quinta-feira, janeiro 29, 2004

Emoções na panela: Ainda a morte de Fehér. Esta semana, a comunicação social explorou até ao tutano o trágico desaparecimento do jogador do Benfica. Vivemos num país onde as emoções valem ouro, são embrulhadas e vendidas como se fossem presentes para o grande público e depois consumidas de forma obstinada. Tudo o resto é irrelevante. As imagens do último sorriso e a queda fulminante para o relvado sensibilizaram-nos, assim como a dor levada ao extremo dos colegas de equipa a chorar à volta do caixão. Mas não bastou. Houve ainda necessidade de transmitir em directo o funeral do malogrado atleta numa cobertura televisiva que deve bater vários recordes de audiência. A ética, a barreira entre o que é do domínio público e os actos de foro privado são conceitos vazios perante determinadas formas que valorizam a tal tendência de conquistar os espectadores através de uma lágrima ou de uma imagem forte que represente mais do que mil palavras. Apesar de tudo, acho que houve o mínimo de bom-senso, caso contrário a morte de Fehér iria chocar ainda mais os portugueses. Por exemplo, a Sport tv, que estava a transmitir o jogo em directo, tinha uma câmara colocada no lado mais próximo do jogador, mas não passou uma única imagem capaz de ferir as mentes mais sensíveis. O realizador optou por um plano menor, feito por uma outra objectiva, em que os exercícios de reanimação e o corpo inerte do atleta passaram despercebidos aos olhos do público. É um gesto de louvar nos dias de hoje. Mas a necessidade cega de ir mais além alimentou o espírito de alguma concorrência que aliciou o canal de desporto a vender as tais imagens chocantes. Os responsáveis bateram o pé e disseram não. A minha homenagem.

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