Vigília, 2:
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Por mim, era uma hipótese que não me apetecia pôr de parte. Por que não, dizia eu, lembras-te?, pensa bem: A Praça Vermelha à noite vista daquele hotel enorme que a Aeroflot coloca à disposição dos turistas que têm de pernoitar em Moscovo, é Outono, em Moscovo já está frio, a place rouge estará deserta como a canção de Gilbert Bécaud, eu trato-te por Natalie, descemos de um táxi que na União Soviética parecem autênticas limusinas de chefe de Estado, li eu não sei onde, no restaurante do hotel oferecem-nos caviar de esturjão do Volga, talvez os candeeiros estejam um pouco envoltos em neblina, como nos romances de Puchkin, e verás que é bonito, tenho a certeza, podemos ir também ao Bolschoi, que é visita obrigatória quando se vai a Moscovo, e se calhar até vemos o Lago dos Cisnes.
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[Antonio Tabucchi, in Está a fazer-se cada vez mais tarde, p. 136]
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