domingo, novembro 16, 2003

Caleidoscópio: Olhando ao meu redor desperto para os objectos e cores que habitam o pequeno espaço que rodeia a secretária do meu computador.
E, vendo bem, todos eles são muito fortes e muito interferentes.
Numa parede uma gravura em tons pastel emoldura as estreitas e sinuosas escadinhas de pedra em calçada à portuguesa, do bairro lisboeta onde nasci, típicas dos mais tradicionais bairros desta cidade das sete colinas.
O cheiro a café torrado envolve esta gravura como um arquivo indestrutível da minha infância.
Mesmo em frente dos meus olhos uma fotografia recente - pincelada de verão em tons de amarelo vivo representado nas almofadas das cadeiras de uma esplanada - onde um sorvete comido vagarosamente é o centro da acção.
Algumas velas de cheiro espalhadas pelos cantinhos mais livres acentuam o ambiente de um templo que se pretende que seja este refúgio.
Um pequeno barómetro centenário, feito em bronze, permite avaliar as variações da pressão atmosférica reais e imaginárias.
O melhor de tudo vem agora.
Os inúmeros livros ao alcance de um braço estendido colocados quer em prateleiras de uma estante, quer em pequenas mesas de apoio ao redor da secretária, e alguns, mesmo, intencionalmente deixados no chão, aprisionam em círculo este espaço, sem começo nem fim, com toda a animação e o alvoroço que lhe imprimo e onde diariamente me permito meditar, dialogar e questionar, expandindo a minha existência ao rodopiar, incessantemente, este caleidoscópio recheado de uma mão-cheia de vida.

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