Crónica de Um Caso Vulgar
II
“Pensei dar a esta personagem o nome Teresa. Vês algum inconveniente?” Teresa? Um sobressalto toldou-lhe a mente. Afinal, Teresa era o nome da mulher que se envolvera com o seu marido e por quem este se apaixonara irreflectidamente.
De uma beleza incrível, essa mulher tinha-se servido de Alberto como fácil engodo para ludibriar a sociedade e a família, das suas opções sexuais. Teresa era lésbica. Alberto não o sabia. Conheciam-se deste muito jovens. Alberto tinha fisgada a ideia de a possuir por um dia que fosse, o que nunca chegou a acontecer. Um dos primeiros degraus a desmoronar o casamento de Alberto com Teresa, tinha o nome Teresa.
Teresa fitou Paulo nos olhos sabendo bem que ambos estavam a pensar o mesmo. Ainda lhe sugeriu o seu verdadeiro nome, embora abreviado, mas com a sua característica de superioridade a detalhes comezinhos, assentiu o nome proposto.
Teresa! Teresa… assim ficara acordado, como nome para a heroína daquela epopeia.
Narcísico. Homem que escondia as suas origens, Paulo era egoísta, egocêntrico, pouco tolerante, mas era um artista.
Não era pessoa de relacionamento fácil. Selectivo, crítico agudo, falsamente modesto, não fugia de um momento que lhe permitisse tornar-se o alvo das atenções. A sua imagem era cuidada ao extremo. O seu sentido estético, refinado, fazia-o sobressair. Viajava muito, por profissão, e conhecia o que de bom, ou não, o mundo pode oferecer e o dinheiro pagar.
Curiosamente, Paulo e Teresa relacionavam-se numa aparente perfeição, desde o primeiro instante em que se conheceram.
Em comum, algo arrebatador que ambos pressentiam os atraía um para o outro. Uma paixão. As artes plásticas e outra...
(segue)
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