De onde sou: Do Porto. Da cidade do Porto. Por isso, deixo aqui o poema O Porto é só de Eugénio de Andrade. Usem e abusem destas palavras:
O Porto é só
O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde
Forrar-me de silêncio e procurar trazer à tona algumas
palavras, sem outro fito que não seja o de opor ao corpo
espesso destes muros a insurreição do olhar.
O Porto é só esta atenção empenhada em escutar os passos
dos velhos, que a certas horas atravessam a rua para
passarem os dias no café em frente, os olhos vazios,
as lágrimas todas das crianças de S. Vítor correndo
os sulcos da sua melancolia.
O Porto é só uma pequena praça onde há tantos anos aprendo
metodicamente a ser árvore, procurando assim parecer-me
cada vez mais com a terra obscura do meu próprio rosto.
Desentendido da cidade, olho na palma da mão os resíduos
da juventude, e dessa paixão sem regra deixarei que uma
pétala pouse aqui, por ser tão branca.
Eugénio de Andrade, in Vertentes do Olhar (1987).
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