Verde e vermelho
Que o homem tem qualquer coisa de especial, tem. Pediu as bandeiras nas varandas dos prédios, o povo fez-lhe a vontade; disse que um português tinha de gritar mais do que um grupo de ingleses, os adeptos responderam-lhe a preceito; apelou para que os portugueses se vestissem de verde e vermelho para combater a onda laranja da Holanda, as pessoas nem pensaram duas vezes.
Scolari transformou-se no herói da proeza lusitana no Euro-2004. Contestado no início, porque o futebol é fértil neste tipo de fenómenos, ganhou um estatuto como há muito não se via. Tem carisma, sentido de liderança e carrega nos ombros uma carga positiva que nos fazia falta. Somos um país marcado por fatalismos históricos, gostamos de fado, apreciamos a melancolia, cultivamos sentimentos a raiar o pessimismo. Até que chegou o brasileiro e tudo mudou.
Nada disto acontece por acaso. Seja a crença na Nossa Senhora do Caravaggio, seja a música, ou as bandeiras, ou as pessoas a apoiar a selecção nacional mal o autocarro sai do centro de estágio e se dirige para o estádio. Seja aquilo que for. Há muito que não se via nada assim. Esta onda positiva, de certeza, de ambição, de força, de carisma em torno de um ideal. Nunca o país esteve tão unido em busca de algo, nunca se sentiu tantas certezas em torno de um sonho que pode ser a nossa realidade. Vamos ganhar o Euro-2004, não tenho dúvidas.
PS: Posso estar a ser um pouco injusto, ou até exagerado, mas fazia-nos falta este alto astral brasileiro. Graças a Scolari...
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