Citação
«Matamos o tempo; o tempo nos enterra.»
[Machado de Assis]
São as nossas paixões que esboçam os nossos livros, e o intervalo de repouso entre elas que os escreve. (Marcel Proust)
O Sono Das Águas
«Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.
Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d'água,
nos grotões fundos
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem
e adormece.
Até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono...»
[Guimarães Rosa - Poeta Brasileiro (1908-1967)]
Tal como para a música, é necessário educar o ouvido para as palavras.
Maria Oliveira
Shoko Asahara, fundador da antiga seita Verdade Suprema, foi condenado à morte pelo tribunal de Tóquio. Foi ele o culpado do ataque terrorista perpetrado com gás Sarin no metro da capital japonesa em 1995. Uma morte não abafa centenas de outras mortes, mas as famílias das vítimas podem sentir um certo travo de justiça depois de passarem por um momento de grande dor. É sempre discutível falar sobre a pena de morte, há muitas teorias sobre o assunto. Há quem a defenda, há quem a repudie. Neste caso, a justiça, seja ela qual for, só peca por tardia. Nove anos depois é muito tempo...
UM DIA NÃO MUITO LONGE NÃO MUITO PERTO
«Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?»
[Ruy Belo]
Há muito que não entrava ali, mas sempre que lá vou há um misto de saudade e de nostalgia como se passasse muito tempo desde o meu último dia. Um homem entra numa casa que conhecia tão bem como a ponta dos dedos e vê que tudo mudou, que alguém mudou a disposição física das coisas com a facilidade de quem altera um penteado. Sente-se que tudo aquilo já não é nosso e tudo o que aquilo era só existe dentro de nós, na nossa memória. Isso sim, ficará para todo o sempre imune a qualquer mudança. É nosso. São recordações nossas. Mas há um desejo enorme de tudo aquilo voltar a ser nosso como sempre foi, há um desejo enorme de voltar a pisar aquele chão, sentir aquele cheiro, olhar em volta e ver que a vista só pára na próxima parede. Há sítios enormes que vivem dentro de nós. Aquele é um deles.
UMA MÚSICA EM COMUM...
«No lugar a que chamam alma...
entre o rio da memória e os campos do presente,
crescem flores, com rostos de nomes amados...
Desejos sonhados...
E é eterno o sabor do som dos sorrisos...
O que ali se aninhou poderá sempre durar.
Então, molho os pés naquelas águas,
colho flores, calo todas as aves.
Com as ondas que faço, reavivo os mares.
Com o ruído de pensar em ti, ponho em alvoroço as mágoas.
O melhor é deixar em sossego a alma,
deixá-la no seu canto (ou pranto?), na sua aparente calma.
E o meu olhar não esquecerá...
que temos uma música em comum...
Aquela que nos fez sentir um...»
[Nina - 14/1/2004]
José Maria Martins, advogado de Bibi, defendeu na SIC a aplicação do regime de testemunhas ao seu cliente, um dos arguidos do processo Casa Pia. A ideia é permitir que Carlos Silvino possa viver no estrangeiro, com uma nova identidade, depois de ter colaborado com a justiça para desvendar o maior escândalo da sociedade portuguesa. Que mais pode ele querer? Sim, porque o arguido até se dá ao luxo de chantagear as autoridades. O próximo passo seria uma pensão diária, férias pagas, um carro com motorista e uma mansão de luxo... Haja vergonha.
A comissão federal sobre os atentados de 11 de Setembro está a tentar perceber por que motivo a informação veiculada por um dos pilotos suicidas foi ignorada pelas autoridades norte-americanas. Em 1999, dois anos antes do dia mais terrível deste século, a CIA tinha a informação de que uma rede terrorista operava em Hamburgo, na Alemanha, onde preparava algo que podia mudar a história do Mundo. Nada foi feito. Porquê? É isso que se tenta entender. Um dos problemas do Homem é rebuscar em demasia o passado e não abrir os olhos para o presente imediato. Só assim pode evitar uma nova catástrofe. Infelizmente, ela irá acontecer. Mais cedo, ou mais tarde.
Desde menina que conheço este poema.
Meu pai declamava-o com mestria.
TREM DE FERRO
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
[Manuel Bandeira]
Pela segunda vez evoco aqui o nome do grande poeta e cantor, Zeca Afonso, homem de um pensamento largo como o horizonte.
Uma vida permanente em luta pela liberdade.
Ontem, passaram dezassete anos sobre o seu desaparecimento físico. Apenas físico.
«Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também»
[Zeca Afonso]
Andrew Marshall, conselheiro do Pentágono, encomendou um relatório cuja conclusão é muito simples: as alterações climáticas do planeta são uma ameaça mais grave do que o terrorismo. Porquê? Simples: levam à anarquia e a uma guerra nuclear, devido à escassez de alimentos, de água e de recursos energéticos. Daqui a 20 anos, por exemplo, há cidades que podem estar submersas por causa do aquecimento solar nos pólos e a consequente subida do nível do mar. Osama Bin Laden não é a maior ameaça à humanidade. O maior perigo somos nós, nós todos.
PS. Este estudo foi censurado pelo Pentágono, segundo notícia o jornal inglês The Observer.
Ainda que Mal...
«Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.»
[Carlos Drummond de Andrade]
E tudo era possível
Na minha juventude antes de ter saído
de casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
rolo das manhãs punha-me a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quanto foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder de uma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
[Ruy Belo]
Em 2050 os portugueses vão viver em média mais cinco anos, mas seremos menos um milhão do que somos hoje, segundo um relatório do Conselho da Europa. Ou seja, a esperança de vida será maior, mas seremos bem menos neste nosso cantinho. Números que são fruto da conjuntura actual: temos a vida penhorada pelos bancos, não se pode arriscar um milímetro e ter filhos é um processo que implica despesas acrescidas. Seremos felizes?
No Bisturi pode ler-se uma boa reflexão sobre a terceira idade e as relações humanas. Acho que a vida é feita de ciclos e a recta final da nossa existência é uma espécie de regressão à infância. Os idosos são como as crianças: precisam de atenção, carinho e de muito amor. Às vezes, têm os mesmos medos dos petizes, as mesmas angústias, as mesmas ilusões e sentem ciúmes disto e daquilo. Mas nós não temos capacidade para os entender, porque vivemos no sonho de que nunca iremos ficar velhos. Puro engano.
Uma obra notável de Milan Kundera, um livro recheado de dúvidas e assente em respostas filosóficas como se a vida fosse um bailado de interrogações fortes e de mudanças bruscas. O percurso de três personagens - Tomas, Tereza e Sabina - interrompido pela invasão soviética a Praga, em 1968; um conjunto de marcas profundas por causa de um regime que se instala numa sociedade habituada a outros costumes; uma tentativa de fuga em busca da liberdade e da própria felicidade.
Um livro para reflectir. Não é a Checoslováquia que se transforma em vítima da invasão comunista, mas as pessoas que se sentem mutiladas pela própria presença inimiga. A vida de Tomas e de Tereza sofre constantes recuos, mas o amor entre ambos vai-se reacendendo à medida que vão fugindo para sítios cada vez mais pequenos - da cidade para o campo - e perdendo o estatuto social e a consequente reputação profissional, mas mantendo de pé a dignidade humana e a crença nos valores tradicionais.
Pelo meio, as relações e as paixões humanas colocadas numa fogueira de dúvidas, bem ao estilo de Kundera que busca respostas e explicações para tudo. O afastamento e a mudança são dois temas presentes, mas abordados em campos opostos. Enquanto Tomas e Tereza fogem para sítios cada vez mais pequenos, sempre em queda social mas de braços dados com a felicidade e com o país que aprenderam a amar, Sabina escapa para países democratas enormes, primeiro França, depois os Estados Unidos, procurando esquecer as suas origens. Todos negam os princípios comunistas numa combinação perfeita entre a morte e o contentamento. Uma obra a ler.
Arnold Schwarzenegger, actor de cinema que se transformou em Governador da Califórnia (isto só seria possível nos Estados Unidos), ordenou que o procurador-geral de Estado impeça, legalmente, a Câmara de S. Francisco de celebrar casamentos entre homossexuais. E porquê? Schwarzenegger explica, dizendo que o matrimónio entre seres do mesmo sexo é um «risco iminente para a ordem civil». Sim, porque eles geram violência, andam a roubar lojas nas horas vagas, raptam criancinhas e são os maiores marginais da sociedade americana. Give me a break.
«O coração é uma riqueza que não se vende nem se compra. Presenteia-se.»
[Gustave Flaubert]
A comunicação social e os opinion makers deste país continuam entretidos com os jogos de poder entre os candidatos à presidência da república. Nos últimos dias, alguns escritos destilam veneno e determinados discursos ultrapassam os limites do bom-senso. Santana Lopes e Cavaco Silva estão no epicentro de todas as conversas e vêm à tona os habituais ódios de estimação. Mas, afinal, as eleições são quando? Em 2006. Quando??? Sim, em 2006. OK, era só para confirmar...
Kofi Annan, secretário-geral das Nações Unidas, afastou a hipótese de haver eleições livres no Iraque antes de 30 de Junho. Oficialmente - embora na prática não seja assim -, a guerra terminou em Maio do ano passado, mas o clima de paz está longe de ser o ideal. Os saques continuam, o povo comete todas as loucuras por não saber o que é viver em liberdade e o ódio em relação ao ocidente ainda está bem vincado em determinados grupos da sociedade. É um problema grave, porque os americanos ficaram de transferir a soberania do país até 30 de Junho. Ao contrário do que Bush pensou, instaurar uma democracia não é chegar ao terreno, varrer aqueles gajos todos, espetar uma bandeira e dizer agora vocês são livres.
É uma boa notícia. Ou melhor, é uma meia boa notícia para os fumadores. Um grupo de investigadores do Centro Médico da Universidade de Baylor, em Dallas, no Texas, descobriu uma vacina experimental para eliminar o cancro no pulmão. Em alguns doentes, o desenvolvimento da doença acabou por ser retardado quando a milagrosa GVAX foi aplicada nas veias. Em outros casos, a doença foi eliminada. É uma boa notícia? Não, não é. Só daqui a muitos anos, a dita vacina chegará ao mercado para ser comercializada. Por enquanto (e sempre), o melhor método continua a ser o mais tradicional de todos: deixar de fumar.
O ex-presidente do Benfica esteve escassos segundos em liberdade preventiva. Saiu do estabelecimento prisional e foi convidado a entrar pelos agentes da Polícia Judiciária. Se calhar, posso estar errado no calendário, mas creio que as brincadeiras de Carnaval são só para a semana, não é?
Há muito que ando para escrever sobre isto, sobre a tendência do Homem em se autodestruir porque repulsa e rejeita tudo o que é diferente. É uma característica humana, abominar a diferença, a disparidade que existe entre duas culturas completamente opostas e muitas vezes envenenadas por questões religiosas. Entre muitos factores, o conflito no Médio Oriente explica-se pelo choque da diferença entre dois campos extremos, cuja passagem do tempo tem agudizado a tesão existente.
Grande parte dos conflitos armados mais recentes resulta da tal característica inata do ser humano em rejeitar o seu semelhante, precisamente pela tal dificuldade em engolir tudo o que é diferente. Em parte, foi o que aconteceu na II Guerra Mundial, em que o ódio de Hitler em relação aos judeus explica, em parte, a batalha europeia e está na base das maiores chacinas da história da humanidade. Mas este exemplo de nada serviu. Outros exemplos, aliás, de nada serviram há um bom par de séculos.
Estou em crer que se o Homem não se odiasse tanto a ele mesmo, hoje em dia estaríamos mais avançados do ponto de vista tecnológico. E não só. Porque o centro da questão está em aceitar uma cultura diferente. A primeira tendência é negar e rejeitar a outras culturas porque se estabelece sempre como elo de comparação o que é nosso e, por ser nosso, será sempre superior. Este foi um dos problemas do colonialismo no admirável mundo novo durante o período pós-descobrimentos.
É aqui onde quero chegar. Quando os espanhóis chegaram à América Central e à América do Sul destruíram por completo os valores de três povos: Maias, Incas e Azetecas. Em determinados aspectos, alguns deles tinham conhecimentos superiores aos europeus. Os Maias, por exemplo, tinham uma tendência inata para a escultura e para a engenharia, como comprovam as pirâmides, e possuíam o calendário mais evoluído dos povos antigos; os Incas e os Azetecas dominavam todas as questões ligadas à astronomia. Se a chacina não fosse feita, hoje estaríamos uns séculos à frente. E seríamos mais e melhores, porque, infelizmente, 70 milhões de indivíduos foram exterminados nesta brincadeira do eu-sou-melhor-do-que-tu.
Em Espanha, o anúncio de tréguas por parte da ETA, na Catalunha, está a provocar uma avalancha de confusões entre os agentes do Governo como há muito não se via. Pensa-se que a mensagem tenha segundas intenções ou que pode representar uma ameaça às outras províncias. Foi um anúncio de tréguas. Mas está a ter o impacto de um atentado bombista. Por muito que a ETA tente (ou dê a entender), estará sempre vocacionada a lançar o pânico. Dê por onde der...
...os grilos ouvem pelas patas. Não, não ouvem pelos ouvidos, mas pelas patas. Acho que há muitas pessoas que não se importariam de ser grilos quando as circunstâncias assim o exigem. E, já agora, as cobras? Ouvem pela língua. É verdade, pela língua. Mas aqui, duvido que alguém prefira a metamorfose.
Je ne sais pas qui tu peux être
Je ne sais pas qui tu espères
Je cherche toujours à te connaître
E ton silence trouble mon silence
Je ne sais pas d’où vient le mensonge
Est-ce que de ta voix qui se tait
Les mondes où malgré moi je plonge
Sont comme un tunnel qui m’effraie
De ta distance à la mienne
On se perd bien trop souvent
Et chercher à te comprendre
C’est courir après le vent
Je ne sais pas pourquoi je reste
Dans une mer où je me noie
Je ne sais pas pourquoi je reste
Dans un air qui m’étouffera
Tu es le sang de ma blessure
Tu es un feu de ma brûlure
Tu es ma question sans réponse
Mon cri muet et mon silence.
Passei uma hora ao telefone, esta tarde, com uma amiga de uma amiga.
Já a conhecia, vagamente, mais através do meu imaginário do que do plano autêntico.
A minha amiga já me tinha falado dela algumas vezes.
Ela, a amiga da minha amiga, reside em Madrid. Vida atarefada; preocupações do dia-a-dia; questões de tempos passados que se reflectem no presente, eu sei lá… um rol de coisas.
Vidas de mulheres maduras são, quase sempre, recheadas até ao âmago.
Falou de tudo o que pode caber no espaço de uma hora de conversa.
O que sabe de mim terá chegado até ela por interposta pessoa.
O único factor mais palpável de conhecimento, certamente intuitivo, poderá ter sido fundamentado no correio electrónico, seleccionado, que regularmente lhe envio com o fito de lhe aligeirar os dias.
A evidente naturalidade com que conversou comigo, por iniciativa própria, e a total franqueza que revelou na sua conversa não me surpreenderam, muito pelo contrário. Mulheres maduras assumem-se!
Almas afins. Há pessoas que se comunicam com tanta facilidade como se tivessem nascido juntas no mesmo berço.
É prazenteiro verificar como seres distantes se podem tocar, num instante, e com tal facilidade.
E porque cada dia traz uma novidade, hoje ganhei uma amiga mais sólida.
Obrigada, Rita.
Ao ler um texto no Memorial do Convento sobre a efeméride da morte de Humberto Delgado, cheguei à conclusão do quanto o nosso país tem sido injusto perante um homem que marcou o passado recente de uma nação. Nasci depois do 25 de Abril de 1974, mas a figura daquele general sempre exerceu um enorme fascínio sobre a minha pessoa. Ele foi a génese, a semente da revolução dos cravos, ao ter a ousadia de abrir um precedente num regime marcado pela repressão do medo.
A campanha presidencial que liderou em 1958 possibilitou o despertar das mentes, a inversão do caminho inicialmente traçado sob a marca de algumas palavras novas: liberdade e ousadia. Principalmente estas, depois de ter estado nos Estados Unidos, ao serviço da NATO, onde tomou o conhecimento de novos ideais democratas e que podiam ser a pedrada no charco do Estado Novo. Prometeu demitir Salazar, desencadeou um frenesim tremendo nas massas populares e os seus comícios eram a marca visível de um povo descontente e amordaçado.
Aos poucos, foi assinando a sua sentença de morte. As eleições foram falseadas, perdeu-as ingloriamente, mas a maior vitória tinha sido alcançada durante a campanha eleitoral com o tal abanão das mentes, ao permitir o despertar das consciências. A partir daí, o país nunca mais foi o mesmo e a década de 60 acaba por ser marcada por constantes revoluções académicas e manifestações abafadas pela máquina da censura. Se Humberto Delgado não tivesse a coragem de ser o primeiro a dar o passo em frente, a revolução de Abril aconteceria anos mais tarde. Não tenho dúvidas.
Mas os homens de prestígio, mentores à distância dos cravos (alguns deles chegaram a exercer altos cargos políticos em tempos bem próximos), nunca tiveram a consciência do quanto o General Sem Medo foi importante na génese do processo democrático português. Há uns anos, Rosa Casaco, um dos cabecilhas do assassinato do general e procurado pelas autoridades do nosso país, deu-se ao luxo de dar uma entrevista ao Expresso, em Lisboa, passando impune pelo mal que fez. Isto é um desabafo. Outro: Delgado merecia, no mínimo, um feriado nacional.
O Greenpeace, conhecida organização ambientalista, lançou o alerta: encher balões de ar com a boca é altamente perigoso por causa de uma substância cancerígena presente na borracha. A nitrosamina é responsável por alguns tumores no aparelho digestivo e pode ser inimiga dos adultos e das crianças. Por isso, é aconselhável utilizar bombas manuais para o efeito desejado. Da maneira que isto está, ficamos cada vez mais privados das coisas simples. Como encher um inofensivo balão...
A TVI diz que o número de casamentos de divorciados está a aumentar. Nada de novo, pois não? Mas a questão não é essa, vou explicar melhor: um casal divorcia-se, mas anos depois sente que o amor entre eles volta a ser intenso, aproxima-se e resolve casar de novo. O número deste tipo de recasamentos (inventei agora a palavra) está a aumentar no nosso país. Ainda dizem que não somos um povo original...
Os casais homossexuais residentes em Navarra, em Espanha, já podem adoptar crianças sem violar a lei. Estão autorizados pelo parlamento regional, depois da matéria ter sido julgada em Junho de 2000 por um Tribunal de Direito Civil e aprovada esta terça-feira pelos partidos políticos locais. Foi dado o primeiro passo, agora outras regiões (Aragão e o País Basco já estão na calha) darão seguimento ao projecto e depois outros países irão dar os passos seguintes para completar esta caminhada sem destino. Resta saber - esta é a questão principal - quais serão as consequências desta ousadia. Primeiro efeito: as manifestações vão disparar em flecha.
Quatro mil padres norte-americanos foram considerados culpados de abusos sexuais a menores entre 1950 e 2002, segundo noticiou a RTP, citando a cadeia televisiva CNN. Dito de outra forma: 4% dos sacerdotes cometeram um crime bárbaro, horroroso e extremamente cobarde. Há alturas em que todas as palavras são poucas em função do peso dos números. Mas que serve para reflectir, serve. Especialmente pelos actos terem sido praticados por quem foram...
Tenho um problema. Ou melhor, o meu computador tem um problema e preciso de ajuda - não se assustem. Sempre que abro o Remoinhos, é impossível visualizar o número de comentários de cada post e, na maior parte do casos, a caixa com os respectivos comentários não abre. Se isto já aconteceu a algum dos nossos leitores, por favor, mande-nos um mail para remoinhos@hotmail.com para percebermos o que se estará a passar.
«Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.»
[Alberto Caeiro]
Os especialistas dizem que a história nunca se repete, mas a os factos dos últimos tempos provam precisamente o contrário. Salvo as devidas proporções (é claro, ninguém é louco para jurar a pés juntos), a perigosa gripe das aves, que faz vítimas atrás de vítimas na Ásia, tem alguns pontos de contacto com a peste negra da Idade Média. Não vos parece?
Mais um exemplo de como o poder económico e os interesses comerciais se fundem ao ponto de assinalar no calendário mais uma data suspeita. A culpa? Não é de S. Valentim. Como dizia o outro, God bless América...
Razão de tanto medo: Jesus foi crucificado numa sexta-feira e na sua última ceia estava rodeado por treze apóstolos. Assim se explica a superstição das míticas sextas-feiras treze, o medo, o azar e a repulsa de muito boa gente.
Mas hoje não tenha receio. Provavelmente, os efeitos azarentos deste episódio esvaneceram-se no tempo - por alguma coisa passaram 2004 anos... Mas, pelo sim e pelo não, cruzes canhoto! (nunca fiando...)
(Não é o que certas pessoas possam estar a pensar). As mãos-que-falam morreram. Já não estão entre nós. Foi uma arte que se perdeu no tempo, que as novas tecnologias precipitaram o fim e o que resta são imagens doces de um passado não muito distante. Aquelas mãos, os gestos certos, os movimentos perfeitos, a rotação lenta da cabeça - tudo combinava em simbiose estética como se o homem estivesse num palco e fosse o centro das atenções de toda a gente. Assim era. Estava em palco. Era um actor. Era um artista. O sinaleiro, essa figura mitológica que inspirou centenas e centenas de miúdos.
Há dias acordei a pensar nos sinaleiros. Lembro-me das luvas brancas que escondiam aquela mímica tão peculiar: um gesto para parar o trânsito de um lado, outro para fazer avançar os carros em sentido contrário e ainda um outro movimento (quase sempre rápido) para mandar seguir os transeuntes. Tudo tão esquematizado como se fosse um artista de circo, um bailarino russo, uma marioneta no país-do-faz-de-conta. Estas mãos-que-falam desapareceram - tudo na vida desaparece por um motivo - e foram substituídas pelos semáforos que pecam por defeito. Levam-nos ao desespero. Quem está no trânsito nunca vê o show do homem do capacete branco...
PS. Este post surgiu por estarmos em alturas do Carnaval. Espero que não apareçam criancinhas vestidas de semáforo...
«Dantes, silente vale sorria.
Era um vale onde ninguém vivia.
Haviam todos partido em guerra,
deixando os doces olhos de estrelas
nocturnamente velarem pelas
flores formosas daquela terra,
em cujos braços, dia após dia,
a luz vermelha do sol dormia.
Não há viajante que, hoje, não fale
sobre a inquietude do triste vale.
Lá, agora, tudo é só movimento,
excepto os ares, pesando, adustos,
nas soledades de encantamento.
Ah! nenhum vento move os arbustos
que vibram como as ondas geladas
em torno às Hébridas enevoadas!
Ah! nenhum vento essas nuvens guia,
murmurejantes, nos céus insanos,
e que se arrastam, por todo o dia,
sobre violetas, que alguém diria
serem milhares de olhos humanos,
e sobre lírios, de haste pendida,
chorando em tumba desconhecida,
tremendo; e sempre caem, com o perfume,
gotas de orvalho do flóreo cume,
chorando; e desce, nas hastes frias,
um pranto eterno de pedrarias.»
[Edgar Allan Poe]
Qualquer um se interroga sobre o verdadeiro papel da blogosfera. Sempre fui um defensor de que os blogs dão ao público aquilo que mais ninguém pode dar no que respeita à opinião. Com este espaço qualquer pessoa, o simples viajante de autocarro, por exemplo, pode emitir e publicar a sua opinião como se fosse um articulista consagrado de um jornal de referência. Este é um dos caminhos que me agrada. O outro é poder treinar e desenvolver a escrita à medida que dou a conhecer a minha visão sobre o mundo. Não importa os ângulos de abordagem, o que conta é a necessidade de fugir ao vazio de permanecer calado.
Mas o que no início era um mero exercício lúdico transformou-se numa penosa obrigação. O número de leitores vai aumentando, o pico de interesse cresce e os autores dos blogs sentem que o único caminho é escrever mais, melhor e de preferência sobre todos os temas da actualidade. Isto provoca uma certa saturação, às vezes algum desânimo porque o feedback do público é quase nulo e sente-se que se vive única e exclusivamente para o blog como se fosse um sacrifício ou uma rotina incontornável. A qualidade distancia-se da quantidade e o cansaço belisca a imaginação e a própria subversão.
Por isso, não é de estranhar que os blogs mais antigos (o Remoinhos incluído, claro) tenham entrado num processo de derrapagem em que as curvas são mais descendentes do que ascendentes. Basta fazer uma viagem e ler alguns textos para se chegar a esta conclusão. As pessoas estão cansadas. As pessoas que escrevem, as pessoas que lêem. Creio que a novidade do fenómeno já passou e aquilo que era um simples e interessante brinquedo tornou-se numa ferramenta no meio de tantas outras. Daí que alguns blogs tenham de fechar as portas. Este, por exemplo, teve de dizer adeus. Outros já o tinham feito antes.
Um grande amigo meu costuma dizer que os blogs são piores do que os animais de estimação. Temos de os alimentar todos os dias. Temos de escrever quase sempre, mesmo que não haja assunto, mesmo que não haja tempo, mesmo que não haja leitores. Mas nós vamos continuar. Eu e a Maria vamos continuar como até aqui. Até já comprámos ração para o nosso animalzinho querido, não é amiga?
"O homem nasce para viver e não para se preparar para viver."
(Boris Pasternak, autor, novelista, poeta e tradutor russo.)
… deixei-a com os olhos rasos de lágrimas…
… e ela disse-me: você está tão revoltada, hoje. Olhei para dentro de mim e vi como estava desistente e embrutecida. Ainda lhe respondi: tem toda a razão. O mundo está contra mim; estou de mal com o mundo. Mas eu não sou assim sempre, você sabe disso. Fiz-lhe uma festa na face e sorri. Ela não conhecia este meu avesso e deixou soltar a sua surpresa por isso. Sem lhe pedir desculpa abri ainda mais o meu sorriso. No meu espírito ficou gravado aquele rosto com olhos rasos de lágrimas numa face enrubescida. A aflição foi crescendo em mim. Meia hora depois telefonei-lhe para lhe dizer: desculpe-me se fui incorrecta. Demasiado tarde. Ela já não estava lá. Culpa não resolvida pesa a dobrar. Não me redimi e não sei quando volto a vê-la.
Perdi a vontade de te querer. Por quanto tempo? Não muito! És demasiado belo para te renunciar.
Maria Oliveira
COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ
«O que escrevo exige a minha morte. Confundi a minha vida com o que escrevia. A ponto de deixar de saber o que era uma coisa, o que era a outra. Confundi-me demasiado a mim próprio. Não só escrevia o que me acontecia, como me acontecia o que escrevia. É verdade, embora pareça mentira. Sim, a verdade e a mistificação começaram a tornar-se pouco a pouco indistintas, como um sim e um não. Ignorava que não era um jogo, antes pelo contrário. No princípio até brincava com isso. Só depois vieram os primeiros arrepios e o susto. Se soubesse não me tinha metido nisto. Espero ainda ir a tempo. Conhecia-me tão pouco, tão suave a ilusão. O que escrevo exige a minha morte. É uma frase que me vem à cabeça insistentemente. Tento afastá-la e ela volta, não me larga.
Foi contigo que comecei, é contigo que quero acabar. Parece justo assim. Pelo menos um resto de justiça. Como se fosse preciso. E tudo começou por ser uma simples história, uma história que escrevíamos os dois à volta de uma mesa, numa mesma máquina de escrever. Já era mentira, embora tão inofensiva que mais parecia uma brincadeira de crianças. Mas não era. Porque qualquer história se vive sozinho e quanto mais se escreve mais vai crescendo em volta a solidão.»
(…)
(Pedro Paixão in Fotografia de Grupo – Antologia de Contos)
A INVENÇÃO DO AMOR
«Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas
janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de apa-
relhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi lar da
nossa esperança e fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa noite de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia
quotidiana»
(…)
(Daniel Filipe)
«Vivre ce n’est pas sérieux, ce n’est pas grave. C’est une aventure, c’est presque un jeu. Il faut fuir la gravité des imbéciles…»
(Jacques Brel)
Barbaridade: George W. Bush quebrou o silêncio. Ao seu estilo de cowboy sempre com o coldre carregado para o que der e vier. Pronto a disparar, nem que seja uma simples barbaridade. O presidente americano da era moderna que menos entrevistas concede aos media, que menos conferências de imprensa oferece à comunicação social, quebrou a tendência de homem silencioso e algo misterioso para uma conversa com o sempre mediático Tim Russert, da NBC. Ideia a reter: «Sou um Presidente de guerra. Tomo decisões aqui na Sala Oval [da Casa Branca] com a guerra em mente. Gostava que isso não fosse verdade, mas é. O povo americano precisa de saber que tem um Presidente que vê o mundo como ele é. E eu vejo perigos que existem, e é importante para nós lidar com eles.»
No meio de quatro paredes, a guerra é como se fosse um jogo de computador. É assim que ele vê o mundo...
… pedaços de mim…
Minha querida
Deixo este mail ainda hoje para te presentear pela manhã.
Podia guardá-lo em mim para to dizer ao acordar, mas despertaste a minha vontade de voltar a querer e à urgência do amor e, por isso, não me contive. Amanhã inventarei mais flores para ti.
Queria ser noite e pousar de mansinho nas tuas pálpebras, fechar-te os olhos e fazer-te dormir.
Queria ser sonho e entrar no teu sono e povoar-te de mim, até desenhar na tua boca o sorriso do amor.
Queria ser manhã e acordar-te com pétalas de flores sobre os teus cabelos.
Queria ser Sol e aquecer-te a pele, o sangue e a alma.
Queria ser vento e soprar poeiras doiradas que te pusessem nos olhos o brilho da felicidade.
Queria ser mar e envolver-te num banho de espuma, de imensidão, de ondas quebrando na praia do teu corpo.
Queria ser entardecer e esperar o teu regresso a casa com o banho quente e os sais e o meu sorriso de saudade.
Sou apenas um deserto com pequeninas flores efémeras nascidas dos salpicos da tua chuva.
Teu V.
(Junho/2001)
Trocadilhos: O semanário «Tal & Qual» escreveu na primeira página que Jorge Gabriel «é o novo senhor televisão». Um rótulo um tanto ou quanto infeliz nos dias que correm...
SAUDADE
"...Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não se foi embora, mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos amachuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido..."
(Pablo Neruda)
Não...
Desilusões, não. As ilusões não existem.
Decepções, muitas vezes. As expectativas nem sempre se concretizam.
Que lição?: A morte de Fehér apaziguou o futebol português por breves instantes. Na dor, na angústia e na injustiça da perda, os dirigentes uniram as mãos, os adeptos despiram as camisolas e todas as horas serviram para reflectir sobre a inutilidade de um resultado dentro do campo. O corpo do malogrado jogador do Benfica já repousa, embalado pelo frio de um desaparecimento trágico, enquanto as lembranças daquilo que representou o seu próprio fim desaparecem no espírito de cada um. O Sporting-F.C. Porto ficou marcado por declarações infelizes dos treinadores e dos dirigentes; o V. Guimarães-Boavista, precisamente no mesmo terreno de jogo onde sucumbiu Fehér, foi protagonista das mais bárbaras agressões entre os jogadores das duas equipas. Que lição nos deu a morte de Fehér? Que o futebol é o espelho do nosso quotidiano. Vivemos no mundo da plena hipocrisia.
Perigos reais...: A morte de 251 peregrinos numa mesquita perto de Meca reforça bem o poder da fé árabe, um dos maiores perigos do mundo ocidental. É pena que homens como Bush não tenham a percepção do quanto brincam com o fogo.
Antes de Amar-te
«... Antes de amar-te, amor,
nada era meu
Vacilei pelas ruas e pelas coisas
Nada contava nem tinha nome
O mundo era do ar que esperava
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo.
Caído, abandonado e decaído.
Tudo era inaliavelmente alheio.
Tudo era dos outros e de ninguém.
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono...»
(Pablo Neruda)