quinta-feira, janeiro 08, 2004

Um grito de raiva!

Confrange-me o comportamento imediatista, prática dos actuais dias.
Confrange-me a leviandade dos actos cometidos pelos mais responsáveis círculos de uma sociedade, em que os efeitos, a curto, médio ou longo prazo, são ultrajantes e deprimentes.
Confrange-me a falta de capacidade de aprendizagem de uma colectividade que ainda não consegue respirar a bênção de uma democracia instalada há quase trinta anos.
O monstruoso escândalo que vivemos desde há cerca de um ano envergonha-me, dia após dia.
Vejo inúmeras Nações irmãs a colocar o seu dedo nesta chaga sangrenta, premendo, premendo até que a mágoa nos tinja a cara de infâmia.
De algumas direcções o desinteresse “umbiguista” é camuflado por sorrisos cúmplices ao sistema de Justiça praticado.
De outras, salta uma apatia insalubre a um incómodo e mais declarado grito de: quando é que isto vai ter um fim?
Como é possível este carrossel desenfreado, em que uns entram e outros se apeiam, sacudindo a água dos seus capotes e ostentando uma impunidade insolente.
Sempre considerei que cada povo tem os governantes que merece.
Que raio de gente nós somos que não consegue, não sabe, ou não quer, insurgir-se energicamente contra a falta de clareza e eficácia de “regras” básicas de um sistema que escancara aos olhos de cada um uma arrogância provocatória.
Está doente a nossa gente. Perdeu-se a inocência da criança que se sente no direito de se afirmar, manifestando uma raiva sã contra os joguinhos de cabra-cega traiçoeiros e ameaçadores da dignidade de cada um.
Quantos adormecem cada noite com a carga de um pesadelo que não termina, sabendo que em cada dia seguinte, ao acordar, esse pesadelo lhes vai turvar mais e mais a necessária visão límpida para a estruturação da sua própria resistência.
Quantos não se atormentam com a hipótese de, no dia seguinte, ouvirem num serviço noticioso o nome de um parente ou de um amigo, envolvido nesta trama lamacenta que alimenta, a papo cheio, uns quantos e destrói muitos e muitos outros.
Consciencialização colectiva, onde mora?
Espírito de união que faz a força, onde paira?
Princípios éticos, onde navegam?
O escrúpulo, fora de moda?

Alguns pensam: uma boa partida de futebol regada com um copito, adormece e faz delirar estas “santas” alminhas.

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