segunda-feira, janeiro 26, 2004

Féher: Há alturas na vida em que as camisolas e as cores não fazem sentido. Quando a morte chega, quando os pensamentos nos povoam e as imagens valem mais do que mil palavras. Féher, jogador do Benfica, sorriu segundos antes de cair, fulminado, na relva húmida do estádio do Guimarães. Tinha 24 anos. Era jovem. Tinha o mundo a seus pés. Mas tudo se perdeu num momento, num gesto, num ápice de dor levado ao extremo por ser transmitido em directo. Equivaleu ao desmoronamento bárbaro das Torres Gémeas do World Trade Center. Pelo impacto. Pelo choro compulsivo dos colegas, que já premeditavam a morte quando os médicos tentavam fazer o impossível. Féher terá sido vítima de uma trombose pulmonar, algo que pode acontecer a qualquer um de nós. Independentemente da idade, do estrato social ou de sermos desportistas de alta competição. Ninguém prevê a morte, mas são momentos como este que nos levam a pensar que a morte é bem mais cruel do que aquilo que julgamos. Pode surgir a qualquer altura. Basta estarmos vivos para morrer a qualquer instante. Será que tudo isto faz sentido? A vida faz sentido quando somos jovens e morremos de um momento para o outro? Oscar Wilde, um dos grandes escritores britânicos, dizia que não era a morte que o aterrorizava, mas a sua antecipação. Féher sorriu segundos antes de morrer. Não há melhor forma de encarar a morte. Esta é a imagem que devemos reter da sua última queda, o sorriso. O sorriso de quem não teve medo de morrer.

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