi dita por alguém que nada conhece sobre a realidade portuguesa. Não foi um político, nem sequer uma figura pública, foi alguém que conversava tranquilamente no café. Uma coisa fundamental, por exemplo, é saber que o salário mínimo fica a uns escassos cêntimos dos 350 euros. Isso é que é coisa pouca...

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  • quinta-feira, março 04, 2004

    Justiça

    Parece que foi ontem, mas faz hoje três anos que a ponte entre Castelo de Paiva e Entre-os-Rios desabou e as correntes do Douro arrastaram até à morte dezenas e dezenas de pessoas. Os responsáveis assinalam a data com a abertura do terreno do complexo social que inclui um espaço para crianças abandonadas e vítimas de maus-tratos, uma biblioteca, uma zona verde e uma piscina para apoio à comunidade. É bonito, não há dúvidas que é bonito. Mas faço minhas as palavras de O Bisturi, quando haverá justiça?

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  • Numa única palavra...

    A análise peca por tardia. Mas a entrega dos óscares resumiu-se a uma única palavra: previsível.

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  • Aborto

    Mais uma vez, voltou tudo ao ponto de partida. O projecto para despenalizar o aborto nas primeiras dez semanas de gravidez foi uma intenção que não passou disso mesmo. Gerou confusão, houve mesmo deputados que se desvincularam das ideias do seu próprio partido, o que prova bem o quão delicado e polémico tem sido este tema. É difícil. Compreende-se que seja difícil. Eu próprio sinto-me dividido entre o direito à vida que é inerente a qualquer ser humano e a consciência de que a precariedade existe numa sociedade onde nem todos têm os mesmos direitos. Manifestem a vossa opinião na caixa de comentários abaixo deste post. A gerência do Remoinhos agradece.

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  • quarta-feira, março 03, 2004

    Citação


    Se eu pudesse voltar à juventude,
    cometeria todos aqueles erros de novo.
    Só que mais cedo.

    [Tallulah Bankhead]


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  • terça-feira, março 02, 2004

    That's Amore

    De repente senti-me bonita. Saí. Caminhei um pouco. Comprei iogurtes. Meti-me no carro e fui espreitar o mar. O Sol esborratado no horizonte pedia permissão para o seu sono nocturno. Lembrei-me daquela cassete esquecida no porta-luvas com a canção That’s Amore cantada na voz quente, sensual e quase rufia de Dean Martin. Ouvi-a cinco vezes, rindo-me por dentro. Que tempos de loucura aqueles, pensei.
    Tantas vezes lhe tinha pedido que me gravasse aquela música. Sempre que a ouvia, em cd, no seu carro, lá vinha a pedinchice.
    Demorou, mas um dia a cassete chegou. Ouvia-a freneticamente nos primeiros tempos. Depois, fui-me esquecendo dela. É quase sempre assim.

    Tudo isto, porque lhe pedi que não viesse hoje.


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  • perante as dores da vida, abro o meu sorriso

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  • põe uma expressão doce no teu olhar. aprende a transigir. todos serão mais felizes

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  • estou voluntária na vida. não me castiguem com imposições

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  • fogem-me as palavras. sinto a alma presa

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  • O teu riso

    TIRA-ME

    Tira-me o pão, se quiseres,
    tira-me o ar,
    mas não me tires o teu riso.
    Não me tires a rosa,
    a lança que desfolhas,
    a água que de súbito
    brota da tua alegria,
    a repentina onda
    de prata que em ti nasce.
    A minha luta é dura e regresso
    com os olhos cansados
    às vezes por ver
    que a terra não muda,
    mas ao entrar teu riso
    sobe o céu a procurar-me
    e abre-me todas
    as portas da vida.
    Meu amor, nos momentos
    mais escuros solta
    o teu riso e se de súbito
    vires que o meu sangue mancha
    as pedras da rua,
    ri, porque o teu riso
    será para as minhas mãos
    como uma espada fresca.
    À beira do mar, no outono,
    teu riso deve erguer
    sua cascata de espuma,
    e na primavera, amor,
    quero teu riso como
    a flor que esperava,
    a flor azul, a rosa
    da minha pátria sonora.
    Ri-te da noite,
    do dia, da lua,
    ri-te das ruas
    tortas da ilha,
    ri-te deste grosseiro
    rapaz que te ama,
    mas quando abro os olhos e os fecho,
    quando meus passos vão,
    quando voltam meus passos,
    nega-me o pão,
    o ar, a luz, a primavera,
    mas nunca o teu riso,
    porque então morreria.

    [Pablo Neruda]

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  • João e Maria

    Um poema que baila nos meus ouvidos desde a primeira vez que o ouvi, em 1977, cantado pelo seu autor, por quem tenho paixão.

    João e Maria

    Agora eu era o herói
    E o meu cavalo só falava inglês
    A noiva do cowboy
    Era você
    Além das outras três
    Eu enfrentava os batalhões
    Os alemães e seus canhões
    Guardava o meu bodoque
    E ensaiava o rock
    Para as matinês

    Agora eu era o rei
    Era o bedel e era também juiz
    E pela minha lei
    A gente era obrigada a ser feliz
    E você era a princesa
    Que eu fiz coroar
    E era tão linda de se admirar
    Que andava nua pelo meu país

    Não, não fuja não
    Finja que agora eu era o seu brinquedo
    Eu era o seu pião
    O seu bicho preferido
    Sim , me dê a mão
    A gente agora já não tinha medo
    No tempo da maldade
    Acho que a gente nem tinha nascido

    Agora era fatal
    Que o faz-de-conta terminasse assim
    Pra lá desse quintal
    Era uma noite que não tem mais fim
    Pois você sumiu no mundo
    Sem me avisar
    E agora eu era um louco a perguntar
    O que é que a vida vai fazer de mim

    [Chico Buarque]

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  • segunda-feira, março 01, 2004

    Mudar só por mudar não chega

    Está na forja o novo Código da Estrada, que ainda este mês será entregue à Assembleia da República para ser aprovado em Conselho de Ministros, segundo confirmou Figueiredo Lopes, ministro da Administração Interna. Diz o político que as novas leis pretendem «acabar com o sentimento de impunidade», porque o Código actual «foi durante muitos anos a lei mais violada do país». Em primeiro lugar, isto é vago, é mesmo muito vago. Não basta só mudar o código, porque o código, em si, vale aquilo que vale. É um livro que se estuda quando andamos a tirar a carta de condução e depois é guardado numa gaveta até são nunca à tarde. A maior parte dos condutores já não se lembra de algumas regras de trânsito, desconhece os sinais menos comuns e pensa que conduzir um automóvel é um simples jogo de mãos ao volante. As cartas de condução deviam ter prazos de validade como os iogurtes e todos os anos os automobilistas seriam sujeitos a um criterioso exame de código. Era a única forma de estarem sempre actualizados.

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  • Pequenos ditadores

    Avelino Ferreira Torres, presidente da Câmara do Marco de Canavezes, voltou a fazer das suas, desta vez num campo de futebol: insultou o árbitro do jogo entre o Marco e o Santa Clara, porque uma alegada grande penalidade ficou à margem da lei. Foram mais do que simples insultos, houve coacção pura - as imagens televisivas são claras -, dois pontapés num placard electrónico e uma série de atitudes lamentáveis. Avelino Ferreira Torres é presidente da Câmara do Marco de Canavezes há 22 anos e serve-se do poder à moda antiga como se a sua cidade fosse uma terra de coronéis em que só a lei do mais forte deve ser cumprida. É um pequeno ditador numa pequena cidade do interior e constitui o exemplo perfeito de como a palavra ditadura ainda perdura nos tempos que correm. Há muitos pequenos salazares nas entranhas deste país.

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