Sobre estra Praia... Meditações À Beira do Pacífico, 1977
Um fósforo lançado ao chão do estio seco
as sarças incendeia no caminho
que desce à beira de água.
Em vão tento apagar as chamas que se ateiam
por de estalidos fogo
a propagar-se pela encosta acima.
Lá em baixo as águas silenciosas, rochas,
areias em que corpos
jazem desnudos se queimando ao sol
na frigidez da aragem
que distraída pousa como os sexos dormem
nos ventres de que são portas cerradas ou
colunas que se ignoram.
Não descerei lá hoje, o incêndio queima
este descer incógnito e vazio à praia
algidamente ardente
a que formas de corpos vieram procurar
só uma inocência que não têm na vida.
Crepitam sarças mas os corpos não.
Jorge de Sena
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