terça-feira, setembro 14, 2004

Ave-dos-sonhos

A tua voz. Espero-a todas as noites no meu quarto, onde a luz do candeeiro parece-me perpétua. Nada ouço. Há um silêncio de gelo a vaguear pelas paredes, a penetrar-me o espírito todas as horas. O gesto repete-se as vezes que forem precisas. Sei que o telefone repousa em cima da mesinha de cabeceira e sei que as horas avançam em ritmo diabólico. Saíste de casa sem dizeres nada. Às vezes, dás-me um sinal no escuro e sou quase obrigado a decifrá-lo por instinto. Conheço os teus passos. Enche-me as tuas mãos longas e perdidas nos cabelos, aprecio o cheiro doce que espalhas por entre os teus olhares sedentos. Vejo-te à distância de uma onda a desfazer-se na praia, onde mergulhas em mim e bebes as minhas recordações como água a descer pelas pedras. Depois voas e cruzas os céus, aprendes a língua dos pássaros e decifras todos os instantes. Eternos.

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