sexta-feira, outubro 20, 2017

Charles Baudelaire - Chant d'Automne





« I


Bientôt nous plongerons dans les froides ténèbres ;
Adieu, vive clarté de nos étés trop courts !
J'entends déjà tomber avec des chocs funèbres
Le bois retentissant sur le pavé des cours.

Tout l'hiver va rentrer dans mon être : colère,
Haine, frissons, horreur, labeur dur et forcé,
Et, comme le soleil dans son enfer polaire,
Mon coeur ne sera plus qu'un bloc rouge et glacé.

J'écoute en frémissant chaque bûche qui tombe ;
L'échafaud qu'on bâtit n'a pas d'écho plus sourd.
Mon esprit est pareil à la tour qui succombe
Sous les coups du bélier infatigable et lourd.

Il me semble, bercé par ce choc monotone,
Qu'on cloue en grande hâte un cercueil quelque part.
Pour qui ? - C'était hier l'été ; voici l'automne !
Ce bruit mystérieux sonne comme un départ.

II

J'aime de vos longs yeux la lumière verdâtre,
Douce beauté, mais tout aujourd'hui m'est amer,
Et rien, ni votre amour, ni le boudoir, ni l'âtre,
Ne me vaut le soleil rayonnant sur la mer.

Et pourtant aimez-moi, tendre coeur ! soyez mère,
Même pour un ingrat, même pour un méchant ;
Amante ou soeur, soyez la douceur éphémère
D'un glorieux automne ou d'un soleil couchant.

Courte tâche ! La tombe attend ; elle est avide !
Ah ! laissez-moi, mon front posé sur vos genoux,
Goûter, en regrettant l'été blanc et torride,
De l'arrière-saison le rayon jaune et doux ! »



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  • segunda-feira, outubro 09, 2017

    Chet Baker- I Fall in Love Too Easily

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  • sexta-feira, outubro 06, 2017

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  • sábado, setembro 02, 2017

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  • quarta-feira, agosto 16, 2017

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  • terça-feira, agosto 15, 2017

    Diana Krall - Cry Me A River

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  • Chet Baker - Almost blue

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  • segunda-feira, fevereiro 18, 2008

    Os meus 'Remoinhos'...


    Os meus 'Remoinhos' são como a natureza.
    Têm ciclos de quatro estações por ano.
    No Inverno, entopem-se como as canalizações.
    Com o desabruchar da Primavera e do Verão, dão rebentos, com pequenas e brancas flores, tal como as dos canaviais.
    Este Blog não morreu.
    Ressurgirá num dia longe do frio e das chuvas da invernia.

    Maria Oliveira

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  • sábado, agosto 11, 2007

    MURIEL

    Às vezes se te lembras procurava-te
    retinha-te esgotava-te e se te não perdia
    era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
    Nada no fundo tinha que dizer-te
    e para ver-te verdadeiramente
    e na tua visão me comprazer
    indispensável era evitar ter-te
    Era tudo tão simples quando te esperava
    tão disponível como então eu estava
    Mas hoje há os papéis há as voltas a dar
    há gente à minha volta há a gravata
    Misturei muitas coisas com a tua imagem
    Tu és a mesma mas nem imaginas
    como mudou aquele que te esperava
    Tu sabes como era se soubesses como é
    Numa vida tão curta mudei tanto
    que é com certo espanto que no espelho de manhã
    distraído diviso a cara que me resta
    depois de tudo quanto o tempo me levou
    Eu tinha uma cidade tinha o nome de madrid
    havia as ruas as pessoas o anonimato
    os bares os cinemas os museus
    um dia vi-te e desde então madrid
    se porventura tem ainda para mim sentido
    é ser a solidão que te rodeia a ti
    Mas o preço que pago por te ter
    é ter-te apenas quando poder ver-te
    e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
    Sou muito pobre tenho só por mim
    no meio destas ruas e do pão e dos jornais
    este sol de janeiro e alguns amigos mais
    Mesmo agora te vejo e mesmo ao ver-te não te vejo
    pois sei que dentro em pouco deixarei de ver-te
    Eu aprendi a ver na minha infância
    vim a saber mais tarde a importância desse verbo para os gregos
    e penso que se bach hoje nascesse
    em vez de ter composto aquele prelúdio e fuga em ré maior
    que esta mesma tarde num concerto ouvi
    teria concebido aqueles sweet hunters
    que esta noite vi no cinema rosales
    Vejo-te agora vi-te ontem e anteontem
    e penso que se nunca a bem dizer te vejo
    se fosse além de ver-te sem remédio te perdia
    Mas eu dizia que te via aqui e acolá
    e quando te não via dependia
    do momento marcado para ver-te
    Eu chegava primeiro e tinha de esperar-te
    e antes de chegares já lá estavas
    naquele preciso sítio combinado
    onde sempre chegavas sempre tarde
    ainda que antes mesmo de chegares lá estivesses
    se ausente mais presente pela expectativa
    por isso mais te via do que ao ter-te à minha frente
    Mas sabia e sei que um dia não virás
    que até duvidarei se tu estiveste onde estiveste
    ou até se exististe ou se eu mesmo existi
    pois na dúvida tenho a única certeza
    Terá mesmo existido o sítio onde estivemos?
    Aquela hora certa aquele lugar?
    À força de o pensar penso que não
    Na melhor das hipóteses estou longe
    qualquer de nós terá talvez morrido
    No fundo quem nos visse àquela hora
    à saída do metro de serrano
    sensivelmente em frente daquele bar
    poderia pensar que éramos reais
    pontos materiais de referência
    como as árvores ou os candeeiros
    Talvez pensasse que naqueles encontros
    em que talvez no fundo procurássemos
    o encontro profundo com nós mesmos
    haveria entre nós um verdadeiro encontro
    como o que apenas temos nos encontros
    que vemos entre os outros onde só afinal somos felizes
    Isso era por exemplo o que me acontecia
    quando há anos nas manhãs de roma
    entre os pinheiros ainda indecisos
    do meu perdido parque de villa borghese
    eu via essa mulher e esse homem
    que naqueles encontros pontuais
    decerto não seriam tão felizes como neles eu
    pois a felicidade para nós possível
    é sempre a que sonhamos que há nos outros
    Até que certo dia não sei bem
    ou não passei por lá ou eles não foram
    nunca mais foram nunca mais passei por lá
    Passamos como tudo sem remédio passa
    e um dia decerto mesmo duvidamos
    dia não tão distante como nós pensamos
    se estivemos ali se madrid existiu
    Se portanto chegares tu primeiro porventura
    alguma vez daqui a alguns anos
    junto de califórnia vinte e um
    que não te admires se olhares e me não vires
    Estarei longe talvez tenha envelhecido
    terei até talvez mesmo morrido
    Não te deixes ficar sequer à minha espera
    não telefones não marques o número
    ele terá mudado a casa será outra
    Nada penses ou faças vai-te embora
    tu serás nessa altura jovem como agora
    tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
    que alaga de luz todos os olhos
    que exibe o sossego dos antigos templos
    e que resiste ao tempo como a pedra
    que vê passar os dias um por um
    que contempla a sucessão da escuridão e luz
    e assiste ao assalto pelo sol
    daquele poder que pertencia à lua
    que transfigura em luxo o próprio lixo
    que tão de leve vive que nem dão por ela
    as parcas implacáveis para os outros
    que embora tudo mude nunca muda
    ou se mudar que se não lembre de morrer
    ou que enfim morra mas que não me desiluda
    Dizia que ao chegar se olhares e me não vires
    nada penses ou faças vai-te embora
    eu não te faço falta e não tem sentido
    esperares por quem talvez tenha morrido
    ou nem sequer talvez tenha existido.

    Ruy Belo

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  • quarta-feira, julho 25, 2007

    Poesia Africana



    CHAGAS DE SALITRE

    Olha-me este país a esboroar-se
    em chagas de salitre
    e os muros, negros, dos fortes
    roidos pelo vegetar
    da urina e do suor
    a carne virgem mandada
    cavar glórias e grandeza
    do outro lado do mar.

    Olha-me a história de um país perdido:
    marés vazantes de gente amordaçada,
    a ingénua tolerância aproveitada
    em carne. Pergunta ao mar,
    que é manso e afaga ainda
    a mesma velha costa erosionada.

    Olha-me as brutas construções quadradas:
    embarcadouros, depósitos de gente.
    Olha-me os rios renovados de cadáveres,
    os rios turvos de espesso deslizar
    dos braços e das mãos do meu país.

    Olha-me as igrejas restauradas
    sobre ruínas de propalada fé:
    paredes brancas de um urgente brio
    escondendo ferros de educar gentio.

    Olha-me a noite herdada, nestes olhos
    de um povo condenado a amassar-te o pão.
    Olha-me amor, atenta podes ver
    uma história de pedra a construir-se
    sobre uma história morta a esboroar-se
    em chagas de salitre.

    RUY DUARTE de CARVALHO
    (Santarém, Portugal, 1941-)
    Radicado em Angola

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  • domingo, julho 01, 2007

    Autores Africanos - Do Rovuma ao Maputo


    CARTA DUM CONTRATADO

    Eu queria escrever-te uma carta
    Amor,
    Uma carta que dissesse
    Deste anseio
    De te ver
    Deste receio
    De te perder
    Deste mais que bem querer que sinto
    Deste mal indefinido que me persegue
    Desta saudade a que vivo todo entregue...

    Eu queria escrever-te uma carta
    Amor,
    Uma carta de confidências íntimas,
    Uma carta de lembranças de ti,
    De ti
    Dos teus lábios vermelhos como tacula
    Dos teus cabelos negros como diloa
    Dos teus olhos doces como macongue
    Dos teus seios duros como maboque
    Do teu andar de onça
    E dos teus carinhos
    Que maiores não encontrei por aí...

    Eu queria escrever-te uma carta
    Amor,
    Que recordasse nossos dias na capopa
    Nossas noites perdidas no capim
    Que recordasse a sombra que nos caia dos jambos
    O luar que se coava das palmeiras sem fim
    Que recordasse a loucura
    Da nossa paixão
    E a amargura da nossa separação...

    Eu queria escrever-te uma carta
    Amor,
    Que a não lesses sem suspirar
    Que a escondesses de papai Bombo
    Que a sonegasses a mamãe Kiesa
    Que a relesses sem a frieza
    Do esquecimento
    Uma carta que em todo o Kilombo
    Outra a ela não tivesse merecimento...

    Eu queria escrever-te uma carta
    Amor,
    Uma carta que ta levasse o vento que passa
    Uma carta que os cajus e cafeeiros
    Que as hienas e palancas que os jacarés e bagres
    Pudessem entender
    Para que se o vento a perdesse no caminho
    Os bichos e plantas
    Compadecidos de nosso pungente sofrer
    De canto em canto
    De lamento em lamento
    De farfalhar em farfalhar
    Te levassem puras e quentes
    As palavras ardentes
    As palavras magoadas da minha carta
    Que eu queria escrever-te amor

    Eu queria escrever-te uma carta...

    Mas, ah, meu amor, eu não sei compreender
    Por que é, por que é, por que é, meu bem
    Que tu não sabes ler
    E eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também!

    António Jacinto

    Angola
    (Foto: Maputo)

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