«O diário de Che Guevara»
Não é um filme marcante, capaz de viver na sombra da nossa memória durante um par de dias, mas mostra-nos uma história que deixa marcas profundas e nos leva a reflectir sobre as divisões deste mundo. «O diário de Che Guevara» é uma película que narra a viagem do grande revolucionário argentino à América do Sul, que lhe permitiu alargar horizontes e ter a consciência social para realidades bem distintas no quotidiano de vários países latinos: a pobreza, a desigualdade e a doença - sempre separadas do outro pólo como um rio que separa duas margens ou um muro que afasta duas nações.
O que mais me fascinou no filme foi a simples mola impulsionadora da viagem. Como o homem viaja através dele próprio e o espaço físico é apenas o suporte do seu próprio conhecimento. Ou seja, quando viajamos estamos a conhecermo-nos a nós próprios. Foi assim que Che Guevara despertou para a sua causa revolucionária e se tornou num dos grandes mitos urbanos do século XX. A película fica aquém do próprio herói, mas dá-nos uma noção exacta do todo latino na América do Sul, onde a língua espanhola é apenas uma das marcas comuns em culturas muito semelhantes e onde a miséria é um conceito generalizado. Pior do que isso: a miséria que o filme retrata na década de 50 estará hoje mais agudizada. Basta recordar a crise económica vivida na Argentina há cerca de dois anos.
Ao ver «O Diário de Che Guevara» cheguei a outras conclusões. Que a Internet contribui para um fenómeno de estupidificação balofa. Quantas vezes pensamos que o computador ligado à rede é uma janela aberta para o mundo, mas o mundo que nos aparece à frente não é o mundo na sua forma real. É apenas uma parte. A única forma de tomar contacto com a realidade é fazer aquilo que Che Guevera fez: entrar no mundo com os seus próprios pés para saciar a curiosidade impulsionada pelos muitos livros que devorou. Só assim estamos habilitados a conhecer. A virtualidade pode ser uma terrível ilusão.
PS: Depois da fase da maluqueira, este blog volta a ser um local sério. Mas não respondo pela parceira aqui do lado, eheheh...
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