Paixão de Cristo (novamente)
Acabei de resistir ao polémico filme a «Paixão de Cristo» e aconselho vivamente a obra de Mel Gibson como puro objecto de reflexão humana. Aquela caminhada de sofrimento pode estar envolvida em alguns retalhos de exagero, é facto, mas ao ver a película, ao observar cada cena, ao desmontar o puzzle, vi que tudo aquilo é a mais fiel representação do mundo em que vivemos, repleto de valores ocos como a mentira, o vazio, o ódio, a loucura, a traição, o sofrimento, a dor, a ira, a falsidade, a malvadez, a insensibilidade, a tortura, a injustiça, a irracionalidade, a cobardia, a crueldade, o desdém, a cegueira, a imprudência e a farsa.
Podia estar aqui a debitar mais palavras, mas fico-me por estas. São duas horas que encaixam perfeitamente em determinados episódios da nossa sociedade, muitas vezes cercada por conceitos desprezíveis. Jesus Cristo foi vítima da mentira, da traição e, por consequência, denunciado, chicoteado, julgado e crucificado. Dei por mim a pensar o quanto somos injustos. Pensamos que sofremos muito por causa de uma simples dor de dentes ou que a vida é uma caixinha de surpresas que só nos oferece amarguras ao dobrar de cada esquina. Somos injustos. Ao ver as imagens, ao analisar cada cena, ao meditar para mim mesmo, acho que nenhum homem sofreu tanto como Ele. Com a particularidade de Ele ter sofrido por todos nós.
Mas o que me toca? Tudo, essencialmente tudo, mas o final é uma lição para qualquer ser humano. Jesus sofre aquilo que nenhum ser humano sofreu, é vencido pela própria morte, mas depois ressuscita, sem chagas, sem feridas, com o corpo limpo de sangue, uma pele sedosa e um brilho ímpar no seu próprio olhar. Vejo aquilo e penso. Penso que depois de um momento de grande dor, o que vem a seguir é a felicidade. A nossa vida é assim. Quando pensamos que estamos no buraco negro, logo a seguir caminhamos num prado verdejante. Depois de algo muito mau, o que vem imediatamente a seguir é sempre muito bom. Há sempre uma recompensa para tudo. É como nascer de novo.
Esta é a lição que retiro da «Paixão de Cristo».
<< Home