sábado, fevereiro 21, 2004

A insustentável leveza do ser

Uma obra notável de Milan Kundera, um livro recheado de dúvidas e assente em respostas filosóficas como se a vida fosse um bailado de interrogações fortes e de mudanças bruscas. O percurso de três personagens - Tomas, Tereza e Sabina - interrompido pela invasão soviética a Praga, em 1968; um conjunto de marcas profundas por causa de um regime que se instala numa sociedade habituada a outros costumes; uma tentativa de fuga em busca da liberdade e da própria felicidade.

Um livro para reflectir. Não é a Checoslováquia que se transforma em vítima da invasão comunista, mas as pessoas que se sentem mutiladas pela própria presença inimiga. A vida de Tomas e de Tereza sofre constantes recuos, mas o amor entre ambos vai-se reacendendo à medida que vão fugindo para sítios cada vez mais pequenos - da cidade para o campo - e perdendo o estatuto social e a consequente reputação profissional, mas mantendo de pé a dignidade humana e a crença nos valores tradicionais.

Pelo meio, as relações e as paixões humanas colocadas numa fogueira de dúvidas, bem ao estilo de Kundera que busca respostas e explicações para tudo. O afastamento e a mudança são dois temas presentes, mas abordados em campos opostos. Enquanto Tomas e Tereza fogem para sítios cada vez mais pequenos, sempre em queda social mas de braços dados com a felicidade e com o país que aprenderam a amar, Sabina escapa para países democratas enormes, primeiro França, depois os Estados Unidos, procurando esquecer as suas origens. Todos negam os princípios comunistas numa combinação perfeita entre a morte e o contentamento. Uma obra a ler.

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