quarta-feira, março 24, 2004

A ignorância (ou a pureza) das massas

Não sei se as imagens eram actuais ou de arquivo, mas a manifestação era chocante. Avelino Ferreira Torres, o coronel do Marco de Canavezes, estava a entrar no tribunal e tinha à porta uma autêntica maré viva de apoiantes. São estas manifestações populares em torno de figuras cinzentas, corruptas e duras que nos fazem pensar. Mas é um facto que em Portugal os pecadores são endeusados, colocados em pedestais, amados e vistos por determinada falange da população como cristos crucificados. Crucificados injustamente.

Foi assim quando Vale e Azevedo acabou detido por vários crimes de corrupção. Ainda hoje há quem se coloque à porta do estabelecimento criminal, onde o ex-presidente do Benfica se encontra detido, para prestar a sua solidariedade por alguém que é visto como um inocente. A quem a justiça foi cruel e injusta. Isto choca. Há pessoas que se acreditam na mentira, vivem mergulhadas nela e são incapazes de encarar a realidade tal como ela é. Parece que não distinguem o bom do mau.

Neste saco há ainda outros extremos. A pouco mais de um mês dos 30 anos do 25 Abril, há quem suspire por Salazar. Naquele tempo é que era. O homem faz falta. A vida prega-nos partidas assim. Não sei se é a tacanhez das mentes ou a pureza absurda do povo português que acredita na inocência dos corruptos e na bondade dos ditadores. É um enigma que me assola muitas vezes, especialmente quando a televisão nos oferece imagens do presidente da câmara do Marco de Canavezes a entrar no tribunal e as pessoas exibir cartazes de revolta. Porquê?

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