sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Mãos-que-falam

(Não é o que certas pessoas possam estar a pensar). As mãos-que-falam morreram. Já não estão entre nós. Foi uma arte que se perdeu no tempo, que as novas tecnologias precipitaram o fim e o que resta são imagens doces de um passado não muito distante. Aquelas mãos, os gestos certos, os movimentos perfeitos, a rotação lenta da cabeça - tudo combinava em simbiose estética como se o homem estivesse num palco e fosse o centro das atenções de toda a gente. Assim era. Estava em palco. Era um actor. Era um artista. O sinaleiro, essa figura mitológica que inspirou centenas e centenas de miúdos.

Há dias acordei a pensar nos sinaleiros. Lembro-me das luvas brancas que escondiam aquela mímica tão peculiar: um gesto para parar o trânsito de um lado, outro para fazer avançar os carros em sentido contrário e ainda um outro movimento (quase sempre rápido) para mandar seguir os transeuntes. Tudo tão esquematizado como se fosse um artista de circo, um bailarino russo, uma marioneta no país-do-faz-de-conta. Estas mãos-que-falam desapareceram - tudo na vida desaparece por um motivo - e foram substituídas pelos semáforos que pecam por defeito. Levam-nos ao desespero. Quem está no trânsito nunca vê o show do homem do capacete branco...

PS. Este post surgiu por estarmos em alturas do Carnaval. Espero que não apareçam criancinhas vestidas de semáforo...

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