O futuro
Há quem diga que é o sal da vida. Confesso que tenho as minhas dúvidas. O futuro é pior do que a linha do horizonte a cortar o mar naquele preciso ponto. É uma incógnita do tamanho do mundo que convive connosco e pode-se transformar numa espécie de tormenta. Sempre tive medo do futuro. É outro dos meus medos. Porque tenho dificuldade em conviver com aquilo que me foge das mãos como grãos de areia. E o futuro é assim. Pior do que isso, o futuro não se vê, não tem cor ou rosto. É uma dúvida. Às vezes, mais forte do que isso. Talvez seja uma incerteza redonda que se escapa, mas também vai ao encontro do nosso caminho. Uma tendência estranha. Que me arrepia.
Dou por mim a pensar em coisas más. Mortes, mantos negros a cobrir a minha vida como xailes de velhas em noites ainda mais escuras. Acontece quando estou na cama e tenho de lutar contra os lençóis como uma criança que tem pesadelos todas as horas. Penso em tudo. Não sei se amanhã terei tanta sorte como hoje, não sei se o meu passado será apenas uma recordação breve em função da tristeza que poderá surgir na próxima esquina. É arrepiante. Como um filme de ficção científica realizado pelo mais imaginativo de todos os realizadores. O problema é mesmo esse, a imaginação. Sempre fui imaginativo e a imaginação é uma pistola com dois canos em sentido oposto. Tão depressa dispara para fora como para dentro; tão depressa dispara em direcção ao mundo como acerta no nosso próprio corpo.
Agora mais do que nunca, olho para a frente e nada vejo. E isso mexe comigo. Esta estranha sedução de não conseguir ver o futuro, de nem sequer o poder sentir na ponta dos meus dedos. É um corpo estranho, uma espécie de fantasma a vaguear na minha cabeça. Chego sempre à mesma conclusão, que a vida é feita de sorte. É preciso ter sorte para realizarmos todos os nossos sonhos e podermos viver em função daquilo que sempre desejamos. A sorte é a ponte para o infinito. Para a saúde, para a felicidade e para todo aquilo que nos prende ao mundo material. Mas não sei se o futuro é sorte ou azar. Às vezes, sinto que estou numa mesa de um casino, onde a roleta não pára um segundo e a cor que vier a seguir é um mistério maior do que tudo.
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