segunda-feira, maio 31, 2004

Elas… são bem piores do que eles

Refiro-me às mulheres agarradas a um volante, muito especialmente na cidade de Lisboa.
Elas falam mais ao telemóvel. Elas não cedem passagem aos peões nas passadeiras zebra. Elas lêem revistas assentes sobre o volante, mal levantando os olhos para a estrada nos intervalos dos sinais dos semáforos, arrancando e parando sem precauções com atitudes do maior dos desdéns. Elas esquecem-se de acender os faróis do carro quando já é noite, bocejam e conversam com a “amiga” sentada no banco ao lado e nem reparam num insistente aviso, num leve mas repetido sinal de mão, fora do vidro, que faço alertando que vão às escuras. Elas transportam crianças ao colo da “amiga” no banco da frente. Elas são mais incivilizadas e desrespeitadoras. Elas estacionam os carros completamente “à balda” bloqueando outros veículos, como se estes nem existissem. Elas fazem-se valer de um falso privilégio: o de ser mulher.

Eu conduzo há muitos anos. Muitos mesmo. E cada vez mais me apercebo do incómodo causado pelas mulheres com quem me cruzo nas ruas desta cidade.
Acreditem ou não, quando vou a conduzir, ou conduzida por outra pessoa, na cidade de Lisboa, a “léguas de distância” conheço com a maior das facilidades se são mulheres ou homens que executam determinadas manobras de condução e até costumo comentar – quase sem nunca me enganar: "Só pode ser uma mulher que ali vai."

Passei a adoptar uma atitude; quando sou peão, ao atravessar uma passadeira zebra, levanto o braço bem alto, estico a mão como um polícia sinaleiro faria um sinal de STOP, olho nos olhos dessas mulheres e quase paro na passadeira para as obrigar a darem-me a devida passagem. Depois, com Elas bem perto de mim, apresento uma expressão de "direito adquirido" e com a mão fechada e o polegar erguido indico que "assim, sim", como quem diz: Fixe, aprendeu.
Já quase fui atropelada. Já houve mulheres que travaram praticamente junto a mim, com os pneus dos seus carros a meio das passadeiras zebras e outras que nem pararam e das quais fui forçada a desviar-me por instinto de sobrevivência.

Será por eu ser igualmente mulher que não me dão, essas mulheres, o meu direito de peão atento e consciente?

Não gosto de mulheres ao volante, salvo as devidas excepções, porque são mais incorrectas, perigosas e cáusticas, mesmo sabendo que as estatísticas referem (ou referiam), que não são elas as principais causadoras de acidentes graves.

Posto isto, um desabafo um tanto coberto de irritação, contestem-me Mulheres e Homens que conduzem automóveis e que me lêem.

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  • A ti... meu Anjo

    O amor no éter

    Há dentro de mim uma paisagem
    entre meio-dia e duas horas da tarde.
    Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
    entram e não neste lugar de memória,
    uma lagoa rasa com caniço na margem.
    Habito nele, quando os desejos do corpo,
    a metafísica, exclamam:
    como és bonito!
    Quero escrever-te até encontrar
    onde segregas tanto sentimento.
    Pensas em mim, teu meio-riso secreto
    atravessa mar e montanha,
    me sobressalta em arrepios,
    o amor sobre o natural.
    O corpo é leve como a alma,
    os minerais voam como borboletas.
    Tudo deste lugar
    entre meio-dia e duas horas da tarde.


    Adélia Prado
    [Poesia reunida, Editora Siciliano, 1991 - S.Paulo, Brasil]

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  • Aviso à navegação

    Mudámos o aspecto. O corpo continua a ser o mesmo, mas as roupas são diferentes. Eu e a Maria fomos às compras, entrámos numa loja de pronto-a-vestir e o resultado é este. A aparência do Remoinhos mudou, lavámos a cara, vestimos o rapaz dos pés à cabeça, mas há acertos a fazer. Há que ter paciência. Nos próximos dias - haja tempo - o nosso menino ficará com a aparência que tanto desejamos. Prometemos.

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  • domingo, maio 30, 2004

    Poema para este domingo

    Inventário

    Um dente d'ouro a rir dos panfletos
    Um marido afinal ignorante
    Dois corvos mesmo muito pretos
    Um polícia que diz que garante
    A costureira muito desgraçada
    Uma máquina infernal de fazer fumo
    Um professor que não sabe quase nada
    Um colossalmente bom aluno

    Um revolver já desiludido
    Uma criança doida de alegria
    Um imenso tempo perdido
    Um adepto da simetria

    Um conde que cora ao ser condecorado
    Um homem que ri de tristeza
    Um amante perdido encontrado
    Um gafanhoto chamado surpresa

    O desertor cantando no coreto
    Um malandrão que vem pe-ante-pé
    Um senhor vestidíssimo de preto
    Um organista que perde a fé

    Um sujeito enganando os amorosos
    Um cachimbo cantando a marselhesa
    Dois detidos de fato perigosos
    Um instantinho de beleza

    Um octogenário divertido
    Um menino colecionando estampas
    Um congressista que diz Eu não prossigo
    Uma velha que morre a páginas tantas


    Alexandre O'Neill

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  • sábado, maio 29, 2004

    ...

    Urgentemente

    É urgente o Amor,
    É urgente um barco no mar.

    É urgente destruir certas palavras
    ódio, solidão e crueldade,
    alguns lamentos,
    muitas espadas.

    É urgente inventar alegria,
    multiplicar os beijos, as searas,
    é urgente descobrir rosas e rios
    e manhãs claras.

    Cai o silêncio nos ombros,
    e a luz impura até doer.
    É urgente o amor,
    É urgente permanecer.


    Eugénio de Andrade

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  • sexta-feira, maio 28, 2004

    Aviso...

    Estamos sem "caixinha de comentários", desde ontem.
    Aos nossos visitantes, as devidas desculpas por não podermos agradecer e retribuir as sempre "gostosas" visitinhas.
    Abracinhos e beijinhos.

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  • Eleições

    Mais de metade dos portugueses (58%) desconhece que as eleições para o Parlamento Europeu são a 13 de Junho. Os números em si podem constituir algum espanto, mas uma breve análise à realidade prova exactamente o contrário. Apesar de estarmos no século XXI e da União Europeia estar nas bocas do mundo, há uma certa tendência para desvalorizar tudo o que deambula lá fora em detrimento do que se passa cá dentro. É normal. O problema é que, neste caso, o «lá fora» tem implicações directas com o «cá dentro».

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  • quinta-feira, maio 27, 2004

    Hoje faço jejum... desculpem :)

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  • Ganharam todos (literalmente todos)

    Escrevia eu no post anterior que «quando se sonha não se paga imposto», mas quando os sonhos se transformam em realidade paga-se imposto, perde-se a razão e fazem-se as mais variadas loucuras. O FC Porto ganhou a Taça dos Campeões Europeus e os adeptos esqueceram-se do preço da gasolina, que este ano já disparou umas cinco ou seis vezes. Meteram-se no carro, foram até à Baixa, circundaram o Estádio do Dragão, sempre em fila indiana, a queimar o precioso combustível. O Governo é o primeiro a agradecer com as vitórias do futebol.

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  • quarta-feira, maio 26, 2004

    Deserto

    A cidade está deserta. Nem parece dia da semana. Hoje o Porto mudou-se para Gelsenkirchen (é assim que se escreve) e o povo sonha de cachecol na mão. Ao menos quando se sonha não se paga imposto...

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  • Existe em pílulas inodoras, sem paladar e que não “repontam” no estômago.

    ALHO: «O grande trunfo do alho encontra-se nos seus componentes derivados do enxofre, onde a protagonista é a alicina, responsável pela grande parte das propriedades terapêuticas do bolbo e, sim, também pelo odor intenso que se impregna no nosso hálito quando ingerimos alho. No entanto, este efeito “espanta-vampiros” só ocorre quando o alho é cortado, esmagado ou mastigado pois, quando as células são rompidas, a alíina é degradada por uma enzima, transformando-se na já mencionada alicina. Assim a solução passa – para quem não suporta o cheiro, claro – pela versão inodora, ou seja, em cápsulas ou comprimidos.
    Uma das utilizações “clínicas” mais importantes do alho é no que toca à prevenção do cancro. Vários estudos realizados em humanos têm documentado taxas de incidência de cancro menores nas populações que consumiam alho regularmente. Uma das pesquisas revelou que a ingestão de alho inibe a formação de compostos cancerígenos que se formam durante o processo digestivo. E afirmava que comer um dente de alho por dia, esmagando-o antes de o cozinhar ou de o comer, era um escudo protector contra o cancro. Com propriedades antibióticas, pró-imunitárias e contra o mau colesterol, as vantagens do alho parecem sobrepor-se, sem margem de dúvida, à sua única desvantagem: o odor…»

    [SOS – Saúde]

    É verdade, Amigos, o alho é um grande inimigo de inúmeras adversidades da saúde. É um precioso remédio da Natureza. Reduz os riscos cardio-vasculares; tem poderosa acção anti-infecciosa; neutraliza os radicais livres, responsáveis em parte pelo processo de envelhecimento; melhora a capacidade de memória e aprendizagem; retarda o envelhecimento do cérebro.
    Contribui para a longevidade.
    Eu tomo-o, diariamente, em pílulas.

    Ora então, deixem lá na caixinha dos comentários, o vosso “parecer”…
    Agradecida.

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  • terça-feira, maio 25, 2004

    ÁGUA

    ÁGUA: «De presença obrigatória na nossa lista, nunca é demais lembrar que é o componente maioritária do corpo humano e o meio onde se processam todas as reacções do nosso corpo: mantém o equilíbrio dos ácidos, regula a pressão sanguínea, intervém no controlo da temperatura e ajuda na eliminação das impurezas, na digestão e no aproveitamento dos alimentos. A saúde da pele depende também de um consumo adequado de água, que envelhece precocemente se este aspecto for negligenciado. A quantidade de água de que necessitamos diariamente depende do nosso peso corporal mas, a nível geral, os especialistas recomendam que se ingira o correspondente a cerca de dois litros.
    Ao contrário do que se pensa, a água engarrafada não é obrigatoriamente melhor do que a da “torneira” e a sua preferência recai na primeira opção, é aconselhável que não a consuma regularmente ou, pelo menos, que vá variando de marca, procurando águas de diferente constituição, devido à abundância em sais minerais, que ingeridos em excesso podem prejudicar o funcionamento renal ou a mineralização dos ossos, entre outros malefícios.»

    [SOS Saúde]

    Pois é… Amigos, nem só de “cervejolinhas” vive o Homem.
    Vamos lá a não esquecer de beber aguinha do “pote”.
    Digam-me aqui, na caixinha dos comentários, quais os vossos hábitos quanto à ingestão de água.
    Eu… bebo mais de dois litros por dia. (Que vício…)

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  • segunda-feira, maio 24, 2004

    Semana da boa nutrição

    MAÇÃ: «Os ingleses dizem que «an aplle a day keeps the doctor away» e parece que esta frase tem fundamento, pois as propriedades terapêuticas da maçã são inúmeras e provêm dos seus nutrientes, onde se destacam o cálcio, o magnésio, o fósforo, a vitamina C, o betacaroteno e a pectina.
    Um estudo australiano publicado no Journal of the American College of Nutrition defende que a ingestão regular de maçãs impede o envelhecimento cutâneo e o aparecimento de rugas – protegendo a pele dos efeitos nocivos dos raios solares. Um outro achado, no mínimo curioso, divulgado no British Journal of Dermatology é que um composto químico existente nas maçãs promove o crescimento do cabelo.
    Os antioxidantes existentes na maçã parecem ser eficazes a nível cerebral, protegendo-nos do processo de deterioração mental associado à idade. Mas não é só: o consumo de maçãs parece inibir o desenvolvimento de células cancerígenas, nomeadamente no cancro da vesícula, do pulmão e da próstata, entre outros, e diminuir o risco de acidente vascular cerebral. O coração também beneficia da ingestão assídua de maçãs: uma pesquisa publicada no British Medical Journal refere que as pessoas cuja dieta é rica em alimentos com flavonóides – como a maçã – têm menor probabilidade de vir a ter doenças coronárias.»

    [SOS Saúde – Março 2004]

    Hei... Amigos, vamos lá comer uma maçãzita por dia.
    Além dos bons efeitos referidos acima, a maçã tem outra excelente propriedade: a de desinfectar as gengivas e as mucosas da boca.
    Saibam que, uma maçã ingerida após uma refeição, "limpa" os dentes. Actua como antibacteriano.

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  • domingo, maio 23, 2004

    Poeta

    Poeta

    A poesia é uma máquina
    de produzir entusiasmo
    e é preciso que os versos sejam verdadeiros
    na vida dos poetas
    como a tua mão erguida
    sobre os anos futuros
    quando o próprio bronze das estátuas se cobrir
    do verdete do esquecimento
    e das urtigas
    entre as ruínas de um passado morto
    e as pequenas plaquetes dos sentimentos pobres
    dos líricos delírios
    das doidas metáforas sem sentido
    louvadas pela crítica
    só tiverem o arqueológico encanto
    de um cabelo de Ofélia...


    Então
    os teus versos estarão na primeira fila dos pioneiros
    cobertos de cicatrizes
    porque fizeram todo o caminho do tempo
    multiplicados por milhões de vozes
    pela alta potência dos alto-falantes
    como uma bandeira erguida
    sobre os anos futuros.


    Joaquim Namorado


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  • sábado, maio 22, 2004

    Uma dúvida...

    Um casamento real é um acontecimento político ou um acontecimento social?

    A resposta a esta pergunta deve ser feita na caixa de comentários. A gerência, como sempre, agradece.

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  • Casamento real

    A cobertura mediática das televisões portuguesas, que montaram autênticos quartéis-generais em Madrid por causa do casamento real, está a tornar-se intoxicante. Aquilo que Espanha significa para os portugueses, vizinhos desde sempre e «nuestros hermanos», como carinhosamente nos tratamos, pode justificar o espaço que se dá ao príncipe e à ex-jornalista Leticia Ortiz. Mas não explica tudo, pois não?

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  • sexta-feira, maio 21, 2004

    Este Poeta, encanta-me...

    P O V O A M E N T O

    No teu amor por mim há uma rua que começa
    Nem árvores nem casas existiam
    antes que tu tivesses palavras
    e todo eu fosse um coração para elas
    Invento-te e o céu azula-se sobre esta
    triste condição de ter de receber
    dos choupos onde cantam
    os impossíveis pássaros
    a nova primavera
    Tocam sinos e levantam voo
    todos os cuidados
    Ó meu amor nem minha mãe
    tinha assim um regaço
    como este dia tem
    E eu chego e sento-me ao lado
    da primavera


    Ruy Belo

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    E TUDO ERA POSSÍVEL


    Na minha juventude antes de ter saído
    da casa de meus pais disposto a viajar
    eu conhecia já o rebentar do mar
    das páginas dos livros que já tinha lido

    Chegava o mês de maio era tudo florido
    o rolo das manhãs punha-se a circular
    e era só ouvir o sonhador falar
    da vida como se ela houvesse acontecido

    E tudo se passava numa outra vida
    e havia para as coisas sempre uma saída
    Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

    Só sei que tinha o poder duma criança
    entre as coisas e mim havia vizinhança
    e tudo era possível era só querer



    Ruy Belo


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  • quinta-feira, maio 20, 2004

    Minha paixão, este rio... esta cidade

    Hino ao Tejo

    Ó Tejo das asas largas

    Pássaro lindo que se ouve em todas as ruas de Lisboa

    Ó coroa duma cidade maravilhosa

    Ó manto célebre nas cortes do mundo inteiro

    Faixa antiga duma cidade mourisca

    Fênix astro caravela liquida

    Silêncio marulhante das coisas que vão acontecer

    Deslizar sem desastres sem fado sem presságio

    Tu ó majestoso ó Rei ó simplicidade das coisas belíssimas

    Nas tardes em que o sol te queima passo junto de ti

    E chamo-te numa voz sem palavras marejada de lágrimas

    Meu irmão mais velho


    Alberto de Lacerda

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  • quarta-feira, maio 19, 2004

    Homenagem ao Poeta, nascido na data de hoje.

    Dispersão

    Perdi-me dentro de mim
    Porque eu era labirinto
    E hoje, quando me sinto.
    É com saudades de mim.

    Passei pela minha vida
    Um astro doido a sonhar,
    Na ânsia de ultrapassar,
    Nem dei pela minha vida...

    Para mim é sempre ontem,
    Não tenho amanhã nem hoje:
    O tempo que aos outros foge
    Cai sobre mim feito ontem.

    (O Domingo de Paris
    Lembra-me o desaparecido
    Que sentia comovido
    Os Domingos de Paris:

    Porque um domingo é família,
    É bem-estar, é singeleza,
    E os que olham a beleza
    Não têm bem-estar nem família).

    Pobre moço das ânsias...
    Tu, sim, tu eras alguém!
    E foi por isso também
    Que me abismastes nas ânsias.

    A grande ave doirada
    Bateu asas para os céus
    Mas fechou-se saciada
    Ao ver que ganhava os céus.

    Como se chora um amante,
    Assim me choro a mim mesmo:
    Eu fui amante inconstante
    Que se traiu a si mesmo.

    Não sinto o espaço que encerro
    Nem as linhas que protejo:
    Se me olho a um espelho, erro
    Não me acho no que projeto.

    Regresso dentro de mim
    Mas nada me fala, nada!
    Tenho a alma amortalhada,
    Sequinha dentro de mim.

    Não perdi a minha alma,
    Fiquei com ela, perdida.
    Assim eu choro, da vida,
    Eu nunca vi... mas recordo

    A sua boca doirada
    E o seu corpo esmaecido,
    Em um hálito perdido
    Que vem na tarde doirada.

    (As minhas grandes saudades
    São do que nunca enlacei.
    Ai, como eu tenho saudades
    Dos sonhos que sonhei!... )

    E sinto que a minha morte
    Minha dispersão total
    Existe lá longe, ao norte,
    Numa grande capital.

    Vejo o meu último dia
    Pintado em rolos de fumo,
    E todo azul-de-agonia
    Em sombra e além me sumo.

    Ternura feita saudade,
    Eu beijo as minhas mãos brancas...
    Sou amor e piedade
    Em face dessas mãos brancas...

    Tristes mãos longas e lindas
    Que eram feitas pr'a se dar
    Ninguém mas quis apertar
    Tristes mãos longas e lindas

    Eu tenho pena de mim,
    Pobre menino ideal...
    Que me faltou afinal?
    Um elo? Um rastro?... Ai de mim!

    Desceu-me n'alma o crepúsculo;
    Eu fui alguém que passou.
    Serei, mas já não me sou;
    Não vivo, durmo o crepúsculo.

    Álcool dum sono outonal
    Me penetrou vagamente
    A difundir-me dormente
    Em, uma bruma outonal.

    Perdi a morte e a vida,
    E, louco, não enlouqueço...
    A hora foge vivida
    Eu sigo-a, mas permaneço...

    ...........................
    Castelos desmantelados,
    Leões alados sem juba...
    ...........................


    Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)

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  • terça-feira, maio 18, 2004

    M... (?)

    O anjo magoado

    Que foi dele
    depois que lhe quebraram as asas?
    Que foi dele
    depois que lhe contaram
    que no seu ombro havia carne?
    Parou tristonho de voar.
    E olhou estupefato para os pássaros.
    Só viu as próprias lágrimas
    e acreditou que o espaço se houvera transformado em aquário.

    E pôs-se a nadar rumo a pátria.
    Pensava: "Que largo mar seco de praias!"
    E em volta de si mesmo esvoaçava os braços
    num esboço de viagem.
    Então mirou-se
    no último olhar de poça d'agua
    e descobriu seu rosto
    pálido
    lavado
    com algumas gotas de suor e orvalho.
    Vestiu tremendo o corpo claro
    sentiu pudor de sua nudez de asas.
    Procurou por todo o espaço
    perscrutou a enxurrada.
    Pensou: Ah, elas sim reconquistaram as aves".

    E ancorou seu pranto na saudade.


    Ilka Brunhilde Laurito

    [Anjos poéticos, Editora Nova Alexandria, 1995 - S.Paulo, Brasil]

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  • segunda-feira, maio 17, 2004

    Muito, muito a sério

    Num espaço de cinco meses morreram em Portugal dois futebolistas de alta competição. Fehér e Bruno Baião, curiosamente, pertenciam aos quadros do Benfica, eram jovens e só o último deles tinha dado indícios de que padecia de uma doença cardíaca. Neste tipo de situações não se pode falar em azar, nem no destino, ou dizer, simplesmente, que tinha de ser assim porque estava escrito que assim fosse. Há muita coisa que tem de mudar, a começar pelos exames médicos aos jogadores de alta competição. Depois de tudo isto que tem acontecido, fica a ideia de que podiam ser mais rigorosos. É apenas uma ideia, mas é a ideia que fica.

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  • domingo, maio 16, 2004

    ... sim, sei...

    ... sei que a menina tem muito, muito talento. Leitores, leiam o post que vem a seguir. Passem este à frente, porque o outro é que vale a pena.

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  • E sabes…

    … As rosas amarelas, daquela roseira já velhinha, certamente cansada, não tratada, que não quis colher porque em dois dias morrem numa jarra, sim… aquele pezinho, que já noite, quando numa emergência tive que voltar lá a casa, tu cortaste sem eu dar por isso; no mesmo pé, uma rosa já meio aberta e dois botões ainda fechados, abriram durante a noite neste solitário que coloquei a dois palmos dos meus olhos. Abriram, e fizeram-se três rosas lindas, que exalam um perfume carinhoso que adoçará este meu canto.

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  • Água na boca

    A menina a passear, a ver o mar, a comer caldeirada feita na hora, a trocar confidências, enquanto aqui o rapaz estava enfiado na secretária, condenado a comer uma sanduíche e a olhar para o computador. Pois, pois.

    Minha querida, nós aqui comemos tripas. Sabe o que é?

    PS. Se soubesses o que vou almoçar... Mas não digo, porque há coisas (que por serem tão deliciosas) não podem ser ditas em público. E esta, hein?

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  • Recadinhos deste Domingo...

    E a caldeirada, ao jantar, feitinha na hora de propósito para nós, chez Monsieur Bérnard, restaurante sobre a praia, em Santa Cruz, com aquele marzinho manso… maré vazante… pôr-do-sol limpo de nuvens, círculo vermelho vivo a mergulhar nas águas com conversinhas cúmplices…

    Que tal...? César.
    Gostaste?
    Soube-te bem...
    Ou nem a provaste…
    Na tua terra há disso?

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  • As horas!!!

    Já viste que horas são, Maria? Ainda não são nove da manhã (e olha que hoje é domingo) e aqui o rapaz já está a bombar posts no Remoinhos em grande estilo. Como a menina diz e muito bem: «Há palhaços ou quê?»

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  • Recadinho de ontem...

    Sim Maria, estava sol. Confirmei. A temperatura chegou mesmo aos «binte óito» (ouviste, Maria, «binte óito»), estava calor, sim senhor, deu para tirar a roupa de Verão da gaveta mas escusas de torcer o nariz porque não cheirou a naftalina. Agora digo-lhe, passe-se quando quiser. Nem peça licença. Os leitores gostam e a gerência (na qualidade da minha pessoa) agradece. Quando saem mais coelhos da cartola?

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  • sábado, maio 15, 2004

    Recadinho para hoje...

    Pois... agora é que é verdade. Verdadinha mesmo!!!
    Lisboetas: Hoje, sábado, 15 de Maio, (data a assinalar por mais que um motivo, né???( Menino R…) oiçam… bem…
    Céu limpo; Temperatura máxima “binte óito”. (Óviste, César; são “binte óito”!!!)… graus dele! Dele, sim. Temperatura. “A” ou “O”… tanto faz. Venham eles… os graus!!!
    Larguem os Blogs e os computadores.
    Tudo a arejar a pevide! Tudo sem excepção.
    Paralíticos; (mentais)
    Coxos; (visuais)
    Gagos; (entorpecidos)
    Carecas; (mesmo com capota falsa)
    Vesgos; (de tanto fixar monitores de pc)
    Ceguetas; (por falta de clorofila)
    Brilhantes; (mesmo que de fancaria)
    Foscos; (com o ego sem lustro)
    E afins…
    MAIS
    o cágado do "vizinho" A.(J).… (eheheh)
    Tudo na Praia. Mar… muito... Todo!
    Nada de banhos de mar com o “bucho” cheio. Cuidado. Refeições ligeiras e muita aguinha!!!
    Levem a fruta mas tragam as cascas.
    Não fiquem todos ressequidos que nem passas de uva.
    …Ou campo. Piqueniques, sem fogueiras nem lixos.
    Tirem lá os bikinis e os calções de banho do “mofo”, ou o vosso traje preferido.
    Podem ir nuzinhos… eu deixo…
    Arejem durante a noite… Vai estar estreladinha… não mexida… ou “à la coque”…
    Não reguem as plantas das varandas, para não molhar a roupinha do vizinho de baixo. (As plantinhas perdoam, desta vez.)
    Pssstttt…
    É consigo, sim… que eu estou a falar!
    Esse… aí… você… tu… seja quem for…
    Aiiiiiiii ….

    Tudo a apanhar solinho, com as devidas precauções.
    Muito oxigénio novo nesses pulmões.
    A saúde agradece,
    e a gerência, também.

    Maria Oliveira

    Nota: Domingo, já estará nublado. Amanhem-se!
    Quero os resultados todos aqui, no Domingo!

    Katheline: Dedico-te este post. (Passadinha, como me pediste).


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  • sexta-feira, maio 14, 2004

    ...

    Até quando terás,
    minha alma,
    esta doçura


    Até quando terás, minha alma, esta doçura,
    este dom de sofrer, este poder de amar,
    a força de estar sempre – insegura – segura
    como a flecha que segue a trajetória obscura,
    fiel ao seu movimento, exata em seu lugar...?


    [Cecília Meireles] (1901-1964)

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  • Citando...


    «Que é a felicidade senão
    o desenvolvimento de nossas faculdades?»


    [Madame de Staël] Escritora, intelectual e novelista francesa e suíça. Baronesa Anne Louise Germaine de Stael-holstein nasceu em 1766. Faleceu em 1817 com 50 anos de idade. Famosa por seu salão internacional de reuniões literárias.

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  • quinta-feira, maio 13, 2004

    ...

    Garras dos sentidos

    Não quero cantar amores,
    Amores são passos perdidos,
    São frios raios solares,
    Verdes garras dos sentidos.

    São cavalos corredores
    Com asas de ferro e chumbo,
    Caídos nas águas fundas,
    não quero cantar amores.

    Paraísos proibidos,
    Contentamentos injustos,
    Feliz adversidade,
    Amores são passos perdidos.

    São demências dos olhares,
    Alegre festa de pranto,
    São furor obediente,
    São frios raios solares.


    Dá má sorte defendidos
    Os homens de bom juízo
    Têm nas mãos prodigiosas
    Verdes garras dos sentidos.

    Não quero cantar amores
    Nem falar dos seus motivos.


    Agustina Bessa-Luís

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  • quarta-feira, maio 12, 2004

    Sobre estra Praia... Meditações À Beira do Pacífico, 1977

    Um fósforo lançado ao chão do estio seco
    as sarças incendeia no caminho
    que desce à beira de água.
    Em vão tento apagar as chamas que se ateiam
    por de estalidos fogo
    a propagar-se pela encosta acima.

    Lá em baixo as águas silenciosas, rochas,
    areias em que corpos
    jazem desnudos se queimando ao sol
    na frigidez da aragem
    que distraída pousa como os sexos dormem
    nos ventres de que são portas cerradas ou

    colunas que se ignoram.
    Não descerei lá hoje, o incêndio queima
    este descer incógnito e vazio à praia
    algidamente ardente
    a que formas de corpos vieram procurar
    só uma inocência que não têm na vida.

    Crepitam sarças mas os corpos não.


    Jorge de Sena

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  • terça-feira, maio 11, 2004

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    FEBRE

    Tanta a febre de deter o instante
    e sempre os rios a correrem
    (enchente ou vazante)


    [Astrid Cabral, Brasil]
    "Do livro: "Lição de Alice", Philobiblion, 1986, RJ", tal como o anterior.

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    DE VEZ

    Estar de vez
    como fruta à véspera
    do próprio açúcar.
    Estar de vez
    como quem queimou
    seu último navio.
    Esta a sina do ser:
    à fome do infinito
    o verde desafio.


    [Astrid Cabral, Brasil]

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    Modo de amar

    Amor como tremor de terra
    abalando montanhas e minérios
    nas entranhas da minha carne.
    Amor como relâmpagos e sóis
    inaugurando auroras
    ou ateando faíscas e incêndios
    nas trevas da minha noite.
    Amor como açudes sangrando
    ou caudais tempestades
    despencando dilúvios.
    E não me falem de ruínas
    nem de cinzas, nem de lama.


    [Astrid Cabral, Brasil]

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  • segunda-feira, maio 10, 2004

    Teste... consegui???


    "A verdade existe para o sábio,
    a beleza para o coração sensível."


    [Frederich von Schiller, dramaturgo, escritor, filósofo, historiador e poeta alemão. Friedrich Johann Christoph von Schiller nasceu em 10 de novembro de 1759, faleceu em 9 de maio de 1805. Schiller é considerado um dos autores que influenciaram, de maneira determinante, o pensamento romântico alemão.]

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  • Reflexos da política do cimento

    Em Matosinhos, a paredes meias com o Porto, as antigas fábricas de conservas transformaram-se em espaços convidativos para os toxicodependentes saciarem o seu vício diário. Os grandes armazéns estão abandonados, alguns deles só têm a fachada ao alto, o resto foi destruído e adormecido na terra batida à espera da aprovação de um novo projecto por parte da câmara. Seja em que rua for. Ou na maior avenida ou na simples viela. É uma paisagem degradante de uma cidade com profundas raízes na indústria do peixe, de histórias e de tradições explicadas só pela grandeza do mar.

    Esta política do abandono é o reflexo de uma crise anunciada há algumas décadas e que o tempo agudizou fruto da crise económica e da perda de terreno do país em relação às grandes potências europeias. Claramente, a nossa indústria mais tradicional não teve a pedalada suficiente para acompanhar o ritmo dos pólos mais modernos da Europa. As marés negras foram-se acumulado, chegando ao ponto de os industrias terem como única alternativa fechar as portas. Sem apoios do Estado, sem suportes financeiros para renovar as máquinas e apetrechar as fábricas do mais moderno equipamento, dizer adeus é sempre o caminho mais fácil.

    Esta uma situação preocupante. Não tarda nada as nossas cidades vão perder a sua própria identidade. Por exemplo, Matosinhos deixará de ser conhecido pela sua indústria do peixe, dentro de anos Felgueiras poderá perder o rótulo de cidade ligada ao ramo do calçado e Paços de Ferreira correrá o risco de deixar de ser a capital do móvel. Isto é o reflexo da queda em que mergulha o país em direcção ao abismo.

    Mas grave também é rentabilização dos espaços mortos que antes eram fábricas de conversas e hoje são terrenos abandonados a ganhar silvas. Em Matosinhos constroem-se prédios em série, ocupa-se o vazio das indústrias para erguer grandes edifícios em direcção ao céu, onde os empreiteiros parecem dominados pela gasta política da galinha dos ovos de ouro. Esquecem-se de uma coisa importante: em Portugal a taxa de natalidade desce a olhos vistos e dentro de anos não há gente para ocupar as inúmeras habitações que crescem em catadupa. Não é assim que se rentabilizam terrenos baldios. Não era melhor evitar as falências?

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  • domingo, maio 09, 2004

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    Aqui me encontrarás

    Aqui me encontrarás
    dormindo-me silêncio
    no fumo que os telhados
    perfumam de pinheiro,
    aqui me encontrarás
    e a lua no meu ombro
    vermelha do ardor
    meu sangue companheiro.
    Eco que eu sou
    na morte de uma era
    aninham os meus braços
    outonos de fulgores
    e os pássaros da noite
    em seus olhos de espera
    escutam o arfar
    do perfume das cores.
    Aqui me encontrarás
    floresta de vermelho
    segredo de vulcão
    zumbindo-me no peito
    aqui me encontrarás
    quente fornalha de espelho
    brasa amarela de vida
    sol da cor com que me enfeito.
    Minha forma uma montanha
    de seios que a lua aquece
    meus braços caminhos de água
    por toda a serra a descer
    recorta-me a tarde morta
    perfil que o céu enlouquece
    rumor remanso de frágua
    brilho lunar a correr.
    Prata de frio entornada,
    carreiro meu sangue d´albas
    esplendor de muro húmido
    em leques de fetos verdes
    langores de musgo veludo
    em sombra de plantas malvas
    em ti me sei e me escuto,
    em ti me escorro e me bebo.
    Aqui me encontrarás tão de longe navegada
    afago de ares anjos
    no oceano de uma asa
    nesta terra em que me mostro
    aqui de além coroada
    sou água que a chuva traz
    à sua primeira casa.


    Salette Tavares
    [Moçambique, 1922-1993]

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  • sábado, maio 08, 2004

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    Sete luas

    Há noites que são feitas dos meus braços
    e um silêncio comum às violetas
    e há sete luas que são sete traços
    de sete noites que nunca foram feitas
    Há noites que levamos à cintura
    como um cinto de grandes borboletas.
    E um risco a sangue na nossa carne escura
    duma espada à bainha de um cometa.
    Há noites que nos deixam para trás
    enrolados no nosso desencanto
    e cisnes brancos que só são iguais
    à mais longínqua onda de seu canto.
    Há noites que nos levam para onde
    o fantasma de nós fica mais perto:
    e é sempre a nossa voz que nos responde
    e só o nosso nome estava certo.


    Natália Correia

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  • sexta-feira, maio 07, 2004

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    MADRUGADA

    Há que deixar no mundo as ervas e a tristeza,
    e ao lume de águas o rancor da vida.
    Levar connosco mortos o desejo
    e o senso de existir que penetrando
    além dos lodos sob as águas fundas
    hão-de ser verdes como a velha esperança
    nos prados de amargura já floridos.

    Deixar no mundo as árvores erguidas,
    e da tremente carne as vãs cavernas
    aos outros destinados e às montanhas
    que a neve cobrirá de álgida ausência.
    Levar connosco os ossos que resistem
    não sabemos o quê da paz tranquila.

    E ao lume de águas o rancor da vida.


    Jorge de Sena

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  • quinta-feira, maio 06, 2004

    Pensamento do dia (muito profundo)

    «Se saíres de casa e notares que um pombo "cuspiu" na tua cabeça, relaxa e pensa na perfeição da Grande Mãe Natureza, que deu asas aos pombos e não às vacas...!»

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  • Quero… exijo… posso !!!

    Quero a Primavera. Gordinha, gostosa, cheirosa.
    Vai-te embora Inverno, estuporado.
    13º de temperatura às quatro horas da tarde, em Maio, em Lisboa…
    Isto tolera-se???
    Não!!!
    Prima … Vera … então menina???
    A dormir?
    Esquecida?
    Emparvecida?
    Que vida é a nossa?

    (A frase seguinte é para o César)
    Há palhaços??? Brincamos???

    Já sei. Preparem-se amigos. Fim-de-semana próximo, aí … uns … 30º de temperatura, súbita, imprevisível, e tudo a bufar de calor.

    (passei-me…)

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  • quarta-feira, maio 05, 2004

    Como assim? Mulheres, concordam? Homens... reclamem...

    Pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que os homens usam em
    media 1.500 palavras por dia, enquanto as mulheres usam no mínimo 3.000. (DOBRO).

    No congresso onde este estudo foi apresentado, uma mulher levantou-se e disse:

    "Lógico que as mulheres falam o dobro que os homens. Nós temos que repetir tudo o que dizemos para os homens entenderem."

    E o apresentador perguntou: - "Como assim?"

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  • Carlos Cruz

    A libertação de Carlos Cruz acabou por ser um facto menor num dia agitado e marcado pela vitória do F.C. Porto na Corunha e o consequente acesso à final da Liga dos Campeões. Numa primeira perspectiva, Portugal pode ser um país menos cinzento, onde os escândalos da Casa Pia já passaram para plano secundário. Mas não. Continua-se a dar destaque aos podres, porque os podres vendem muito e os jornais e as televisões têm de vender para respirarem de alívio. A questão é que o futebol é mesmo o grande pico de felicidade deste país, um país retalhado de falsas expectativas. Por isso, o êxito de uma equipa de futebol supera a libertação que tanto se comentou e tanto se adiou durante meses a fio. Esta é a realidade. Sinceramente, não sei se é bom, ou mau, que seja assim.

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  • terça-feira, maio 04, 2004

    Vírus à solta

    No passado fim-de-semana, milhões de computadores em todo o mundo (incluindo o meu) foram infectados por um poderoso vírus chamado Sasser. O principal efeito da peste é reiniciar mecanicamente o computador e sem a ordem do utilizador. O que é mau. Imaginem que estão a escrever um texto importante ou a conferir um gráfico e, de repente, a máquina desliga-se, apesar de uma mensagem de alerta. O Sasser espalha-se pela rede, não vagueia de e-mail para e-mail e serve-se de uma vulnerabilidade do windows para poder atacar sem dó nem piedade. As grandes empresas mundiais do género já estão a trabalhar para combaterem o problema com eficazes antivírus. Mas não está a ser fácil. Sinceramente, não sei o que pode alimentar o ego de um indivíduo para lançar um vírus desta natureza pela Internet, cujo efeito mais imediato é moer o juízo do cidadão comum que tem no computador uma boa ferramenta de trabalho ou um instrumento lúdico de prazer. É aquilo que chamo o terrorismo informático num mundo a desfazer-se aos bocados em que reina a destruição estendida até ao limite. Da realidade ao mundo virtual.

    Se o seu computador está infectado, aconselho as seguintes consultas: Panda Antivírus e Symatec. Boa sorte.

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  • Pensamento do dia


    «Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os
    anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da
    livraria. Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma
    pessoa, senão estou perdido.»

    [Almada Negreiros]

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  • segunda-feira, maio 03, 2004

    O Pintor da Lua

    BOUZZIT, Moha

    «As montanhas mágicas do Rif debruçam-se no olhar profundo do artista. Orgulhosas, valentes, perenes. Sobre elas, a Lua, a eterna mãe, amiga, amante.
    Poderíamos denominá-lo o “Pintor da Lua”, essa Thaziri luminosa que o invade em cada latido, em cada respirar.

    Caminha num mundo de cores e formas, dando corpo às emoções que lhe atravessam a alma numa manifestação onírica... Ele e a Lua. A alquimia perfeita.

    As cores da sua obra são ecos silenciosos de uma realidade que o abruma. Pinta para transformar o silêncio em sons, a escuridão em luz, as amarras em voos livres num espaço universal.»

    [Ziri]


    Visitem o seu site. Basta clicar aqui.
    Manifestem-se.
    Comentem!
    Não fiquem indiferentes à Arte.
    É meu amigo, este Pintor.
    Toda a vossa reacção será uma prova de apreço para com o Remoinhos.

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  • domingo, maio 02, 2004

    Mãe - Mar

    Mar, Mar e Mar

    Tu perguntas, e eu não sei,
    eu também não sei o que é o mar.

    É talvez uma lágrima caída dos meus olhos
    ao reler uma carta, quando é de noite.
    Os teus dentes, talvez os teus dentes,
    miúdos, brancos dentes, sejam o mar,
    um mar pequeno e frágil,
    afável, diáfano,
    no entanto sem música.

    É evidente que minha mãe me chama
    quando uma onda e outra onda e outra
    desfaz o seu corpo contra o meu corpo.
    Então o mar é carícia,
    luz molhada onde desperta
    meu coração recente.

    Às vezes o mar é uma figura branca
    cintilando entre os rochedos.
    Não sei se fita a água
    ou se procura
    um beijo entre conchas transparentes.

    Não, o mar não é nardo nem açucena.
    É um adolescente morto
    de lábios abertos aos lábios da espuma.
    É sangue,
    sangue onde outra luz se esconde
    para amar outra luz sobre as areias.

    Um pedaço de lua insiste,
    insiste e sobe lenta arrastando a noite.
    Os cabelos de minha mãe desprendem-se,
    espalham-se na água,
    alisados por uma brisa
    que nasce exactamente no meu coração.
    O mar volta a ser pequeno e meu,
    anémona perfeita, abrindo nos meus dedos.

    Eu também não sei o que é o mar.
    Aguardo a madrugada, impaciente,
    os pés descalços na areia.


    [Eugénio de Andrade]

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  • sábado, maio 01, 2004

    Maio

    Maio maduro Maio

    Maio maduro Maio
    Quem te pintou
    Quem te quebrou o encanto
    Nunca te amou
    Raiava o Sol já no Sul
    E uma falua vinha
    Lá de Istambul

    Sempre depois da sesta
    Chamando as flores
    Era o dia da festa
    Maio de amores
    Era o dia de cantar
    E uma falua andava
    Ao longe a varar

    Maio com meu amigo
    Quem dera já
    Sempre depois do trigo
    Se cantará
    Qu'importa a fúria do mar
    Que a voz não te esmoreça
    Vamos lutar

    Numa rua comprida
    El-rei pastor
    Vende o soro da vida
    Que mata a dor
    Venham ver, Maio nasceu
    Que a voz não te esmoreça
    A turba rompeu


    [ZECA AFONSO]

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