sábado, setembro 27, 2003

A propósito de uma frase, a propósito da morte: A Gilda mandou-me duas frases, uma delas muito especial e de um grande escritor português: «O que extingue a vida e os seus sinais, não é a morte, mas o esquecimento» (José Saramago – Cadernos de Lanzarote - sobre a morte de Miguel Torga). É que a morte física não é a pior das mortes. Nunca será a pior das mortes. O esquecimento pode ser o fim, a perda de identidade pode ser o fim, a loucura pode ser o fim. Tudo pode ser o fim antes da própria morte. Ao ler esta frase lembro-me de um belíssimo livro que li há um par de anos, O Retrato de Dorian Gray do irlandês Oscar Wilde, que deixava a marca de um pensamento fabuloso, saído de uma frase solta: Não é a morte que me aterra, mas a sua antecipação. Pior do que o próprio fim, pior do que aquilo que termina e abre um buraco, é o caminho a percorrer até esse buraco. Ao longo desse caminho, o sofrimento é bem pior do que a morte. Na morte em si nunca há sofrimento. Só beleza.

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