terça-feira, abril 27, 2004

Kassák Lajos (Hungria, 1887-1967)

A MINHA POESIA
(I)


Deveria salvar o que se pode salvar
e eu sento-me somente
grave
como um bloco de pedra
como aquele pássaro gigante
que na idade ingrata feri e mudo sangrou na sombra dos salgueiros.
Em silêncio no fundo silêncio da parte ignorada do mundo
escrevo meus poemas que estão à uma para cá e para lá da literatura
das leis costumadas
do êxtase de imbecis.
Basta de beleza a granel
dos efeitos herdados.
A minha poesia não nasce da florescência incoerente dos sonhos
mas da ordem rigorosa da geometria
tira a pele do fruto
traça seu plano
dispõe no espaço objectos
limpa as ruínas do passado
e promete um futuro mais belo.
Eis a essência da minha poesia
o conteúdo das minhas palavras
o sentido que diriam insensato das minhas confissões
chuva de fogo
e tilintar de estalactites
que segundo a lei dos comentários
vivem lado a lado simultaneamente
e do mundo povoam
conhecidos desconhecidos
domínios.


Trad.: Ernesto Rodrigues

"ROSA DO MUNDO"

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