ARTango
- O que eu daria para ver este espectáculo; já não devo arranjar bilhetes.
A reacção não surgiu. O dia, ou por outra a noite, desenrolou-se sem qualquer encanto.
A tensão nervosa era visível. Há já alguns dias que não andava bem. Falei, falei, falei, não sei se para mim, se para o espaço. Não voltei a tocar no assunto. Dormi mal naquela noite.
Ao fim da tarde do dia seguinte telefonei-lhe a dizer como me sentia. A sua voz não me pareceu preocupada. Perguntei:
- Onde estás?
- Na Fnac.
- Ah… pelo ruído de fundo…
- Olha, quero informar-te que foste premiada com um bilhete para o ARTango.
Um estremeção suspendeu-me a voz.
- Santo Deus, ora me fazes descer aos infernos, ora me fazes subir aos céus.
Desligámos o telefone.
Respirei atrapalhada. Expulsei o estado de letargia em que me encontrava e comecei a dançar pela casa fora. Em pontas de pés, braços erguidos, olhos cerrados, sorriso firme no rosto, dancei em poses de bailarina até o cansaço me vencer.
Ao som de pensamentos revoltos, rodopiei, rodopie, no palco dos meus devaneios, como bailarina de primeiro elenco na sua melhor performance em noite de estreia e sem nervosismos.
O espectáculo valeu, mesmo.
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