A última paixão de Cristo
«A última paixão de Cristo», o filme que deixou os Estados Unidos em alvoroço, já está a agitar alguns sectores da sociedade portuguesa, apesar de o grande público ainda desconhecer as linhas mestras da narrativa. Os ângulos de abordagem são sempre discutíveis, ainda para mais quando esta temática suscita tantos sentimentos profundos em torno de uma personagem tão amada (ou odiada) por parte da opinião pública e que o próprio tempo se encarregou de traçar uma desmedida carga simbólica.
Dizem os críticos e alguns quadrantes da Igreja católica que as últimas 12 horas narradas na película têm uma carga emocional despropositada, em que o estigma da violência física e mental atinge um patamar extremamente elevado. Torna-se chocante. Escreve-se ainda que esta visão é destorcida por cair no campo do exagero fácil e isso pode alimentar mais ódios exacerbados em relação à actual comunidade judaica. São factos.
Mas creio que este mal já não é de agora. Sempre foi assim. Qualquer obra que aborde um acontecimento real está sempre sujeita a grandes críticas por haver pormenores que foram marginalizados ou hiperbolizados por quem os trabalhou a partir da própria realidade. «A última paixão de Cristo» não deve fugir a esta tendência, apenas está mais susceptível à crítica do que qualquer outra temática precisamente por mexer com questões sagradas relacionadas com a crença e com a fé de cada um.
Isto leva-nos para outro campo. Será que Jesus existiu mesmo? Sou católico não praticante, acredito em Deus, mas dou muitas vezes comigo a pensar nesta questão metafísica. Não há dúvidas que tenha existido um homem - Jesus Cristo - que impressionou uma comunidade de outros homens ao ponto de ter marcado um território e um período de tempo. Depois, os gestos, os comportamentos e as práticas fizeram o resto. Mas será que Ele era filho de Deus? Ou melhor, será que Deus existe? Será que os outros homens colocaram esse Homem acima deles próprios por Ele ser, simplesmente, diferente?
São dúvidas que me perseguem. Creio que perseguem todos nós, apesar de muitos dizerem que acreditam piamente em tudo o que existe para além desta vida terrena. Ao longo da história, o ser humano sempre teve necessidade de viver lado a lado com o Infinito, o Absoluto, porque tudo o que ultrapassasse os limites da própria razão tinha sempre uma explicação metafísica. Ainda hoje é assim. Será que tudo isto é uma invenção nossa? Depois de tantas questões, chego ao fim desta crónica e respondo que não. Jesus existiu mesmo. Algo me diz, dentro de mim, uma voz, um sopro, não sei, algo me diz que Ele existiu mesmo. Era tão especial como sempre nos contaram. Imortal.
PS. A vida ensinou-me uma velha máxima. Quando acreditamos em Deus, acreditamos em nós próprios.
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