Os reflexos da política do cimento
É uma situação grave. Preocupante. Aconteceu esta semana e podia ter consequências nefastas para a pessoa em causa. Quando a C. se dirigia para casa, depois de mais um dia de trabalho, passou por baixo de uma passagem superior, onde um grupo de crianças se divertia a atirar sacos de água para os automóveis na estrada. Um deles acertou-lhe em cheio, destruindo-lhe por completo o vidro da frente do automóvel. Felizmente, ela não se magoou. Nem perdeu o controlo do veículo, nem pôs em causa a segurança rodoviária dos outros. Mas não valeu para o susto. As crianças fugiram de imediato e a chamada da polícia apenas serviu para preencher as formalidades. Nada mais.
Esta é uma situação grave e a culpa, como sempre neste tipo de casos, vai morrer solteira. Não se sabe quem foi, quem era, apenas se tem a certeza de ter sido uma criança. Outros sacos de água estavam no chão, depois de terem falhado o alvo, prova de que o divertimento deste grupo de petizes está longe de ser a mais lúdica de todas as brincadeiras. Segundo relataram à C., naquele sítio, há poucas semanas, um grupo de miúdos passou o tempo a atirar pedras para os automóveis que passavam na estrada. É preocupante. E triste. Porque se trata de uma acção criminosa para a qual as autoridades não mexem uma única palha. Nem estão interessadas em cortar o mal pela raiz.
Este acidente aconteceu num sítio bem próximo de um bairro social, onde prolifera a droga e a criminalidade é uma prática corrente. No fundo, aquelas crianças são o reflexo do comportamento dos pais, maus exemplos sociais, vítimas do desemprego e da precariedade de conceitos, que se servem do caminho mais fácil para atingir os seus próprios fins. Esta é uma situação preocupante. Porque as crianças são a ponta do iceberg, quando a experiência dos mais velhos leva a crer que são capazes de acções bem piores, ligadas ao mundo da toxicodependência ou a teias de criminalidade nos vários cantos da cidade.
Fica o alerta para o nosso Governo que nos últimos 20 anos adoptou uma política fácil, sustentada no cimento e no ferro, construindo estradas, idealizando pontes, dando forma a estádios para o Euro-2004 e a apostar tudo no crescimento do país pelo telhado e não pelo chão. O princípio básico de uma sociedade livre é a educação das massas, a cultura de um povo e a sua formação. Nesse aspecto, não se investiu um único cêntimo. Estes jovens são os adultos de amanhã. São filhos da degradação social, onde a violência é uma arma para amedrontar os outros. É preciso educar esta gente. Há que investir nesse sentido. Ou não será assim, senhor primeiro-ministro?
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