Uma história sobre teatro:
A peça de teatro “Sete Minutos”, da autoria do grande actor brasileiro António Fagundes, em exibição em Lisboa e já apresentada no Porto, revelou-se um estrondo de bilheteira.
Nem outra coisa era de esperar.
Foi a primeira peça de teatro de autoria brasileira, e com um elenco de actores brasileiros, a que assisti.
Numa despretensiosa encenação, com um elevado nível de representação (não invulgar nos actores brasileiros), conta-nos o António Fagundes, protagonista, uma história sobre o comportamento dos públicos que frequentam o teatro.
Os maus comportamentos dos espectadores!
A falta de pontualidade com direito a reclamações, os cochichos até ao levantar do pano, ou mesmo depois disso, os ataques de tosse incontroláveis, os esquecimentos de desligar um telemóvel, e até mesmo a urgência de uma ida ao W.C. que perturba a concentração dos actores e que incomoda desesperadamente os espectadores, com um “com licença e desculpe”.
Todo o texto se desenvolve de forma crítica feroz mas humorada. Direi mesmo refinadamente ridicularizada.
Tanto assim é que, a certa altura dei comigo a pensar; este homem está a bater nos espectadores com tanta gana que não sei como vai conseguir dar a volta ao texto, de forma a sair airoso e sem afugentar, de vez, o “escasso” público que vem ver teatro.
Evidente que aquele senhor sabe muito desta arte. Uma carreira de quase quarenta anos, dá margem para isso.
Após ter desancado o público (genericamente), com toda a inteligência, acarinha-o e enobrece-o.
Esta peça de teatro é um ensinamento de como respeitar o trabalho de um actor em palco. O palco é um local sagrado, cita ele na peça; venere-se como tal.
Quanto a mim, a intenção expressa não atinge quem deveria. A quem a carapuça deveria enfiar, não deve lá ter chegado. Quanto aos restantes, os inocentes, sentem-se verdadeiramente desconfortáveis pelo irrefutável reconhecimento da falta de civismo dos públicos que frequentam teatros em países como o Brasil (?) ou Portugal, em que os maiores prejuízos recaem não só sobre os actores – afinal devidamente treinados e habituados - mas sim no público cumpridor, respeitador e verdadeiramente apreciador desta arte.
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