Divagações
Qualquer um se interroga sobre o verdadeiro papel da blogosfera. Sempre fui um defensor de que os blogs dão ao público aquilo que mais ninguém pode dar no que respeita à opinião. Com este espaço qualquer pessoa, o simples viajante de autocarro, por exemplo, pode emitir e publicar a sua opinião como se fosse um articulista consagrado de um jornal de referência. Este é um dos caminhos que me agrada. O outro é poder treinar e desenvolver a escrita à medida que dou a conhecer a minha visão sobre o mundo. Não importa os ângulos de abordagem, o que conta é a necessidade de fugir ao vazio de permanecer calado.
Mas o que no início era um mero exercício lúdico transformou-se numa penosa obrigação. O número de leitores vai aumentando, o pico de interesse cresce e os autores dos blogs sentem que o único caminho é escrever mais, melhor e de preferência sobre todos os temas da actualidade. Isto provoca uma certa saturação, às vezes algum desânimo porque o feedback do público é quase nulo e sente-se que se vive única e exclusivamente para o blog como se fosse um sacrifício ou uma rotina incontornável. A qualidade distancia-se da quantidade e o cansaço belisca a imaginação e a própria subversão.
Por isso, não é de estranhar que os blogs mais antigos (o Remoinhos incluído, claro) tenham entrado num processo de derrapagem em que as curvas são mais descendentes do que ascendentes. Basta fazer uma viagem e ler alguns textos para se chegar a esta conclusão. As pessoas estão cansadas. As pessoas que escrevem, as pessoas que lêem. Creio que a novidade do fenómeno já passou e aquilo que era um simples e interessante brinquedo tornou-se numa ferramenta no meio de tantas outras. Daí que alguns blogs tenham de fechar as portas. Este, por exemplo, teve de dizer adeus. Outros já o tinham feito antes.
Um grande amigo meu costuma dizer que os blogs são piores do que os animais de estimação. Temos de os alimentar todos os dias. Temos de escrever quase sempre, mesmo que não haja assunto, mesmo que não haja tempo, mesmo que não haja leitores. Mas nós vamos continuar. Eu e a Maria vamos continuar como até aqui. Até já comprámos ração para o nosso animalzinho querido, não é amiga?
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